O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil) (Lucas Bassi / Rede Câmara/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 3 de abril de 2024 às 15h16.
Última atualização em 3 de abril de 2024 às 15h32.
O plano do governo de São Paulo de tirar a privatização da Sabesp do papel até o meio do ano pode enfrentar dificuldades na capital paulista. Segundo o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União Brasil), hoje não há votos suficientes na Casa para aprovar o projeto de lei municipal que viabilizaria a venda da empresa estatal de água e saneamento.
"A sensação, na Câmara, é de desconforto com o projeto. Hoje, nós não temos votos para aprová-lo. E, no desconforto, eu não voto", afirmou Leite. "O governo tentará acelerar a tramitação na Câmara, mas vai ter muita dificuldade, pois há resistência de vários lados. Os vereadores estão torcendo o nariz. Nós vamos entregar a Sabesp para quem? Não temos uma direção. Sou a favor da tese de privatização, mas não sou a favor de como o projeto está neste momento", acrescentou ele.
Em dezembro passado, após uma tramitação acelerada e apenas uma audiência pública, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu a autorização da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para privatizar a companhia. Em março, no passo seguinte rumo à efetiva privatização, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) encaminhou um projeto de lei autorizando o município a firmar novos contratos, convênios e acordos para os serviços de água e esgotamento sanitário em São Paulo. O projeto viabiliza a venda da empresa, uma vez que permite ao município contratar a "nova Sabesp" para esses serviços, mas precisaria de 28 votos favoráveis, entre os 55 vereadores, para ser aprovado.
Em entrevista ao O Globo em dezembro de 2023, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo de São Paulo, Natália Resende, disse que a previsão era tirar a desestatização do papel em meados de 2024. A resistência da Câmara de São Paulo, porém, pode atrapalhar esse calendário, já que a cidade de São Paulo é a maior cliente da Sabesp.
Quando questionado sobre o cronograma para votação do projeto, Leite não se comprometeu com datas e disse que seguirá o "calendário da realidade". Atualmente, o projeto está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa, mas ainda deve passar por outras comissões e uma audiências públicas nos “quatro cantos da cidade”, segundo Leite.
Milton reconhece que, à medida que as eleições municipais se aproximam, a votação se torna mais desafiadora, dado o desgaste que a questão da privatização enfrenta junto à opinião pública, especialmente por conta da crise envolvendo a Enel.
"Tem uma série de problemas que não estão sendo superados, principalmente o fundo de investimento, que é o percentual da receita da Sabesp que a prefeitura recebe para investir em projetos ambientais. Vai continuar sendo 7,5% após a privatização? Qual a vantagem então? Que motivo alguém tem para votar? Estamos com bastante dificuldade", declarou ele. "Eu não posso votar um projeto desse sem convocar audiência pública para discutir com a sociedade, vamos exigir que os moradores das margens das represas e do Rio Pinheiros sejam ouvidos também."
O presidente da Câmara elencou uma série de compromissos que vai exigir do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para articular a aprovação da privatização no Legislativo paulistano. Entre eles, o passivo ambiental da empresa — hoje, segundo o parlamentar, há esgoto sendo despejado na represa de Guarapiranga e na represa Billings. Outra proposta é que a empresa se comprometa com a construção de habitações.
"Estão dizendo que a empresa que comprar as ações da Sabesp vai fazer investimentos. Nós assistimos o que aconteceu com a Enel. Já que a cidade de São Paulo responde por 47% dos negócios da Sabesp, queremos a parte de investimentos apartada em uma conta gerenciada pelo município", disse ele. "De 2040 a 2060 eles estão prevendo R$ 1,8 bilhão em investimentos. Minha proposta é tirar R$ 800 milhões, trazer para o presente e aportar no tesouro municipal para investimentos."
Milton Leite se reuniu com o secretário de Governo, Gilberto Kassab, e com a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, na semana passada, mas as discussões pouco avançaram, segundo ele. Está prevista uma nova reunião nesta quinta, 4.