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Principais líderes políticos brasileiros rejeitam intervenção militar

Entre os piquetes dos caminhoneiros em greve, há um grupo pequeno, mas barulhento, exigindo intervenção militar

Exército (Valter Campanato/Agência Brasil/Agência Brasil)

Exército (Valter Campanato/Agência Brasil/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2018 às 13h39.

Depois de dez dias da greve dos caminhoneiros que paralisou o país, o ambiente no Brasil é tão febril que o presidente Michel Temer se sentiu obrigado a declarar que não há chance de uma intervenção militar como vem sendo pedida por grupos de manifestantes.

E não foi apenas Temer a rejeitar a volta dos militares ao poder. Além dele, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, deram declarações contrárias à ideia.

"É uma idéia do século passado, é uma questão que eu pessoalmente acho que não faz sentido", disse Etchegoyen, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto na terça-feira. "Mas ainda há algumas pessoas que acham que essa alternativa é possível, o que eu sugiro é saber o porquê chegamos a nisso."

Em entrevista à imprensa internacional, na manhã de terça-feira, em São Paulo, Temer disse que as manifestações pró-intervenção fazem parte de uma movimentação política e que não vê nenhuma possibilidade disso se concretizar.

Já Rodrigo Maia criticou, em entrevista à Bloomberg News, a decisão do governo de recorrer aos militares. "Os militares sempre devem ser o último recurso, porque depois disso, não há outra ferramenta para garantir a lei e a ordem", disse Maia, cuja família foi exilada no Chile durante o governo militar de 1964-85.

Entre os piquetes dos caminhoneiros em greve, há um grupo pequeno, mas barulhento, exigindo intervenção militar.

O Brasil foi governado pelas Forças Armadas até 1985 e, ao contrário de seus vizinhos latino-americanos, as violações dos direitos humanos naquela época ficaram impunes.

O que começou como um movimento marginal durante os protestos para o impeachment da presidente Dilma Rousseff está agora ganhando força, alimentado por uma crise política e econômica.

Os defensores dos militares sentem-se cada vez mais encorajados quando um presidente fraco e impopular se torna cada vez mais dependente dos militares para enfrentar os problemas do país.

Enquanto isso, o ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro, que nega que o regime militar do Brasil entre 1964 e 1985 tenha sido uma ditadura, ganhou apoio para sua candidatura presidencial.

Embora a confiança em muitas das instituições brasileiras tenha se enfraquecido em meio ao maior esquema de corrupção do país, a Lava Jato, as Forças Armadas mantêm um alto nível de confiança entre os brasileiros, superando apenas pela Igreja Católica, de acordo com uma pesquisa de 2017 da Latinobarometro.

A decisão de Temer de mobilizar tropas federais para controlar os protestos violentos em Brasília no ano passado chocou muitos, mas a mudança agora se tornou rotina.

Como a situação de segurança no Rio de Janeiro se deteriorou, as Forças Armadas ganharam força na gestão do peemedebista e foram enviadas para manter a ordem.

"Eles não estão felizes. Há um sentimento de que eles estão sendo usados ​​por um governo que eles não gostam", disse Mauricio Santoro, professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que leciona em várias academias militares. "Todos os problemas que o governo não consegue resolver entregam aos militares."

Política do Exército

Os oficiais militares estão desempenhando um papel político cada vez mais importante. Na véspera da decisão do Supremo tribunal Federal (STF) que preparou o caminho para a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pediu que os juízes rejeitassem a "impunidade".

Em fevereiro, Temer nomeou o general Joaquim Silva e Luna como seu ministro da Defesa, a primeira vez em décadas que um integrante do Exército ocupou o cargo.

Em entrevista à Bloomberg na semana passada, Silva e Luna disse ver com bons olhos a candidatura de Jair Bolsonaro, assim como as de outros ex-militares nas eleições de outubro.

Dias depois da greve dos caminhoneiros deste mês, Temer mais uma vez assinou um decreto que concedia aos militares poderes para agir nas rodovias bloqueadas.

Mas eles encontraram pouca resistência dos manifestantes - muitos dos quais tinham enfeitado seus caminhões com faixas proclamando seu desejo de ver uma intervenção militar.

Em meio ao turbilhão de rumores e meias-verdades circulando nas redes sociais e no WhatsApp durante os protestos, mensagens afirmavam que o Exército estava assumindo o controle do país.

Embora esta perspectiva permaneça distante, a instabilidade política dos últimos anos na maior economia da América Latina significa que a ideia não desaparecerá em breve.

"O absurdo se tornou o cotidiano", disse Santoro.

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