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Valério cita Lula no mensalão; ex-presidente diz ser mentira

"Eu não posso acreditar em mentiras", afirmou Lula, indagado sobre as acusações em Paris


	A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, afirmou serem "lamentáveis" as "tentativas de desgastar" a imagem do ex-presidente
 (©AFP / Pedro Ladeira)

A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, afirmou serem "lamentáveis" as "tentativas de desgastar" a imagem do ex-presidente (©AFP / Pedro Ladeira)

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Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2013 às 10h54.

Brasília - Na reta final do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ser ligado ao esquema, desta vez pelo principal operador da compra de apoio parlamentar, o empresário Marcos Valério, em um ato chamado pelo PT de "desespero".

Valério, apontado como operador do mensalão e condenado a 40 anos de prisão, disse que Lula autorizou os empréstimos bancários ao PT que seriam utilizados no esquema, segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta terça-feira.

As declarações foram dadas por Valério em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em setembro, ao qual o jornal afirmou ter tido acesso.

No depoimento, segundo o jornal, o empresário diz que Lula deu "ok" aos empréstimos numa reunião no Palácio do Planalto junto com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o tesoureiro do PT à época, Delúbio Soares.

Dirceu foi apontado pela maioria do STF como mentor e "chefe da quadrilha" do mensalão, e foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão. Ele deverá cumprir parte da pena em regime fechado. Delúbio também foi condenado, a 8 anos e 11 meses.

Valério disse também que Lula teria tido gastos pessoais pagos com esses recursos, de acordo com o jornal.


As revelações do empresário voltaram a questionar a tese de que Lula desconhecia a existência do esquema, revelado em 2005. Em pronunciamento à nação em meio à crise, o então presidente disse se sentir "traído por práticas inaceitáveis", sobre as quais afirmou não ter conhecimento, e pediu desculpas em nome do governo e do PT pelas denúncias.

Lula, que está em Paris e participou de evento ao lado da presidente Dilma Rousseff, disse que as afirmações de Valério são "mentiras".

O ex-presidente, que não queria se pronunciar sobre o tema, de acordo com sua assessoria, foi abordado por jornalistas na saída de evento que participou na capital francesa.

"Eu não posso acreditar em mentiras", afirmou Lula, sem parar para responder mais perguntas.

Mais tarde, Dilma disse ser "lamentável" o que chamou de "tentativas de desgastar" a imagem de Lula ao envolvê-lo no esquema.

"Eu considero lamentável essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula. Acho lamentável", disse Dilma em entrevista coletiva ao responder à pergunta sobre as declarações de Valério.


"Eu repudio todas as tentativas, essa não seria a primeira vez, de tentar destitui-lo da sua imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem", disse Dilma referindo-se a Lula, mas sem vincular diretamente essas tentativas ao mensalão.

O relator do mensalão no Supremo e presidente da Corte, Joaquim Barbosa, evitou comentar as declarações de Valério, mas disse que as novas informações deveriam ser investigadas. O julgamento deve ser encerrado nesta quarta-feira.

Em outra ocasião, quando o envolvimento de Lula no mensalão foi questionado pela defesa do ex-deputado federal Roberto Jefferson, delator do mensalão, na fase inicial do julgamento, a Corte negou pedido de incluir o ex-presidente na ação. A defesa de Jefferson alegou que Lula sabia do esquema.

"DESESPERO" DE VALÉRIO

O PT reagiu às declarações de Valério, classificando-as como tentativa de "delação premiada" para reduzir a condenação imposta pelo STF.

O presidente do partido, Rui Falcão, considerou "inexplicável" o vazamento do depoimento, e disse que as declarações são "desespero" de Valério.


"Trata-se de uma sucessão de mentiras envelhecidas, todas elas já claramente desmentidas. É lamentável que denúncias sem nenhuma base na realidade sejam tratadas com seriedade", disse Rui Falcão em comunicado.

"Valério ataca pessoas honradas e cria situações que nunca existiram, pondo-se a serviço do processo de criminalização movido por setores da mídia e do Ministério Público contra o PT e seus dirigentes", disse ele.

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), também relativizou as falas do empresário, e disse ser "exagero" chamar o empresário ao Congresso.

"Não é uma afirmação que mereça crédito... Sequer investigação. Eu acho que deve ser mandada para arquivo, porque não merece efetivamente nenhum tipo de consideração", disse Maia a jornalistas.


OPOSIÇÃO QUER OUVIR EMPRESÁRIO

O advogado do empresário disse à Reuters que não daria nenhuma declaração sobre o caso.

A oposição, no entanto, quer ouvir Marcos Valério no Congresso. O PSDB decidiu que apresentará requerimento para que o empresário compareça à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e o líder do partido no Senado, Alvaro Dias (PR), enviou ofício à Procuradoria-Geral da República pedindo a transcrição do depoimento de Valério.

"Queremos ouvi-lo para que ele diga ao país o que disse ao procurador (Roberto Gurgel). O que se sabe são vazamentos. Entendemos ser oportuna a presença dele para confirmar o que foi publicado na imprensa", disse Dias a jornalistas.

Em outra ofensiva, PSDB e DEM pretendem ingressar com uma nova representação na PGR para que seja aberta uma investigação sobre as novas denúncias de Valério.

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