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Propina, caixa 2 e não contabilizado são o mesmo, diz delator

Chefe do "setor de propinas" da Odebrecht opina que não vê diferença entre pagamentos ilícitos

Odebrecht no Peru: Conglomerado brasileiro teria pago 4 milhões de dólares ao governador para ganhar licitação (Mariana Bazo/Reuters)

Odebrecht no Peru: Conglomerado brasileiro teria pago 4 milhões de dólares ao governador para ganhar licitação (Mariana Bazo/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de abril de 2017 às 12h46.

Última atualização em 7 de abril de 2017 às 12h54.

Chefe do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht - o chamado "departamento da propina" por investigadores da Operação Lava Jato -, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que todo pagamento efetuado por sua área eram recursos ilícitos - uma fortuna de US$ 3 bilhões movimentada entre 2006 e 2014, que corrompeu agentes públicos e financiou partidos e campanhas, no Brasil e no exterior.

"Para mim é a mesma coisa, viu, doutor? Propina, caixa 2 e não contabilizado é a mesma coisa", afirmou Hilberto Mascarenhas, ouvido pelo ministro do TSE Herman Benjamin, como testemunha na ação contra a chapa presidencial Dilma Rousseff (PT), presidente Michel Temer (PMDB), vice, de 2014.

Sem meias palavras, Mascarenhas confirmou em seu depoimento que os pagamentos do Setor de Operações Estruturadas era só ilícito. "Como dizem na Bahia, só 'trepa moleque'!".

O advogado de defesa da ex-presidente Dilma Rousseff, Flávio Caetano, pediu que ele define a expressão.

"Só coisa errada. Moleque não trepa em árvore para poder roubar, trepa nos muros? Então, era só 'trepa moleque'", explicou Mascarenhas, ouvido no TSE no dia 6 de março.

O executivo, que é um dos 78 delatores da Odebrecht - cujo acordo ainda está sob sigilo - afirmou que US$ 3 bilhões pagos pelo Setor de Operações Estruturadas entre 2006 e 2014 eram para pagamentos de propinas, ou caixa 2 para políticos e campanhas, em negócios e também para pagamento de bônus não declarados para executivos do grupo.

Nesta sexta-feira, 7, o delator foi ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro, dos processos em primeira instância da Lava Jato em Curitiba, em ação penal contra o ex-ministro Antonio Palocci.

O petista era o principal interlocutor de Odebrecht, na contabilidade da propina. Identificado como "Italiano" nos arquivos do setor de operações estruturas, ele participou do acerto de repasse de R$ 150 milhões para a campanha presidencial de 2014 de Dilma.

Autorização

Segundo o delator, de 2006 até 2009, "100% da aprovação para que a requisição fosse efetuada vinham do Marcelo (Odebrecht)", presidente afastado do grupo, que está preso pela Lava Jato, em Curitiba, desde 19 de junho de 2015.

"A partir de 2009, Marcelo delegou esta autorização para os seis líderes empresariais dele, que eram os líderes da construção, de energia, da área ambiental e todos mais", afirmou.

O delator explicou ao TSE que o "departamento de propinas" tinha como função a execução dos pagamentos de valores não declarado de toda holding.

"O papel da área de operações estruturadas era de pagar. Para quem e porque não era da nossa alçada. Chegava aqui uma solicitação com um codinome, um valor, a praça que deveria ser paga, se fosse no exterior, com a conta do banco, se fosse no Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasil etc."

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