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Professor negro dos EUA nega ter sido barrado em hotel de SP

Em pelo menos duas entrevistas, o doutor e especialista em estudos do comportamento e drogas em seres humanos disse não ter tomado ciência da confusão


	Carl Hart: ele falou no evento do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais sobre criminalização do uso de drogas
 (Reprodução / Facebook IBCCRIM)

Carl Hart: ele falou no evento do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais sobre criminalização do uso de drogas (Reprodução / Facebook IBCCRIM)

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Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2015 às 14h03.

São Paulo - O professor norte-americano Carl Hart, de 48 anos, explicou neste sábado (29) o que de fato aconteceu no Hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo, onde ele teria supostamente sido alvo de um episódio de racismo.

Em pelo menos duas entrevistas, o doutor e especialista em estudos do comportamento e efeitos do uso de drogas em seres humanos disse não ter tomado ciência de toda a confusão.

Nem eu mesmo sei o que aconteceu quanto ao incidente no hotel. Enquanto eu entrava no hotel, eu fui direto ao banheiro porque havia chegado de uma longa viagem e, aparentemente, um dos seguranças achou que eu não pertencia ao local.

Mas, imediatamente, outras pessoas avisaram ao segurança, mas eu continuei andando, então nada foi dito a mim, explicou Hart, em entrevista ao Justificando – o primeiro site a dar a informação sobre um suposto impedimento da entrada do professor no hotel.

Ao site Fluxo, Hart deu a mesma explicação sobre o incidente do hotel e falou sobre o quanto tentou, em sua estadia em São Paulo, chamar a atenção as pessoas para o que acontece nas comunidades carentes do País.

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O professor norte-americano veio a SP para um seminário sobre a criminalização das drogas e de seus usuários, promovido pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

De acordo com Hart, quem veio se desculpar após a tentativa de abordagem do segurança do hotel foram os organizadores do evento. As pessoas estavam injuriadas. Elas não estavam felizes com o que aconteceu, completou.

Ao jornal Folha de S. Paulo, a direção do hotel apresentou imagens do circuito interno de segurança para comprovar que, em nenhum momento, Hart foi abordado ou muito menos barrado por qualquer funcionário.

Para o professor, um negro que possui dreadlocks, tudo não passou de um incidente relativamente pequeno quando ele pensa com o que acontece diariamente no Brasil.

Essa sociedade conseguiu efetivamente isolar a sua população negra, e ela faz isso todos os dias. Quanto a mim, as pessoas vieram me ajudar e cuidaram desse incidente antes mesmo que me sentisse atingido. Aquilo foi pequeno, não penso nisso. O que me preocupa é que existe agora a mesma quantidade de ofensas nessa sociedade contra os negros dessa sociedade.

Uma das frases atribuídas a Hart durante o seminário – olhem para o lado, vejam quantos negros estão aqui. Vocês deviam ter vergonha – não dizia respeito ao episódio do hotel, segundo ele, mas sim ao fato da ausência de negros no evento, o que comprovaria o isolamento social da população negra. O País possui 50% de afrodescendentes, mas eles estão isolados, emendou.

Por fim, o professor de Columbia afirmou conseguir lidar com as coisas que acontecem consigo mesmo e disse esperar que o episódio do hotel sirva para expor a situação dos negros do Brasil.

É mais importante nos preocuparmos com os cidadãos comuns dessa sociedade. Então, se eu consigo chamar a atenção para o que eles sofrem todos os dias, isso é muito mais importante, concluiu.

Em 2014, Hart veio ao Brasil pela primeira vez, para lançar o seu livro Um Preço Muito Alto, um relato autobiográfico e científico sobre como sua juventude no gueto, envolvido com o crime e as drogas, moldaram sua visão acadêmica e política sobre o assunto. O professor participou ainda de um bate-papo com o médico brasileiro Drauzio Varella.

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Hart ainda visitou comunidades carentes e universidades durante a passagem do ano passado no País.

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Em seu livro, Hart defende a descriminalização - e não a legalização - das drogas, tornando o consumo de entorpecentes um assunto de saúde pública e educação, e não de repressão policial. Vale lembrar que há uma discussão em andamento sobre o assunto no Supremo Tribunal Federal (STF).

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