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Privatização dos Correios: passivo bilionário é revelado

Segundo levantamento exclusivo do Ministério da Economia, dívida chega a 14 bilhões de reais; estatal deverá ser privatizada em 2022

Última greve dos Correios, que durou 35 dias: funcionários são contra a privatização (Sintect-Cas/Divulgação)

Última greve dos Correios, que durou 35 dias: funcionários são contra a privatização (Sintect-Cas/Divulgação)

CA

Carla Aranha

Publicado em 28 de outubro de 2020 às 17h56.

Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 13h40.

Um estudo exclusivo realizado por técnicos do Sistema de Informações das Estatais (Siest), do Ministério da Economia, soluciona um dos principais impasses dos Correios, que tem sido objeto de inquietações no mercado. A estatal caminha para um processo de privatização, com a quebra do monopólio do serviço postal e a modernização do setor, como mostra reportagem da última edição da EXAME.

    A análise da Siest mostra que o passivo dos Correios chega a 14 bilhões de reais. Quase a metade da dívida corresponde a pendências financeiras com o fundo de pensão dos funcionários, o Postalis, e o plano de saúde da empresa.

    Obrigações sociais e trabalhistas respondem por cerca de 17% do passivo. Outros 7% são compostos de dívidas com fornecedores, segundo o Siest.

    (Arte/Exame)

    O estudo também examinou o ativo da estatal e outros indicadores financeiros e econômicos importantes, como a liquidez, que teve uma piora entre 2017 e 2019, ficando abaixo de 1 nesse período. Outro indicador analisado foi o custo da atividade, que no ano passado consumiu mais de 85% da receita líquida. Em outras palavras, os Correios estão utilizando a maior parte do faturamento para pagar suas contas.

      Mas há não somente más notícias. Em 2019, houve um lucro líquido de 102 milhões de reais. Foi o terceiro ano de lucros, após quatro de prejuízos. Mesmo assim, não foi suficiente para equacionar o equilíbrio financeiro da estatal.

      “Nos exercícios de 2018 e 2019, a empresa contratou operações de crédito de 750 milhões de reais, recebeu aportes do Tesouro (224 milhões de reais), e consumiu aplicações financeiras para a manutenção de suas atividades operacionais e para realizar investimentos”, aponta o relatório.

      De acordo com a ressalva do auditor independente do balanço de 2019, foi identificada uma incerteza sobre a continuidade das operações dos Correios. Na prática, isso quer dizer que a estatal corre o risco de se tornar dependente do Tesouro.

      Quando isso acontece, os custos da empresa são pagos pela União. Esses gastos incidem sobre as despesas discricionárias do governo.

      A estatal, no entanto, não está de braços cruzados. Um plano de demissão voluntária reduziu em 11.000 o quadro de funcionários, hoje de 95.000 pessoas, para enxugar os custos. A estatal também fechou 161 agências no ano passado.

      (EXAME Research/Exame)

      Já foi dado início ao processo de desestatização da empresa. No dia 10, o projeto de lei que acaba com o monopólio dos Correios sobre o serviço postal foi enviado para apreciação da Secretaria-Geral da Presidência da República e Casa Civil. A expectativa é que seja enviado ainda neste ano para o Congresso.

      O consórcio contratado pelo BNDES para propor modelos de desestatização dos Correios e sua precificação segue trabalhando. A intenção é que esses estudos sejam finalizados, depois de rodadas de conversas com o governo e o mercado, até o final do ano que vem. Depois disso, será lançado o edital referente à desestatização.

      A privatização conta com o apoio de boa parte da sociedade. Uma pesquisa EXAME/IDEIA realizada com 1.235 pessoas entre os dias 24 e 31 de agosto mostrou que 40% dos brasileiros apoiam a venda dos Correios — percentual muito superior em relação aos que apoiam a venda da Petrobras, 28%, ou da Caixa, 22%.

      As queixas dos consumidores em relação ao serviço prestado pela estatal aumentaram neste ano. Somente nos primeiros 14 dias de setembro, a Fundação Procon-SP registrou 756 reclamações contra os Correios. No mesmo mês no ano passado, foram 132, um aumento de 472%. O principal motivo é o não fornecimento do serviço em razão da última greve, que durou 35 dias.

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