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Prefeituras de esquerda diminuem em 20%: a eleição em três gráficos

O número de prefeituras da esquerda nas grandes cidades caiu 20% ante 2016, enquanto avanço da direita não necessariamente representará candidato em 2022

Manuela D'Ávila em campanha: apesar das derrotas, esquerda conseguiu retomar a pauta de participação do Estado na economia mais do que em 2016, dizem analistas (Gustavo Aguirre/Estadão Conteúdo)

Manuela D'Ávila em campanha: apesar das derrotas, esquerda conseguiu retomar a pauta de participação do Estado na economia mais do que em 2016, dizem analistas (Gustavo Aguirre/Estadão Conteúdo)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 30 de novembro de 2020 às 16h07.

Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 21h47.

A eleição deste domingo transcorreu sem maiores surpresas e com vitória dos favoritos nas pesquisas -- alguns, como Bruno Covas em São Paulo e João Campos no Recife, ganharam inclusive com margem maior do que previam as sondagens. Mas embora os movimentos municipais tenham dinâmicas próprias, alguns dos resultados servem de mensagem para os cenários políticos que se formam nacionalmente a partir de agora.

A EXAME separou três gráficos que mostram os principais resultados nas grandes cidades e as mudanças nos partidos neste segundo turno.

Avanço da direita sem Bolsonaro

Algumas frentes de análise ficam claras nos números da eleição, segundo relatório do BTG Pactual com base em dados do TSE. A primeira delas é o avanço dos partidos de centro-direita e direita, resultado que já havia aparecido no primeiro turno.

O DEM, mais alinhado a uma direita liberal crescente, chegou a quase 500 prefeituras. O PSD e o PP, que são mais próximos do Centrão, passaram juntos de 1.200 prefeituras. São os três partidos que mais cresceram. É o melhor resultado desde que o DEM mudou de nome e de direção após o antigo PFL, em 2007, e que o atual PSD foi criado novamente, em 2011.


O avanço da direita também acontece sem grande participação do bolsonarismo. Candidatos apoiados por Bolsonaro não tiveram sucesso, como Celso Russomanno em São Paulo e Marcelo Crivella no Rio -- ambos do Republicanos, que abrigou Carlos e Flávio Bolsonaro após a debandada dos Bolsonaro do PSL.

O Republicanos, por sua vez, mostrou algum avanço, prova de que o partido com base evangélica vem crescendo, mas nada nos moldes da onda do PSL de Bolsonaro em 2018, que foi de partido desconhecido a segunda maior bancada da Câmara. Dois anos depois, o partido com o qual Bolsonaro se elegeu também não conseguiu nenhuma prefeitura em grandes cidades (as com mais de 200.000 habitantes).

"A sinalização que se deu do ponto de vista eleitoral é que a radicalização sem propostas concretas para mudar a vida das pessoas, seja de esquerda, seja de direita, não tem mais sentido para um eleitor que está de saco cheio da briga política tradicional, que quer governantes que entreguem", diz Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva.

A tendência, já analisada por especialistas ouvidos pela EXAME após o primeiro turno, é que Bolsonaro se aproxime da direita mais tradicional até 2022. “Pode ficar a leitura que, se eventualmente o presidente não caminhar pra uma visão mais pragmática de político profissional de fato, a chance de repetição do quadro de 2018 é menor", disse o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, à EXAME após o primeiro turno.

Vários desses partidos que cresceram são parte do Centrão no Congresso, legendas das quais Bolsonaro já passou a se aproximar nos últimos meses para formar uma base aliada em Brasília. O movimento deve continuar, e o presidente caminha para desistir do plano de criar seu partido próprio, o Aliança pelo Brasil.

O PSDB fica menor

O PSDB foi o partido que mais perdeu prefeituras nas grandes cidades e também nacionalmente, embora ainda governe a maior fatia da população brasileira, sobretudo graças à vitória em São Paulo, com 12 milhões de habitantes.


A vitória de Bruno Covas -- que era vice de Doria em 2016 e virou prefeito após a saída do governador em 2018 -- foi vista como essencial para a manutenção do poderio do partido.

"Enquanto DEM, PP e PSD tiveram aumento expressivo de prefeituras, MDB e PSDB perderam espaço na comparação com o pleito de 2016", escrevem os analistas Iana Ferrão, Álvaro Frasson e Luiza Paparounis, do BTG Pactual, em relatório sobre os resultados do segundo turno.

