Plenário da Câmara, que pode analisar mudança no sistema eleitoral (Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Agência Câmara)
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Publicado em 11 de novembro de 2025 às 06h01.
Os deputados que lideram o Centrão na Câmara e costumam dar as cartas do que avança ou não no parlamento intensificaram as articulações nas últimas semanas para alterar o modelo eleitoral a fim de concentrar mais poder nos partidos e evitar a eleição dos chamados puxadores de votos, muitos deles influenciadores digitais com discurso antissistema.
O objetivo é mudar o sistema para o distrital misto, que muda a fórmula eleitoral para cargos na Câmara, em Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Caciques das legendas de centro que têm grande poder de influência no Congresso têm demonstrado otimismo e acreditam que, por beneficiar as cúpulas partidárias, poderiam angariar apoio de legendas que vão do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A proposta prevê que metade das vagas no parlamento de todas as esferas dos entes da federação seria reservada para uma eleição em que o estado ou município seria dividido em diferentes distritos eleitorais. A partir dessa divisão, o eleitor votaria em um candidato do distrito em que mora e o mesmo voto também iria para seu partido, que teria uma lista pré-ordenada de candidatos.
O modelo ampliaria os poderes das cúpulas dos partidos, uma vez que metade dos assentos seriam definidos pela escolha direta do eleitor e a outra metade seria definida exclusivamente pelas legendas.
Assim, reduziria sobremaneira o poder de candidatos famosos e com ampla inserção que fazem votações muito expressivas. Atualmente, o cidadão escolhe um candidato e, depois, é estabelecido o chamado quociente eleitoral, resultado do cálculo do total de votos válidos divididos pelo número de vagas.
Esse cálculo aponta a quantidade de votos necessários para que o partido eleja um representante. Caso um candidato faça mais votos que essa quantidade, o partido usa o excedente em benefícios dos demais postulantes àquela cadeira no parlamento.
Os defensores da mudança no sistema afirmam que o formato atual é muito complexo e pouco conhecido pela população e que o novo modelo aproximaria o candidato do eleitor, uma vez que iria se tratar de uma disputa eleitoral no próprio distrito, com promessas voltadas para aquela determinada região.
Um dos principais entusiastas da proposta é o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que é um dos nomes mais influentes dos partidos de centro que definem os rumos dos trabalhos do parlamento.
Ele costuma argumentar que o Legislativo ficará mais qualificado, uma vez que as legendas incluiriam nomes de peso nas listas, e afastaria os chamados outsiders, que têm amplo alcance nas redes sociais, mas não têm experiência na política.
"PARABÉNS!!! Registro esta mensagem para cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Hugo Motta, por iniciar a discussão da implantação do Voto Distrital Misto no Brasil. A sua implantação será um enorme avanço no aperfeiçoamento da Democracia brasileira", escreveu em post no X.
O deputado Domingos Neto (PSD-CE), do partido de Kassab, é o relator da matéria. Ele tem tentado atrelar a proposta aos projetos de combate à violência pública sob o argumento de que a eleição distrital ampliaria a fiscalização dos eleitores por se tratar de uma disputa regional e dificultaria a eleição de integrantes de facções criminosas.