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Professores brasileiros trabalham mais e gastam mais de 20% da aula para controlar alunos, diz OCDE

Pesquisa internacional revela que país está acima da média global em tempo perdido com indisciplina; barulho e desordem afetam mais da metade dos docentes

Apenas 14% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, um dos índices mais baixos da pesquisa. (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

Apenas 14% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, um dos índices mais baixos da pesquisa. (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 7 de outubro de 2025 às 14h55.

Os professores brasileiros gastam mais de 20% do tempo de aula tentando manter a ordem e controlar o comportamento dos alunos, segundo a edição 2024 da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), divulgada pela OCDE nesta segunda-feira, 6.

Esse índice fica acima da média global de 16% e coloca o Brasil entre os países com maiores problemas de indisciplina escolar.

Além da questão disciplinar, a carga horária de trabalho dos docentes brasileiros também aumentou.

Entre 2018 e 2024, os professores em tempo integral passaram a trabalhar quase cinco horas a mais por semana, somando tempo de aula, preparação e atividades administrativas, o que contribui para o desgaste profissional.

O levantamento ouviu cerca de 280 mil docentes e diretores de 17 mil escolas em 55 sistemas educacionais. No Brasil, os dados foram coletados entre junho e julho de 2024 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) em escolas de ensino fundamental II selecionadas aleatoriamente.

Panorama do Brasil

O tempo perdido com indisciplina no Brasil se manifesta de diversas formas e afeta diretamente a qualidade do ensino. Os principais indicadores mostram um cenário preocupante:

  • Espera por silêncio: 43% dos professores relatam perder tempo significativo esperando que os alunos se acalmem (média OCDE: 15%)
  • Interrupções: 44% lidam frequentemente com interrupções de alunos durante as aulas (média OCDE: 18%)
  • Barulho e desordem: mais de 50% enfrentam barulho perturbador e desordem regularmente (média OCDE: 20%)

Os professores iniciantes sofrem ainda mais com esses problemas. Cerca de 66% dos docentes com menos de cinco anos de experiência relatam enfrentar barulho perturbador frequente, enquanto entre os experientes o índice cai para 53%.

A falta de reconhecimento social agrava o problema. Apenas 14% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, um dos índices mais baixos da pesquisa, embora tenha subido três pontos percentuais desde 2018. A média da OCDE é de 22%.

O estresse também é elevado, sendo mais da metade dos docentes relatando sentir pressão devido ao grande número de aulas para lecionar e ao excesso de preparação necessária.

Além disso, 47% citam intimidação verbal por parte de alunos como fonte de estresse, um índice alarmante quando comparado à média global.

Panorama do mundo

Globalmente, a proporção de tempo gasto com disciplina cresceu em quase todos os sistemas educacionais desde 2018. Entretanto, há diferenças significativas entre os países, com alguns enfrentando desafios muito maiores do que outros.

Os países com maiores e menores índices de tempo dedicado ao controle de ordem são:

  • Acima de 33%: Chile, Finlândia, Portugal e África do Sul
  • Abaixo de 5%: Albânia, Japão e Xangai (China)

A idade média dos professores no mundo é de aproximadamente 45 anos, sendo que Lituânia e Portugal têm as forças de trabalho mais envelhecidas, com média de 51 anos.

Quase nove em cada dez professores relatam estar satisfeitos com seus empregos, em média, embora essa satisfação varie bastante. As maiores taxas são de 79% no Japão e 98% na Albânia.

Paralelamente, mais de oito em cada dez professores na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Uzbequistão e Vietnã acreditam que suas opiniões são valorizadas. Em contraste, menos de um em cada dez na Croácia, Estônia, França, Itália, Portugal, Eslovênia e Espanha compartilham essa percepção.

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