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Poupado até agora, auxiliar de doleiro negocia delação

Rafael Lopez tinha como função fazer entregas de valores em dinheiro aos clientes vips do esquema de corrupção na Petrobras e abastecia contas no exterior


	Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo
 (Nacho Doce/Reuters)

Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2014 às 07h15.

Brasília - Homem da mala do doleiro Alberto Youssef, Rafael Ângulo Lopez negocia com o Ministério Público acordo de delação premiada. Lopez tinha como função fazer entregas de valores em dinheiro a clientes vips do esquema de corrupção na Petrobras, além de abastecer contas no exterior. Ele poderá confirmar quem são os principais recebedores do dinheiro desviado da Petrobras de obras superfaturadas e apontar em quais contas foram feitos depósitos de propina.

Lopez controlava o cofre de Youssef quando o doleiro não estava em São Paulo. Até agora quatro audiências de oitivas de testemunhas do "homem da mala" foram realizadas pela Justiça num dos inquéritos da Lava Jato. Lopez ainda não foi ouvido. A delação premiada corre em separado.

Conforme advogados que têm clientes em delação, o acordo é demorado. As negociações da colaboração do doleiro Alberto Youssef, por exemplo, se iniciaram em julho. Apenas em setembro, dois meses depois, ele começou a prestar os depoimentos.

As tratativas para a delação premiada de Lopez explicariam o motivo de ele não ter sido preso pela Operação Lava Jato, embora atuasse como figura central desse departamento da "lavanderia". Os outros investigados que serviam de "mula" para Youssef tiveram ordem de prisão expedida. Há três meses, o Ministério Público também pediu a prisão preventiva de Lopez, o que foi indeferido pelo juiz Sérgio Moro, quando teriam sido iniciadas as conversas sobre a colaboração.

O criminalista Adriano Sérgio Nunes Bretas, que defende Lopez, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que não vai se manifestar sobre o caso. Segundo pessoas que conviveram com Youssef, uma conta no exterior teria sido aberta em nome de Lopez, por onde passou dinheiro do esquema distribuído fora do País. Em depoimento à Justiça, a contadora Meire Poza afirmou que era ele "quem cuidava da vida financeira de Alberto Youssef". Segundo ela, era "ele quem fazia saques, pagamentos a terceiros, viagens ao exterior, etc. Portanto, teria conhecimento dos ativos mantidos no País e no exterior".

O Ministério Público definiu Lopez, em relatório, como a pessoa que realizava "as atividades de saque, entrega, recebimento de valores e transporte de dinheiro em espécie, reais e dólares". "Quando a Operação Lava Jato foi deflagrada, a Polícia Federal apreendeu em um cofre na sala de Lopez na GFD Investimentos (empresa do doleiro) R$ 1,39 milhão e US$ 20 mil, além de uma maleta com cerca de R$ 500 mil."

Panamá

Um dos destinos frequentes de Lopez no exterior era a Cidade do Panamá. Uma conta bancária foi aberta no paraíso fiscal em nome de João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, apontado como responsável pela abertura de contas do esquema no exterior a pedido de Alberto Youssef.

Procópio é o único dos investigados na Lava Jato que está preso fora da superintendência da Polícia Federal em Curitiba. No esquema ele funcionava como espécie de titular da conta, que era operada e alimentada por Lopez. Há semanas, Procópio foi transferido para o Complexo Penitenciário de Piraquara, no Paraná, supostamente após divergências entre seu advogado e policiais. Procópio chegou a ensaiar também uma delação premiada, mas as negociações não teriam avançado.

Lopez também teria levado dinheiro do esquema para o Peru. "Esses valores em espécie eram transportados pelo denunciado, em voos domésticos, ocultados no corpo ou em alguma valise, pela utilização de aviões particulares ou, ainda, valendo-se de veículos blindados, de transporte de valores", informa relatório do Ministério Público. Lopez foi apresentado a Youssef pelo cunhado, Enivaldo Quadrado, que também trabalhava para o doleiro. Os dois romperam relações após Enivaldo contar à Justiça sobre a atuação do cunhado no esquema. 

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