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Propinas de Odebrecht e Gutierrez ultrapassam R$ 700 milhões

A Polícia Federal estima em R$ 200 milhões o valor das propinas pagas pela Andrade Gutierrez. O valor da Odebrecht é ainda maior: R$ 510 milhões


	Marcelo Odebrecht, CEO da Odebrecht: os investigadores disseram que a denúncia do caso Petrobras deve ser concluída até o final do ano
 (REUTERS/Enrique Castro-Mendivil)

Marcelo Odebrecht, CEO da Odebrecht: os investigadores disseram que a denúncia do caso Petrobras deve ser concluída até o final do ano (REUTERS/Enrique Castro-Mendivil)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2015 às 20h21.

São Paulo -  A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira o presidente da Odebrecht, o influente empresário Marcelo Odebrecht, acusando executivos do maior grupo de construção e engenharia da América Latina de serem protagonistas no esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras.

Em nova fase da operação Lava Jato, 12 pessoas foram detidas em quatro Estados. Entre os presos está também Otávio Marques Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, segunda maior construtora do Brasil. O principal foco da investigação desta vez foram contas no exterior para o pagamento de propina. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que o Ministério Público Federal (MPF) não tem dúvidas de que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez capitaneavam o esquema de corrupção.

O delegado da PF Igor Romário de Paula afirmou que "há indícios bem concretos de que os presidentes (das duas companhias)... tinham o domínio de tudo que acontecia".

Segundo o delegado, os líderes das duas construtoras em algum momento "tiveram contato ou participaram de negociações que resultaram em atos que levaram à formação de cartel, direcionamentos de licitações e mesmo à destinação de recursos para pagamento de corrupção". Além de depoimentos, Romário de Paula disse que há documentos comprovando isso.

A prisão de Marcelo Odebrecht, 46, empresário próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode colocar o escândalo de corrupção mais próximo do coração do PT, já enfraquecido justamente pela Lava Jato.

"Há uma grande conexão entre Lula e Marcelo Odebrecht e nós vemos o possível indiciamento (do presidente da Odebrecht) como um grande risco", disse o analista Cameron Combs, do Eurasia Group.

A presidente Dilma Rousseff, que era presidente do Conselho de Administração da Petrobras durante o governo Lula, tem negado conhecimento da corrupção na estatal e apoiado a investigação. Nem Dilma nem Lula tiveram seus nomes relacionados ao caso.

No mês passado, o MPF abriu uma investigação separada sobre se Lula usou de forma indevida suas conexões para beneficiar a Odebrecht, afirmando que o ex-presidente viajou com frequência ao exterior a partir de 2011, depois do fim do seu segundo mandato, com as despesas pagas pela construtora.

O Instituto Lula negou qualquer comportamento ilegal na ocasião e se recusou a fazer comentários nesta sexta-feira.

Marcelo Odebrecht é da terceira geração da família que controla a companhia privada e tem sido o condutor da expansão do grupo pela América Latina, África e Estados Unidos. A empresa está envolvida em grandes projetos em Miami e Cuba.

Em nota à imprensa, a Odebrecht disse entender que “estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações”.

A advogada Dora Cavalcanti disse que entrará nos próximos dias com pedido de habeas corpus para libertar Marcelo Odebrecht e outros executivos do grupo que foram presos.

Segundo comunicado do grupo aos funcionários obtido pela Reuters, o executivo Newton de Souza cuidará da holding Odebrecht na ausência de Marcelo Odebrecht. Paulo Oliveira Lacerda de Melo coordenará os cinco negócios de Engenharia e Construção, de acordo com o documento assinado pelo presidente do Conselho de Administração, Emílio Odebrecht.

Os preços dos títulos de dívida da Odebrecht no exterior caíram nesta sexta-feira e as ações da Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht, recuaram mais de 10 por cento na Bovespa.

