Brasil

Prédio histórico ameaçado de demolição é vistoriado no Rio

Depois que o museu foi transferido para outra sede, a construção foi ocupada e preservada por índios


	Vista aérea do Estádio do Maracanã: por causa das obras de reforma do Maracanã, o prédio vem sendo negociado com o governo do estado do Rio
 (Arthur Boppré/Wikimedia Commons)

Vista aérea do Estádio do Maracanã: por causa das obras de reforma do Maracanã, o prédio vem sendo negociado com o governo do estado do Rio (Arthur Boppré/Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2012 às 17h41.

Rio de Janeiro – Representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) e da Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ) fizeram, na manhã de hoje (20), uma vistoria no prédio do antigo Museu do Índio, na Tijuca, zona norte da cidade, para avaliar as condições estruturais do imóvel. A construção está ameaçada de demolição para obras de urbanização.

Por causa das obras de reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, o prédio, que pertence à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, vem sendo negociado com o governo do estado do Rio, que pretende demolir o imóvel para que o terreno seja transformado em área de estacionamento e dispersão de público do estádio.

Apesar de centenário, o prédio não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Depois que o museu foi transferido para outra sede, a construção foi ocupada e preservada por índios. Atualmente, cerca de 20 índios de diversas etnias se abrigam no local. Desde agosto, com o anúncio das negociações para transferência do prédio ao governo estadual, a DPU/RJ se movimenta para tentar impedir a demolição.

Para o defensor público federal André Ordacgy, o imóvel, erguido há cerca de 150 anos, deve ser preservado e no local construída uma grande área cultural indígena. Ordacgy, que desde 2010 busca nos órgãos de preservação o tombamento do prédio, afirmou que estudos realizados no local apontam que é possível fazer a restauração.


“Estamos reunidos aqui lutando em primeiro lugar pela preservação do prédio. É possível preservar. Em termos culturais indígenas, eles [os índios] têm uma grande associação a esse local. Então, por conta disso, eles [os índios] merecem uma atenção”, explicou. Em 2006, o prédio abandonado foi ocupado por cerca de 20 índios das etnias Guajajara, Apurinã, Fulni-ô, Kaingang e Guarani e passou a ser chamado de Aldeia Maracanã.

Atualmente, a defensoria está tentando impedir a demolição do prédio histórico por meio de uma notificação extrajudicial. O defensor público federal explicou que, caso os órgãos responsáveis pela manutenção do local não acatem o pedido, será proposta ação na Justiça Federal com pedido de liminar para o imóvel não seja derrubado.

O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, que acompanhou a vistoria, defende que o local seja preservado e transformado em uma área cultural, independente das obras que estão sendo feitas no entorno. “Eu acho que tudo é compatível, desde que exista o espírito do reconhecimento da história do Rio. O problema é que a história do Rio vem sendo sistematicamente destruída”, ressaltou.

Agostinho Guerreiro lembrou que, em virtude das grandes construções imobiliárias nas grandes capitais, prédios antigos têm sido demolidos para dar espaço a imóveis novos e modernos. “Aqui é uma área importante. Então, se vai ter um estacionamento ou um shopping, isso é uma outra discussão. Existem mecanismos da engenharia, da arquitetura, dos historiadores, de integrar tudo isso e preservar um prédio histórico como esse”.


A índia Twry Pataxó, 41 anos, moradora da comunidade da Maré, zona norte da cidade, que visita com frequência o antigo Museu do Índio, disse se sentir “agredida” com a possível demolição. “Talvez o Brasil seja o único país que não tenha interesse em preservar a sua memória. Nós fazemos parte dessa história. Isto aqui não é apenas para preservar a cultura indígena. Isto aqui é para preservar a cultura do Brasil”, enfatizou.

O imóvel já foi sede do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado pelo marechal Rondon, que deu origem à Fundação Nacional do Índio (Funai). O local também serviu de sede ao primeiro Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro, instituição que foi transferida mais tarde para o bairro de Botafogo, zona sul do Rio.

Procurado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou por meio de sua assessoria que, por se tratar de um prédio não tombado, o órgão não pode se pronunciar sobre o assunto. Também procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não se pronunciou até a publicação da matéria.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasEstádiosImóveisMetrópoles globaisRio de Janeiro

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdemar