Araraquara: uma das cidades grandes do interior paulista com maior abstenção no primeiro turno (Luciano Claudino/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 29 de outubro de 2022 às 12h52.
Última atualização em 30 de outubro de 2022 às 16h44.
No primeiro turno, 7,5 milhões de eleitores deixaram de votar no estado de São Paulo, uma taxa de abstenção de 21,62%. O estado ficou levemente acima da média brasileira, que teve abstenção de 20,8% (sem contar os ausentes no exterior).
Mas, por ser o maior colégio eleitoral brasileiro, os ausentes em SP responderam por mais de 20% de todos que não votaram no primeiro turno.
Do ex-presidente Lula ao presidente Jair Bolsonaro, as campanhas dos candidatos à Presidência têm se esforçado para garantir que o maior número possível de eleitores — e, sobretudo, os grupos que pendem para sua base eleitoral — compareçam às urnas no domingo, 30.
Para o segundo turno, historicamente, a abstenção ainda aumenta, o que pode ser um movimento crucial no resultado da eleição. Em SP, no primeiro turno, Bolsonaro ganhou no estado, embora Lula tenha vencido na capital e região metropolitana, o que é uma aposta do ex-presidente para deixar a disputa paulista mais acirrada.
Para entender como a abstenção ocorreu no primeiro turno, a EXAME compilou detalhes sobre as ausências nos cinco maiores colégios eleitorais; além de SP, clique nos links para ver a abstenção em detalhes nos outros estados e destaques nacionais:
Percentualmente, as maiores taxas de abstenção ocorreram em cidades pequenas no interior, muitas com mais de 30% dos eleitores sem votar, muito acima da média do estado. Isso ocorre, em muitos desses lugares, porque alguns dos eleitores já não residem mais no município e terminam não voltando no dia da eleição (embora os motivos variem de cidade a cidade).
A campeã de abstenção no estado é a pequena Barra do Turvo, com pouco mais de 7 mil eleitores e taxa de abstenção de quase 37%, isto é, mais de 2,6 mil sem ter votado no primeiro turno.
As cidades com maior taxa de abstenção em SP foram:
Dentre as cidades paulistas, porém, há polos em que a abstenção se concentrou, mostra levantamento feito pela EXAME com os dados de primeiro turno da votação paulista.
Se contabilizadas só as cidades médias e grandes, com ao menos 100 mil eleitores registrados, a com maior ausência foi Presidente Prudente: a cidade no oeste paulista tinha mais de 180 mil eleitores registrados para votar, e 46,1 mil se abstiveram (taxa de mais de 25%).
Em seguida vieram Araraquara (a única cidade dentre as grandes e médias do interior onde Lula venceu Bolsonaro), e Praia Grande, na baixada santista. Veja abaixo.
Em São Paulo, em que muitas cidades do interior são maiores do que capitais inteiras em outros estados, essas ausências podem ter impacto significativo caso o comportamento se mantenha ou mude no segundo turno.
O comportamento, nessas cidades, é parecido ao do restante do Brasil: a taxa de abstenção é maior entre eleitores que cursaram até o ensino fundamental, e menor entre quem chegou ao ensino superior.
A taxa de abstenção em percentual, porém, não é o único fator a ser observado. Como na eleição brasileira cada voto conta, a maior efeito da abstenção vem mesmo das cidades extremamente populosas, porque têm alto número absoluto de ausentes.
É o caso de São Paulo capital, que, embora tenha tido abstenção mais perto da média nacional (pouco mais de 21%), é a campeã de abstenção em números totais: foram quase 2 milhões de eleitores ausentes em São Paulo, diante do tamanho de sua população.
Puxado pelos votos da periferia, Lula venceu na cidade de São Paulo, com 47,5% dos votos ante 38% de Bolsonaro. A capital paulista deu ao ex-presidente o maior saldo de votos contra Bolsonaro do Brasil, quase 650 mil a mais. Já no estado de São Paulo, Bolsonaro venceu no primeiro turno com 48% dos votos, puxada pelas cidades do interior.
A leitura geral é de que as abstenções prejudicaram mais Lula do que Bolsonaro no primeiro turno, com ausências numerosas de eleitores em bairros de menor renda e entre eleitores menos escolarizados, grupos que votam mais no petista.
Por outro lado, homens também votaram menos do que mulheres (com abstenção de 22% deles e 20% delas). A abstenção masculina maior é um comportamento que já ocorreu em outras eleições e pode também tirar milhares de votos de Bolsonaro, que é preferido por esse eleitorado, sobretudo em cidades grandes e médias na região Sudeste, onde o presidente tem alto número de votos, mas onde a abstenção também foi alta.
Para o segundo turno, mais de 300 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais, implementaram passe livre para o dia da votação. A aposta é que a gratuidade na passagem possa incentivar mais eleitores a não desistir de votar. No primeiro turno, em análises por zona eleitoral nas grandes cidades, a abstenção foi maior nas periferias, que concentram estratos de menor renda.
Pela lei eleitoral, mesmo eleitores que não votaram no primeiro turno podem votar no segundo. Segundo o TSE, cada turno é tratado como uma eleição independente pela Justiça Eleitoral. Porém, em 2018, enquanto 117,4 milhões votaram no primeiro turno, só 115,9 milhões votaram no segundo. Uma diferença como essa, se repetida em 2022, pode fazer a diferença.
Para entender como a abstenção ocorreu no primeiro turno, a EXAME compilou detalhes sobre as ausências nos cinco maiores colégios eleitorais; além de SP, clique nos links para ver a abstenção em detalhes nos outros estados e destaques nacionais: