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Por sobrevivência política, Temer quer fazer pacto com Maia

Com menos apoio político, Temer sabe que agora depende do presidente da Câmara para aprovar projetos polêmicos

Maia: o presidente da Câmara tem boa interlocução com o empresariado e o mercado financeiro (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

Maia: o presidente da Câmara tem boa interlocução com o empresariado e o mercado financeiro (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de outubro de 2017 às 16h48.

Brasília - Passada a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, o Palácio do Planalto quer fazer um pacto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para conseguir emplacar uma agenda de reformas consideradas necessárias na retomada do crescimento econômico.

Com menos apoio político, Temer sabe que agora depende de Maia para aprovar projetos polêmicos, "tourear" o Centrão e concluir sem sobressaltos o seu mandato, em 1.º de janeiro de 2019.

O objetivo do Centrão - grupo formado por partidos médios, como PP, PR e PSD -, é transformar Maia em uma espécie de "primeiro ministro" para conduzir a articulação da Câmara com o Planalto.

Conhecido por fazer ameaças e se rebelar, o grupo que já foi liderado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - hoje preso da Lava Jato - também pressiona o governo por uma reforma ministerial.

Quer a todo custo tirar o PSDB da Esplanada, sob o argumento de que a bancada tucana aumentou o grau de infidelidade ao presidente.

Temer planeja prestigiar Maia, que também tem boa interlocução com o empresariado e o mercado financeiro.

Nos últimos dias, por exemplo, pediu para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acertar com o deputado um modelo que permita enxugar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre a reforma da Previdência.

Nesta quinta-feira, 26, Maia também se reuniu com o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira.

Certo de que não terá os votos necessários para aprovar mudanças na aposentadoria às vésperas do ano eleitoral de 2018, o governo pretende se fixar na redução da idade mínima para a concessão do benefício e na quebra de privilégios dos servidores.

Questionado sobre a possibilidade de ser "primeiro ministro" de um governo sem força, Maia abriu um sorriso.

"Eu já sou articulador político, mas não dá para fazer um modelo híbrido num sistema presidencialista como o nosso", disse ele à reportagem.

"Michel sempre manteve uma boa relação com o Parlamento, o Brasil vive uma crise profunda e acredito que a Câmara terá um papel relevante para sairmos da crise. Não se pode misturar embate político com a agenda do País."

Além de mudanças na Previdência, o Planalto quer concentrar esforços na simplificação tributária. Maia concorda, mas não abre mão de também investir em projetos sociais que dizem respeito à segurança pública e à geração de empregos.

Até agora, o deputado jura ser candidato à reeleição pelo Rio, Estado que vive a maior crise de segurança do País.

"Não existe e nem existirá essa competição entre o Executivo e o Legislativo", argumentou o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, que chegou a reassumir o mandato de deputado do PSDB para ajudar Temer a derrubar a denúncia na Câmara. "As boas iniciativas devem ser recebidas com aplauso."

Imbassahy foi escalado por Temer várias vezes, nas últimas semanas, para acalmar Maia, que disse ser vítima de "intrigas" do Planalto. O tucano conseguiu reaproximar o presidente da Câmara do governo, mas não se livrar das críticas do Centrão, que pede a sua cabeça.

"Eu rezo para Rodrigo Maia ser iluminado, porque só assim vamos aprovar a reforma da Previdência, a tributária e mexer com a segurança", afirmou o deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara.

"Com o protagonismo do Rodrigo, se ele for contra algum projeto aqui, a coisa não anda, mesmo que o Executivo queira que ande."

Na prática, tanto a pauta do Planalto como a do Congresso será muito atrelada às eleições de 2018.

"A agenda eleitoral é a que vai dominar nesse pós-denúncia e o governo precisará ter uma base aliada que garanta a estabilidade. Não poderá nem exigir, nem retaliar", disse o deputado Sílvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB, que é aliado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e foi a favor do prosseguimento da denúncia contra Temer.

Apesar de comandar quatro ministérios, o PSDB continua rachado e, nesta quarta-feira, deu mais votos contra do que a favor do presidente - 23 a 21.

Além disso, exibiu maior índice de infieis agora do que na votação da primeira denúncia, em 2 de agosto.

Desta vez, Temer foi acusado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de chefiar uma organização criminosa para desviar recursos públicos e também de obstruir a Justiça nas investigações da Lava Jato.

No mesmo processo, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) foram denunciados por organização criminosa.

"Temer está tendo uma nova oportunidade de reiniciar o governo. Necessita urgentemente fazer uma rearrumação e tirar os tucanos da equipe porque do jeito que está não funciona", afirmou o deputado Arthur Lira (AL), líder da bancada do PP na Câmara.

"Maia terá um papel importante nesse processo porque dialoga bem com a base e com a oposição."

Ao ser perguntado se o Executivo aceitaria dar ainda mais protagonismo ao presidente da Câmara, Lira não pestanejou. "Aceitar ou não independe da vontade do governo. É uma questão de sobrevivência", argumentou ele.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o Planalto se converteu em um "comitê"para salvar Temer, "sangrando" as contas públicas.

"O presidente ganhou, mas não levou", disse Silva. "Na prática, já vivemos um semiparlamentarismo e Rodrigo Maia virou primeiro-ministro."

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