A Andrade Gutierrez afirmou não ter qualquer relação com os fatos investigados pela Lava Jato e disse estar prestando apoio a seus executivos e colaborando com as investigações.

Diversos executivos de grandes construtoras, bem como ex-diretores da Petrobras e operadores do esquema, já foram presos no âmbito da Lava Jato por participação no esquema de corrupção. O caso envolve ainda políticos e partidos.

Os contratos da Petrobras na mira dos investigadores totalizam 17 bilhões de reais com a Odebrecht e 9 bilhões de reais com a Andrade Gutierrez. Considerando sobrepreço de 3 por cento nos contratos, segundo revelado por delatores, o desvio de dinheiro seria de cerca de 500 milhões de reais no caso dos contratos da petroleira com a Odebrecht e de 270 milhões de reais com a Andrade Gutierrez.

A fase mais recente da Lava Jato complementa a sétima etapa da operação, em novembro de 2014, quando foram detidos executivos de outras sete construtoras, entre elas Camargo Corrêa e UTC.

ESQUEMA SOFISTICADO

Os presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez não foram denunciados e ainda não está claro por quanto tempo ficarão detidos. A prisão de outros importantes executivos de grandes empreiteiras resultaram em meses na carceragem da PF em Curitiba.

Segundo a PF e o MPF, o esquema de pagamento de propina usado pelas duas construtoras era mais sofisticado do que o de outras fornecedoras da Petrobras já denunciadas na Lava Jato.

Os depósitos para pagamento de propina a diretores e gerentes da estatal, sobretudo das áreas de Abastecimento e de Serviços, eram feitos no exterior, principalmente na Suíça, no Panamá e em Mônaco.

"Nas empreiteiras anteriores, os relacionamentos que foram denunciados são com o (doleiro) Alberto Youssef e as empresas de Alberto Youssef, então era um esquema simples e muito fácil de se comprovar, porque é interno em nosso país", disse o procurador Santos Lima.

A PF disse ter localizado empresas offshore que pagaram propina em nome de Odebrecht e Andrade Gutierrez, e que ainda há muitos valores a serem buscados fora do país para ressarcimento.

Há ainda a descoberta de que as duas empreiteiras estariam envolvidas em formação de cartel e fraude de licitação fora da Petrobras, como em contratos da usina nuclear de Angra 3.

No total, a Lava Jato motivou até agora a acusação de mais de 100 pessoas e nomeou dezenas de políticos. O ex-tesoureiro do PT João Vacari Neto está preso e aguarda julgamento.

O escândalo fez com que diversas construtoras fossem bloqueadas de fazer negócios com a Petrobras e economistas dizem que essa situação tem piorado as perspectivas para a economia brasileira dado o peso relevante do setor de óleo e gás no Produto Interno Bruto (PIB).

PRISÕES

Nesta etapa da Lava Jato, foram mobilizados cerca de 220 policiais federais para cumprirem 59 mandados judiciais em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, incluindo nove mandados de condução coercitiva, oito mandados de prisão preventiva e quatro de prisão temporária.

Além de Marcelo Odebrecht, foram presos em caráter preventivo os executivos da empresa Rogério Santos de Araújo, Márcio Farias e João Antonio Bernardi Filho.  As prisões temporárias incluem Alexandrino Alencar (Odebrecht), Antonio Campelo (Andrade Gutierrez), Flávio Lucio Magalhães (Andrade Gutierrez) e a consultora Cristina Maria da Silva Jorge.

Há mandados de prisão também para os executivos da Andrade Gutierrez Elton Negrão de Azevedo Jr. e Paulo Dalmaso, que já entraram em contato com a PF e devem se apresentar até o fim do dia. Pela manhã, ainda não se sabia o paradeiro de Cesar Ramos Rocha, da Odebrecht, mas por enquanto ele não é considerado foragido.

Os presos estavam sendo levados para a superintendência da PF em Curitiba e os depoimentos devem começar no fim de semana.

Texto atualizado às 20h20

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