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Proposta pede transformação de escolas brasileiras

Pesquisadoras da UFSCar contam como quatro escolas brasileiras adaptaram conceito espanhol e se tornaram exemplos de convívio respeitoso e qualidade de educação

Ensino: pesquisadora quer transformar escolar em “Comunidades de Aprendizagem" ( Marcos Santos/USP Imagens)

Ensino: pesquisadora quer transformar escolar em “Comunidades de Aprendizagem" ( Marcos Santos/USP Imagens)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2012 às 10h07.

São Paulo - Uma pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) trouxe da Espanha para o Brasil, há 10 anos, o conceito de “Comunidades de Aprendizagem”, uma proposta de transformação das escolas que tem o objetivo de garantir a máxima aprendizagem, a convivência plena na diversidade e a participação da comunidade em todos os processos e decisões.

Desde então, a professora Roseli Rodrigues de Mello, do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFSCar, dedicou-se a trabalhar na adaptação da proposta à realidade brasileira – esforço que resultou na transformação de quatro escolas de São Carlos (SP) em comunidades de aprendizagem .

As bases conceituais da proposta – assim como a experiência de adaptação ao Brasil e a implantação do programa na cidade do interior paulista – estão detalhadas no livro Comunidades de Aprendizagem: outra escola é possível , publicado com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Mello escreveu a obra em coautoria com Fabiana Marini Braga e Vanessa Gabassa, duas de suas orientandas que tiveram participação no processo. O trabalho de Mello com a proposta de comunidades de aprendizagem começou em 2001, quando obteve auxílio da Fapesp para realizar pós-doutorado no Centro Especial de Investigação em Teorias e Práticas Superadoras de Desigualdades (CREA), da Universidade de Barcelona, na Espanha.

“Fui a Barcelona para estudar esse programa que aproxima a escola das famílias dos estudantes e da comunidade, abrindo-se para uma gestão compartilhada e dialogada com o entorno, a fim de efetivar a aprendizagem de conteúdos de alta qualidade para todos os estudantes da rede pública. A proposta une o conceito de aprendizagem dialógica à noção de diversidade cultural como riqueza humana”, disse Mello.


De volta ao Brasil em 2002, a professora difundiu a proposta junto à Secretaria Municipal de Educação de São Carlos, que encampou a ideia. A partir daí, teve início o processo de implantação da transformação em escolas do município.

“Comecei a orientar mestrados e doutorados, com Bolsas da FAPESP, com projetos voltados para investigar a capacidade de adaptação da proposta. Era preciso saber se seria possível implantar as comunidades de aprendizagem em um formato idêntico ao modelo espanhol, ou se havia especificidades locais que precisavam ser consideradas”, declarou Mello.

Braga, que foi orientada por Mello no mestrado e doutorado, fez uma leitura comparativa do contexto da legislação na Espanha e no Brasil. “A comparação teve o objetivo de identificar se a legislação brasileira favoreceria ou atrapalharia a transformação das escolas”, contou Mello.

A partir de então, entre 2007 e 2009, Mello coordenou o projeto “Comunidades de Aprendizagem: aposta na qualidade de aprendizagem, na igualdade de diferenças e na democratização da gestão da escola”, financiado pela FAPESP por meio do Programa de Melhoria do Ensino Público.

Gabassa, nesse momento, terminava seu mestrado sobre comunidades de aprendizagem, sob orientação de Mello, e iniciava seu doutorado sobre o impacto da aprendizagem na sala de aula.

A obra, segundo Mello, é fruto de 10 anos de pesquisas financiadas pela FAPESP. “O livro conta toda essa trajetória e descreve o que desenvolvemos na pesquisa e no trabalho de implantação dessas Comunidades de Aprendizagem no Brasil”, disse.

Atualmente, em São Carlos três escolas municipais de ensino fundamental e uma escola estadual de ensino médio funcionam como Comunidades de Aprendizagem, segundo Mello. "O programa de Comunidades de Aprendizagem prevê a transformação das escolas para garantir dois objetivos fundamentais. O primeiro é a aprendizagem dos conteúdos escolares com a máxima qualidade para todos os estudantes da escola. O segundo é efetivar na escola o que chamamos de convivência respeitosa entre as muitas culturas e formas de ser dos alunos, professores e comunidade”, explicou.


A fim de garantir a aprendizagem máxima para todos os alunos – que historicamente não ocorre nas escolas brasileiras – o programa prevê trazer a comunidade para dentro da escola e nunca afastar o aluno da sala de aula. “Chamamos o pessoal da comunidade para participar das discussões, levantar problemas e considerar perspectivas de solução junto com o conselho da escola, intensificando sua interação com os estudantes”, afirmou.

A transformação, segundo Mello, requer todo um processo de estudo com base na sociologia, na psicologia, nas teorias das organizações e nas teorias da aprendizagem, que indicam caminhos mais seguros para viabilizar a interação da escola com a comunidade do entorno.

“A escola não tem esse histórico, por isso não basta estabelecer diretrizes abstratas. É preciso estabelecer uma forma consistente de encaminhar as mudanças, caso contrário a transformação poderia gerar ainda mais conflitos. Por isso nossa proposta de Comunidades de Aprendizagem foi elaborada com um grupo que conta com 120 pesquisadores de diferentes áreas”, declarou Mello.

Na Espanha, de acordo com Mello, 150 escolas já se tornaram Comunidades de Aprendizagem. “Uma pesquisa abrangente feita em 14 países da União Europeia para localizar as práticas educacionais bem-sucedidas no continente apontou as Comunidades de Aprendizagem como exemplo de convívio respeitoso e qualidade de educação”, disse a professora.

O primeiro capítulo do livro apresenta as Comunidades de Aprendizagem em seu contexto atual, em âmbito internacional, e quanto às implicações e especificidades do Brasil, que colocam às escolas o desafio de se transformar. O segundo capítulo detalha o conceito de aprendizagem dialógica, que é a base teórico-metodológica da proposta.

O terceiro capítulo trata das fases de transformação das escolas. O quarto apresenta o funcionamento dos processos de uma Comunidade de Aprendizagem, com base em experiências pesquisadas pelas autoras nos dois países. O quinto capítulo faz um balanço dos elementos que favorecem ou se tornam obstáculos, no contexto brasileiro, para a transformação das escolas.

Comunidades de Aprendizagem: outra escola é possível
Autoras: Roseli Rodrigues de Mello, Fabiana Marini Braga e Vanessa Gabassa
Lançamento: 2012
Preço: R$ 28
Páginas: 176
Mais informações: http://www.editora.ufscar.br

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