Augusto Aras: subprocurador escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para chefiar a PGR é o primeiro fora da lista tríplice desde 2003 (Roberto Jayme/Ascom/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2019 às 06h03.
Última atualização em 9 de setembro de 2019 às 06h33.
São Paulo — A escolha de Augusto Aras como novo procurador-geral da República será contestada nesta segunda-feira 9. A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) convocou procuradores do país para o que vem chamando de “Dia Nacional de Mobilização e Protesto”, após afirmar ter recebido com “absoluta contrariedade” a indicação de Aras, oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro na última quinta-feira 5.
É a primeira vez desde 2003 que o indicado para chefiar a Procuradoria-Geral da República (PGR) não está na chamada “lista tríplice”, criada em 2001 e que elege os três procuradores mais votados pelos pares.
O presidente pode escolher mesmo quem não esteja na lista, mas se tornou tradição a indicação do mais votado, que neste ano foi o subprocurador Mario Bonsaglia. A resistência dos procuradores a Aras vem do fato de ele nem sequer ter participado da eleição para a lista deste ano.
Baiano, Aras tem 60 anos e está no Ministério Público Federal desde 1987. O subprocurador foi apresentado a Bolsonaro pelo ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), que integrou a bancada da bala.
Aras vinha sendo apontado como favorito ao cargo, mas foi questionado pela base bolsonarista nas últimas semanas quando a imprensa revelou que ele era amigo de membros do PT na Bahia (amigos se disseram “estupefatos” com sua aproximação com Bolsonaro e afirmaram que sua posição era diferente).
Em nota convocando a mobilização, a ANPR diz que contesta a nomeação de Aras porque “o indicado não foi submetido a debates públicos” e “sua indicação é, conforme expresso pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, uma escolha pessoal, decorrente de posição de afinidade de pensamento”. Aras integrava grupo adversário da atual PGR, Raquel Dodge, nomeada pelo ex-presidente Michel Temer em 2017 e que chegou a denunciar Bolsonaro por racismo no ano passado. Também foram decisivos o apoio de Aras a obras de infraestrutura e ao agronegócio, segundo a coluna Radar, da revista VEJA.
Em maio, quando começou a convocação da ANPR para a eleição da lista tríplice, Bolsonaro disse a aliados que não colocaria um “inimigo” na PGR e que “só uma coisa é certa: quem estiver na lista não será”. Ao justificar a escolha de Aras na semana passada, o presidente afirmou que o subprocurador tem posições “serenas” e que buscou uma pessoa que fosse “nota 7 em tudo”.
Antes de assumir o cargo, Aras precisa também ser aprovado pelo Senado. A votação ainda não tem data definida, e Aras já afirmou que vai se encontrar com os 81 senadores. O jornal O Globo apurou que os senadores da oposição não devem organizar um movimento unificado o suficiente para barrar a nomeação, e alguns tampouco querem se indispor com o futuro PGR, que tem poder de denunciar políticos com foro privilegiado. Raquel Dodge deixa a PGR em 17 de setembro.