Ganhando mais projeção nacional com nomes como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o prefeito de Salvador e seu presidente nacional, ACM Neto, o DEM cresceu como representante forte de uma centro-direita não-bolsonarista, embora ainda não esteja claro se esse grupo apoiará um nome contra Bolsonaro em 2022.

Até agora, um dos mais claros presidenciáveis é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Mas não é nula a chance de que a centro-direita crescente pode fragmentar o campo e lançar outros nomes, de Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta a Luciano Huck.

"Do ponto de vista das eleições municipais, sem dúvida DEM e PSD saem fortalecidos, mas não têm grandes lideranças nacionais. Eles se posicionam mais como uma força política importante para um candidato a vice, mas não um candidato majoritário"

Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, sobre as eleições presidenciais em 2022

Seja como for, Bolsonaro segue favorito para 2022 nas pesquisas mesmo em meio à pandemia, com aprovação acima de 40%, segundo sondagens EXAME/IDEIA feitas ao longo deste ano. A ver como o cenário se desenha em 2021 e se a popularidade do presidente cairá após o fim do auxílio emergencial.

Queda da esquerda, mas alguns avanços

A esquerda continua no movimento de queda iniciado depois de 2013, com perda de prefeituras em todo o país e derrotas em cidades importantes. O número de prefeituras de partidos de esquerda ou centro-esquerda (como PT, PSB e PDT) nacionalmente caiu 20% ante 2016 e 35% na comparação com 2012.

O PT especificamente perde ainda mais espaço, embora siga sendo o maior partido desse campo. Pela primeira vez desde a redemocratização, o PT não venceu em nenhuma capital. O partido teve vitórias em apenas quatro grandes cidades nesse segundo turno (Diadema, Mauá, Juiz de Fora e Contagem), ante duas de 2016.

Ao todo, o PT terminou com 183 prefeituras, não ficando entre os dez partidos com mais prefeitos do Brasil e com menos prefeitos eleitos que PSB e PDT, cenário que já havia acontecido em 2016.

A esquerda também não chegou ao segundo turno em lugares importantes como o Rio de Janeiro, que teve vitória de Eduardo Paes (DEM); em 2016, Marcelo Freixo (PSOL) havia ido ao segundo turno com Marcelo Crivella (Republicanos). Em Rio Branco, no Acre, o PT perdeu a única capital que havia ganhado em 2016 e não chegou ao segundo turno.

Na outra ponta, 2016 foi tão ruim para o campo da esquerda que 2020 pode ser lido como tendo algum avanço na redução da rejeição deste campo entre o eleitorado, diz Meirelles, do Locomotiva.

A leitura geral é que partidos de esquerda para além do PT saem fortalecidos. "Mesmo partidos vistos como mais à esquerda ou mais radicais que o PT traçaram uma campanha firmada na pauta de conciliação, de resgate no debate eleitoral daquilo que sempre foi o campo majoritário da sociedade brasileira: uma participação do Estado na promoção de igualdade de oportunidades", diz.

Em 2016, Fernando Haddad perdeu de forma acachapante para João Doria logo no primeiro turno (53% a menos de 17%) em São Paulo. Neste ano, Guilherme Boulos (PSOL) chegou a 40% dos votos (embora tendo perdido em quase todos os mesmos lugares em que Haddad perdeu contra Bolsonaro em 2018).

O PSOL também comemorou uma prefeitura em capitais, com Edmilson Rodrigues em Belém. A primeira prefeitura da história havia sido em Macapá em 2012, com Clécio Luis (as eleições deste ano na capital ainda não ocorreram devido ao apagão no Amapá).

Em 2016, em Porto Alegre, a esquerda sequer teve um candidato no segundo turno (Marchezan Júnior, do PSDB e atual prefeito, disputou com o mesmo Sebastião Melo, do MDB, que se elegeu prefeito neste ano). Neste ano, Manuela D'Ávila (PCdoB) foi ao segundo turno e chegou a 45% dos votos.

Em Recife, Marília Arraes (PT) teve mais votos contra João Campos (PSB) do que o PT teve em 2016. Embora Campos, que é herdeiro político do ex-governador Eduardo Campos, também possa ser considerado ideologicamente mais ligado à esquerda, a disputa acirrada com Arraes mostra uma rejeição menor ao PT na "capital do Nordeste".

Ainda assim, derrotas são derrotas. Uma reorganização da esquerda capaz de fazer o campo chegar forte a 2022 ainda terá um longo caminho pela frente, e 2020 comprova isso.

*Uma primeira versão desta reportagem dizia que Belém era a primeira capital ganha pelo PSOL na história. A primeira foi Macapá, em 2012. A informação foi corrigida. 

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