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Projeto faz doações e estimula contato com moradores de rua

Uma vez por mês, centenas de pessoas se reúnem na zona oeste da cidade e organizam kits com utensílios básicos que serão entregues a moradores de rua


	Entrega por SP: o que o projeto quer mesmo é que os voluntários conheçam as pessoas que receberão as doações e conversem com elas
 (Reprodução/Facebook/Entrega por SP)

Entrega por SP: o que o projeto quer mesmo é que os voluntários conheçam as pessoas que receberão as doações e conversem com elas (Reprodução/Facebook/Entrega por SP)

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Da Redação

Publicado em 29 de março de 2016 às 22h03.

São Paulo - São Paulo, noite de uma terça-feira indeterminada. Um homem de 26 anos pega um par de calçados e, ao calçá-los, começa a chorar. "Sabe por que estou chorando?", ele pergunta. "Tenho 26 anos e este é meu primeiro tênis".

Esse morador de rua recebeu a visita dos voluntários do projeto Entrega por SP, realizado na capital paulista há quase três anos.

Uma vez por mês, centenas de pessoas se reúnem na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, na zona oeste, e organizam kits com pasta e escova de dente, garrafinha de água, sanduíche, bolacha, meia, sabonete e preservativo, além de roupas em bom estado, roupas íntimas, calçados masculinos e femininos (sem salto), mochilas, malas, bolsas, absorventes, papel higiênico e cobertores.

Na sequência, os voluntários se dividem em oito rotas para entregar os materiais doados.

Mas não basta simplesmente levá-los aos moradores de rua: O que o Entrega por SP quer mesmo é que os voluntários conheçam as pessoas que receberão as doações e conversem com elas.

“O grande lema do projeto, a bandeira, por assim dizer, é acreditar que somos todos iguais. Por isso não queremos ir lá e simplesmente entregar os kits. Queremos doar amor, partilhar abraços, olhar no olho, conversar, dar visibilidade ao que passa invisível muitas vezes na nossa sociedade. O projeto Entrega por SP é uma mobilização social que acredita nas pessoas e na convivência amigável e solidária entre quem vive e quem não vive na rua”, explica um dos coordenadores, Luiz Felipe Fogaça, o Bolão.

Fogaça explica que o projeto não tem fins lucrativos, nem intenções políticas ou religiosas. A ideia é se aproximar de quem vive na rua e despertar amor, carinho, afeto e amizade entre os moradores. É preciso ter 18 anos ou mais para acompanhar a ação.

“Por isso, sempre salientamos para que todos conversem com as pessoas em situação de rua e as abordem da maneira que eles gostariam de ser abordados. Fale baixo, sem muitos gestos, peça licença, se apresente, pergunte se está tudo bem, pergunte o nome de quem conversa, se a pessoa aceita um kit, se quer conversar, se precisa de algo mais.”

Foi assim que descobriram que o homem mencionado no primeiro parágrafo estava calçando um tênis pela primeira vez na vida. Ele era tímido, mal falava. Foi só com a atenção e o carinho dos voluntários que ele teve coragem de conversar.

“Toda ação, sem exceção, é um aprendizado recíproco. Sempre ouvimos que somos anjos, bem como agradecimentos pela conversa e pedido por voltar para um papo mais longo. Certa vez, ouvimos um obrigado por existir, que muito nos emocionou”, relata Fogaça.

Além dele, há outros 11 coordenadores. O Entrega por SP costuma reunir de 120 a 200 pessoas para ajudar no que eles chamam de pré-ação (separação dos kits) e na ação (sair para as ruas).

“A intenção é que no dia seguinte você possa se lembrar de humanos, e não do que você fez.”

As ações são realizadas sempre na última terça-feira do mês. A próxima ocorre nesta terça-feira (29).

Atualmente, a distribuição funciona com oito rotas distintas:

- Zona Norte: Terminal Santana, avenida Cruzeiro do Sul e Terminal Rodoviário Tietê
- Centro: Praça Roosevelt e Teatro Municipal
- Lapa: avenida Heitor Penteado, rua Clélia e viaduto Antártica
- Barra Funda: Santa Cecília e entornos
- 9 de Julho: alameda Santos, alameda Casa Branca, avenida 9 de Julho, Praça 14 Bis e Terminal Bandeira
- Brigadeiro: Avenida Paulista até a rua Joaquim Eugênio, Alameda Santos, avenida Brigadeiro Luís Antônio e Hospital Peróla Byington
- Minhocão: região embaixo do elevado Costa e Silva
- Zona Leste: rua do Trilho, Baixada do Glicério

Segundo Fogaça, o projeto começou quando o idealizador da mobilização, Lucas Caldeira Brant, passou muito frio em sua casa em uma madrugada e levantou para pegar mais um cobertor no quarto de sua mãe.

Na manhã seguinte, notícias da morte de moradores por causa da baixa temperatura tomavam o noticiário. Foi nesse momento que ele disse que queria ir às ruas levar cobertores. Para surpresa dele, a mãe, dona Marilena, falou: "Eu pago os 30 primeiros".

Com esse estímulo, Brant foi atrás de cobertores, divulgou para amigos mais próximos e foi às ruas com 30 cobertores, sete pessoas e três carros.

Hoje, há postos de arrecadação espalhados na Bela Vista, Jardim Santa Maria, Jaçanã, Mooca, Paraíso, Pinheiros, Santa Cecília, Vila Madalena e Vila Mariana.

Interessados podem adquirir cobertores para doação nesta loja virtual e destiná-los, no momento da compra, ao projeto Entrega por SP.

A produtora Elisa Vitale se juntou ao projeto no ano passado e disse que a primeira experiência foi “um resgate” dela mesma, pois provocou lembranças da infância, de quando participava de ações solidárias.

“Abordamos pessoas em momentos tão frágeis, tão vulneráveis. Já de madrugada, o senhor que me ouviu dar "boa noite” tira um tantinho do rosto debaixo do cobertor para me ver… ele também sai do seu “mundinho” para me enxergar ali. Com medo… um pouco indefeso, com frio. Cobri aquele senhor com todo o carinho…. queria que ele se sentisse aquecido. Lembrei de quando minha mãe me cobria quentinha e me dizia boa noite.”

Veja abaixo algumas imagens (emocionantes) das ações realizadas:

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