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Presidente do IBGE: Se formos pressionados, não estarei mais nesta cadeira

Susana Guerra reforçou que não houve ingerência do governo sobre decisão do instituto de enxugar o Censo

Susana Guerra: formada em Harvard e integrante da equipe de economia do Banco Mundial é a mais jovem presidente do instituto (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Susana Guerra: formada em Harvard e integrante da equipe de economia do Banco Mundial é a mais jovem presidente do instituto (Fernando Frazão/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de junho de 2019 às 12h46.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) espera melhorar sua produtividade e se adequar às restrições orçamentárias impostas pelo governo por meio de soluções digitais, como a coleta de informações não presencial. Avanços nesse sentido serão testados no Censo Demográfico 2020, contou a presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Em meio às críticas provocadas pela redução do questionário do Censo Demográfico, Susana garantiu não haver nenhuma possibilidade de voltar atrás na decisão. Apesar das declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu enxugar o Censo, Susana enfatizou que não houve ingerência do governo sobre as decisões do órgão. Disse que, se o IBGE for pressionado, "não estarei sentada nessa cadeira (de presidente) mais". A seguir, principais trechos da entrevista.

A redução nos questionários do Censo gerou críticas de técnicos do IBGE. Vocês trabalham com alguma chance de voltar atrás na decisão?

Esse questionário foi amplamente discutido e debatido dentro e fora do IBGE. Foi aprovado pelo Conselho Diretor do IBGE. Não tem nenhuma chance.

Quanto será economizado no Censo?

São duas questões separadas. Uma é a questão orçamentária, o nosso quadro de restrição fiscal. O meio pelo qual conseguimos nos adequar a esse quadro de restrição fiscal é fruto de uma sequência de ajustes, na folha de pagamento de recenseadores, ajustes em equipamentos, em tempo de treinamento e em métodos de coleta, supervisão e avaliação. Outra questão é a qualidade.

É uma questão que visa à celeridade e à simplificação e agilidade da operação censitária como um todo. Nessa questão é onde o questionário se encaixa. Os ajustes no questionário foram feitos visando a uma melhora na qualidade de cobertura e na qualidade das respostas.

Será possível economizar com o corte no questionário?

Através das nossas simulações de aplicação do questionário, economizaremos tempo. Saiu de sete minutos para quatro minutos (no questionário básico). O mesmo recenseador vai poder aplicar mais questionários no mesmo período de tempo. Isso implica que precisaríamos de menos recenseadores.

Então, poderia gerar um ganho de recursos, mas isso ainda está sendo estudado. Mesmo sem restrição orçamentária, estaríamos fazendo esses cortes (no questionário). O mundo inteiro está caminhando para uma modernização da operação censitária, para questionários de censos mais enxutos e, ao mesmo tempo, otimizando outras formas complementares de coleta de dados.

O Brasil, mesmo depois desses ajustes de questionário, ainda tem um questionário maior do que 80% dos países do mundo.

Pode diminuir o número de recenseadores?

Pode ser que diminua. Temos agora um teto, de 190 mil recenseadores. Temos de trabalhar dentro desse teto. Pode ser que a gente consiga, e esse é um objetivo para adiante, diminuir esse número de recenseadores e, ao mesmo tempo, remunerá-los melhor. Esta é a ideia: ter menos recenseadores melhor remunerados.

Como a tecnologia pode gerar economia no Censo?

Tivemos no Censo de 2010 menos de 1% de coleta pela internet. Em dez anos, o mundo avançou bastante. O acesso a tecnologias, à mídia social, aumentou demais. Então, vamos tirar proveito desse acesso e investir em formas alternativas, para que essa abordagem fique mais célere, que consigamos chegar a todos os municípios de forma mais simples e ágil.

Quanto da coleta do Censo 2020 pode ser via internet?

Este é um dos grandes objetivos do novo diretor de pesquisas (Eduardo Rios-Neto): estudar formas alternativas de coleta, que envolvam internet, uso de telefone, SMS.

O IBGE tem enfrentado restrições orçamentárias há anos. É possível que outras pesquisas fiquem em risco?

Estamos caminhando para uma envergadura no IBGE, em que, num contexto de desafios, temos de inovar. Queremos inovar, preservando a tradição de excelência do IBGE. A ideia é que, através de um Censo mais forte, a gente potencialize o IBGE como um todo. Essas (as outras) pesquisas, como o Censo também, vão ter de ser repensadas em como usar formas alternativas de coleta.

A ideia é que as inovações que se criem através do Censo consigam ter efeitos demonstração e depois sejam replicadas e escaladas em outras pesquisas do instituto. O que queremos é uma otimização dos esforços de coleta, para que consigamos potencializar o trabalho da equipe técnica.

A cobrança do ministro Paulo Guedes por cortes no questionário do Censo pesou na decisão?

O IBGE é órgão de Estado, regido por motivações estritamente técnicas e visando sempre à qualidade na produção dessas estatísticas. Repito: o ministro nunca deu ordem para reduzir o questionário (do Censo de 2020). Nunca fomos pressionados de forma alguma em algum desses aspectos que você está sugerindo. Se algum dia formos pressionados, não estarei sentada mais nessa cadeira.

O presidente Jair Bolsonaro já criticou o trabalho do IBGE. As declarações do presidente ficaram nas redes sociais ou houve algum questionamento formal?

De forma alguma. Absolutamente. Foram declarações feitas na imprensa, que o IBGE respondeu de forma técnica, como foi sempre de praxe.

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