Brasil

Promotor vê "mensalinho" em supostos pagamentos a ex-auxiliar de Haddad

Objetivo dos repasses, segundo o ex-presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, era "abrir portas" para a empresa no governo petista

Haddad, disse que a ação por improbidade administrativa movida pelo MP contra ele está baseada na "palavra de um bandido" (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Haddad, disse que a ação por improbidade administrativa movida pelo MP contra ele está baseada na "palavra de um bandido" (Rodolfo Buhrer/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de agosto de 2018 às 12h21.

Última atualização em 29 de agosto de 2018 às 12h23.

São Paulo - O Ministério Público de São Paulo classificou como "mensalinho" supostos pagamentos de propina feitos pela UTC Engenharia a José de Filippi Jr., ex-secretário de Saúde da gestão Fernando Haddad (PT), entre 2013 e 2014. O objetivo dos repasses, segundo o ex-presidente da empreiteira Ricardo Pessoa, era "abrir portas" para a empresa no governo petista, que havia acabado de tomar posse na capital paulista.

Três depoimentos colhidos neste mês sustentam a tese da Promotoria de que Filippi Jr. recebeu R$ 200 mil de propina da UTC enquanto era secretário de Haddad para "atender aos interesses" da empreiteira na Prefeitura. Em troca, a empresa teria pago uma dívida de R$ 2,6 milhões da campanha petista de 2012 por meio de caixa 2.

A suposta prática resultou em uma ação de improbidade administrativa movida pelo MP contra Haddad, o ex-secretário e outras cinco pessoas, conforme o jornal O Estado de S. Paulo revelou na terça-feira, 28.

Um dos depoimentos foi o do taxista João Henrique Worn, considerado "motorista de confiança" de Filippi Jr. No dia 23, ele confirmou ao promotor Wilson Tafner ter ido à sede da UTC em São Paulo buscar o que ele chamou de "presentes" da empreiteira para o ex-secretário de Haddad.

Filippi Jr. foi tesoureiro das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e de Dilma Rousseff (2010).

Filiado ao PT desde 1992, Worn já havia relatado isso à Polícia Federal em março de 2016, quando foi conduzido coercitivamente na Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato, para esclarecer pontos da delação de Pessoa relacionados ao ex-tesoureiro de campanhas do PT. À época, Filippi Jr. negou a propina e disse que seu motorista ia "buscar brindes" na UTC.

Mas, segundo os investigadores, Worn foi o responsável por receber, em nome de Filippi Jr., R$ 750 mil, entre 2010 e 2014, conforme planilha apresentada por Pessoa e pelo ex-diretor financeiro da empreiteira Walmir Pinheiro, que operava os pagamentos.

Do total, R$ 200 mil ocorreram quando Filippi Jr. já era secretário de Haddad. Foram seis parcelas, entre R$ 25 mil e R$ 50 mil, de março de 2013 a maio de 2014.

Na semana passada, Worn disse ao MP que as "encomendas" solicitadas por Filippi Jr. eram retiradas em mochilas ou sacolas com Pinheiro e entregues diretamente a Filippi Jr. Questionado sobre o que havia dentro da mochila, afirmou que nunca viu nem tinha intimidade para perguntar ao ex-secretário.

Relacionamento

Em depoimento no dia 9 deste mês, Pessoa afirmou à Promotoria que os pagamentos tinham como objetivo a "manutenção de bom relacionamento" com Filippi Jr. e a "aproximação" com Haddad, candidato a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.

Foi o ex-secretário quem apresentou Haddad ao dono da UTC durante a campanha de 2012 e, depois, intermediou um encontro entre ambos em fevereiro de 2013, já com Haddad na Prefeitura.

Três meses depois, a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Pessoa pagou a dívida de campanha de Haddad. O promotor Wilson Tafner sustenta que Haddad, que já é réu no mesmo caso na Justiça Eleitoral, "tinha pleno domínio" sobre a quitação da dívida pela UTC.

Na semana passada, Tafner obteve a condenação do ex-prefeito João Doria (PSDB) por improbidade no caso do uso do slogan "SP Cidade Linda" para "promoção pessoal".

Defesas

O advogado Cristiano Maronna, que defende Filippi Jr., disse estranhar a ação no período eleitoral, quando o petista tentará se eleger deputado federal. "Jamais houve qualquer evidência concreta desses pagamentos", afirmou.

Procurada, a defesa do taxista João Henrique Worn não quis se manifestar.

O candidato a vice-presidente na chapa do PT, Fernando Haddad, disse na terça-feira, 28, no Rio, que a ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público de São Paulo contra ele está baseada na "palavra de um bandido" - em referência ao ex-presidente da construtora UTC Ricardo Pessoa.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Fernando HaddadMinistério PúblicoPrefeitossao-pauloUTC

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas