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Pressão para mandar Pazuello para reserva aumenta após ato com Bolsonaro

General da ativa e ex-ministro da Saúde provocou irritação em militares graduados ao participar de manifestação em apoio ao governo

Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, participa de ato de Bolsonaro no Rio de Janeiro (Wagner Meier/Getty Images)

Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, participa de ato de Bolsonaro no Rio de Janeiro (Wagner Meier/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 24 de maio de 2021 às 08h21.

Última atualização em 24 de maio de 2021 às 12h59.

A cúpula do Exército reagiu mal à ida do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, ao ato político em companhia do presidente Jair Bolsonaro neste domingo, no Rio. A avaliação de militares graduados, segundo relatos colhidos pelo GLOBO, é a de que Pazuello deve ser pressionado a ir para a reserva após o episódio. Uma fonte ouvida considera que a semana poderá ser "decisiva" para o destino do militar.

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A intenção de que o general pedisse aposentadoria já era presente entre o comando do Exército quando ele estava no cargo de ministro, mas agora se intensificou com a participação cada vez mais frequente de Pazuello em atos políticos ao lado de Bolsonaro, que tem levado o general a viagens pelo Brasil.

A ida de Pazuello ao ato deste domingo, contudo, deixou integrantes da cúpula do Exército especialmente irritados. Pazuello é um dos alvos recentes da CPI da Covid no Senado, além de enfrentar outras frentes de investigação de órgãos como o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas, por conta da condução do combate à pandemia como ministro da Saúde. O temor dos militares é que a presença do general em atos políticos arranhe a imagem da instituição, com uma associação indevida entre o Exército e o governo.

Eles apontam ainda que, além do incômodo provocado por Pazuello como ministro e agora alvo de CPI, há vedações expressas sobre militares participarem de manifestações políticas coletivas, segundo o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército.

O artigo 45 do Estatuto fala, por exemplo, que são "proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político". Assim, como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, a participação de Pazuello na manifestação
também cria um dilema ao comando do Exército. Pelo menos em tese o comando do Exército deve puni-lo, mas, se o fizer, corre o risco de o presidente da República revogar a punição. A decisão caberá ao comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Pazuello compareceu, neste domingo, a um ato com Bolsonaro que provocou grande aglomeração no Rio. Ele subiu no palanque com o presidente, sem máscara, na manifestação chamada por apoiadores e aliados de Bolsonaro de "motociata", uma carreata puxada por motoqueiros que cortou diversos bairros da cidade.

Pazuello atuou durante a semana passada, em dois dias de depoimento na CPI da Covid no Senado, para blindar Bolsonaro de responsabilidades quanto a falhas na condução do enfrentamento à pandemia no Brasil. A fidelidade do general ao presidente, no entanto, pode complicar a vida de Pazuello no Exército.

Reservadamente, generais afirmam que a previsão já é de que Pazuello esteja próximo de ir para a reserva, mas o episódio deste domingo poderá abreviar a aposentadoria do general. Há também uma preocupação com o exemplo que o ex-ministro pode passar aos demais integrantes da Força, incentivando a politização nos quarteis.

O ato de Pazuello também não passou despercebido entre generais da reserva. Santos Cruz, que comandava a Secretaria de Governo e foi demitido por Bolsonaro, considera que há um impacto negativo "contundente" do comportamento do ex-ministro, que ainda é militar da ativa, sobre o qual o Comando do Exército deve "resolver".

— Na minha formação militar, militar da ativa não participa de atos políticos. Isso impacta negativamente, de maneira contundente, o Exército. É assunto para o comandante do Exército resolver. A tolerância desse tipo de exemplo eu considero ruim para o Exército — disse Santos Cruz ao GLOBO.

O general de reserva Paulo Chagas avalia que a participação de Pazuello na manifestação representa uma transgressão disciplinar e ele deve ser punido. Chagas acredita que Pazuello adota uma estratégia política morando a eleição ao governo do Amazonas em 2022:

— Caso não seja punido, será péssimo para a imagem do Exército Brasileiro e principalmente para a do Comandante do Exército. O general Pazuello, ouvi dizer, pretende candidatar-se ao governo do Estado do Amazonas. Aparentemente, pode-se dizer que esteja usando a mesma estratégia do então capitão Bolsonaro. Talvez queira ser punido para ganhar mais notoriedade e manchetes de jornais e revistas — disse Chagas.

Para o general da reserva, Bolsonaro ganhou notoriedade após publicar um artigo no qual reclamava do salário da tropa e ter sido punido por isso.

— Ele (Bolsonaro) explorou as manchetes que lhe deram fama. Pouco mais tarde candidatou-se e foi eleito, se não me engano, vereador no estado do Rio de Janeiro. É possível que esta seja a causa da transgressão do General Pazuello. É a minha precipitada interpretação — afirmou.

Procurada, a assessoria de imprensa do Exército não se manifestou.

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