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Produtores de soja dizem que atividade não tem ligação com queimadas

De acordo com Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais, plantio de soja nos municípios com mais queimadas na Amazônia é inexpressivo

Queimadas: há semanas, fogo consome partes da floresta amazônica (Ricardo Moraes/Reuters)

Queimadas: há semanas, fogo consome partes da floresta amazônica (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 28 de agosto de 2019 às 19h16.

Última atualização em 28 de agosto de 2019 às 19h23.

São Paulo — O plantio de soja é inexpressivo nos dez municípios que mais registraram focos de incêndio na região amazônica neste ano, de acordo com dados de instituições do governo compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), que realizou um estudo diante de notícias que apontam o agronegócio como vetor de desmatamento.

Embora a associação acompanhe essa questão há mais de uma década e seja uma das líderes da chamada Moratória da Soja, que impede a compra e financiamento pelas tradings de safras cultivadas na região amazônica após 2008, o estudo foi realizado para tirar qualquer dúvida, afirmou o gerente de sustentabilidade da Abiove, Bernardo Pires.

"Chegamos a ficar preocupados com essas notícias. E nos questionamos: será que tem algum vínculo com a sojicultura?", disse ele, ressaltando que a resposta é de que a soja não é atualmente vetor de desmatamento.

O trabalho foi realizado diante de temores de que o Brasil, maior exportador global de soja do mundo, pudesse sofrer algum tipo de embargo em meio à escalada recente de informações sobre queimadas e polêmicas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.

Segundo a compilação da Abiove, que envolveu dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e IBGE, os dez municípios com mais queimadas de janeiro a julho plantaram apenas 30 mil hectares na última safra, sendo 17 mil em Novo Progresso (PA), onde produtores participaram recentemente do chamado "dia do fogo", segundo notícias publicadas na mídia.

Ao todo, a área plantada com soja no Brasil, na última safra, somou cerca de 36 milhões de hectares.

Apuí, no Estado do Amazonas, município líder em focos de incêndio no período, com 1.754, não tem soja plantada, disse a Abiove, citando também que Altamira (PA), o segundo com mais focos, conta com somente 2 mil hectares de soja.

Se tivesse pressão para plantio de soja, essas áreas com mais focos de incêndio já teriam mais plantações, comentou Pires.

Ele destacou ainda que, no caso dos três municípios do Amazonas com mais focos de incêndios (Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã), não há logística adequada para escoamento da safra, nem mesmo condições favoráveis de clima e solo, o que não justificaria lavouras por lá.

"São municípios que chove mais de 3 mil milímetros no ano, a soja não tolera isso."

Contudo, de acordo com dados da Abiove, a soja ocupa uma área relativamente importante do Bioma Amazônico, mas o plantio lá avançou nos últimos anos, em sua quase totalidade, em áreas desflorestadas no passado, muitas delas em regiões com clima e solo melhores do que no Amazonas.

A sojicultura está em 4,8 milhões de hectares do Bioma Amazônico, que envolve uma área total de 420 milhões de hectares que se expande por Estados como Pará, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso, este último o maior produtor da oleaginosa.

"Dez anos atrás, a área com soja (no Bioma Amazônico) era de 1,2 milhão de hectares. Em dez anos, a área cresceu 3,6 milhões de hectares. Mas, desses 3,6 milhões de hectares, apenas 2 por cento teve plantio em áreas de florestas (desflorestadas)...", disse Pires.

O gerente da Abiove disse que 98% do plantio de soja no bioma realizado após a Moratória da Soja, instituída em 2008, foi feito em áreas desmatadas antes do programa ter sido instituído, o que comprova eficácia do programa do setor.

Segundo ele, apenas 65 mil hectares de soja foram plantados em áreas desmatadas após julho de 2008, e tais produtores, de acordo com as regras da Moratória, estão banidos pelas tradings integrantes da Abiove e Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), que respondem por cerca de 85% do comércio de soja brasileira.

"65 mil hectares abertos após julho de 2008 não é pouco, mas se olhar do ponto de vista percentual, ponderado, tem um valor muito pequeno de impacto na floresta", acrescentou ele, lembrando que esses produtores que não seguiram o programa estão basicamente em Mato Grosso, Pará, Rondônia e Maranhão.

Para o gerente da Abiove, em Novo Progresso, as queimadas estão relacionadas à especulação imobiliária, conforme relatos de autoridades, e eventualmente um produtor que queira plantar soja nessas áreas desmatadas recentemente estará automaticamente bloqueado pela Moratória da Soja.

O gerente de sustentabilidade da associação, no entanto, admitiu que esses produtores que não cumprem a Moratória --ainda que tenham legalmente o direito de desmatar parte de suas áreas-- podem encontrar clientes em empresas não associadas da Abiove ou Anec.

E que os clientes dessas tradings não integrantes da Moratória da soja deveriam tomar iniciativas para coibir o desmatamento.

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