Incêndios na Amazônia geralmente são feitos para 'limpar' a terra para agropecuária (Ricardo Funari/Getty Images)
Reuters
Publicado em 25 de agosto de 2019 às 17h36.
Última atualização em 25 de agosto de 2019 às 17h37.
Brasília - Um número recorde de incêndios está ocorrendo na Amazônia e causando revolta no mundo devido à importância da floresta tropical para o ambiente global. O desastre fez o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enviar as Forças Armadas para combater o fogo.
Aqui, você encontra tudo o que precisa saber sobre esse assunto:
A Amazônia, que tem 60% de sua área no Brasil, é a maior floresta tropical do mundo. É considerada um grande centro de biodiversidade, com muitas plantas e animais que só podem ser encontrados ali.
A densa floresta absorve uma quantidade enorme do dióxido de carbono produzido mundialmente. Esse é o gás que, segundo estudos, é o maior causador das mudanças climáticas. De acordo com os cientistas, preservar a Amazônia é vital para combater o aquecimento global.
Os incêndios florestais no Brasil atingiram o seu pico desde pelo menos 2013, tendo aumentado 84% neste ano até 23 de agosto, comparado com o mesmo período do ano passado, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Houve 78.383 incêndios neste ano, quase metade deles apenas em agosto.
Oito dos nove estados da Amazônia registraram aumento, sendo o Amazonas com um crescimento de 146%. Moradores de Rondônia disseram que há incêndios todos os anos, mas nunca viram algo tão grave quanto agora, com nuvens de fumaça cobrindo a região.
Incêndios na Amazônia geralmente são iniciados com o propósito de limpar a terra. Depois que os madeireiros extraem a madeira, especuladores queimam a vegetação restante para "limpá-la" na esperança de vender essa terra para fazendeiros. A Amazônia passa por uma estação seca há meses, um período no qual os incêndios podem se espalhar mais facilmente e sair do controle.
Ambientalistas dizem que as pessoas que incendeiam a floresta estão encorajados porque escutam Bolsonaro pedindo por mais desenvolvimento na Amazônia e sentem que não serão punidos.
O desmatamento subiu 67% ano contra ano nos primeiros sete meses de 2019, mais do que o triplo de julho analisado isoladamente. Ambientalistas creem que os desmatadores são os mesmos que ateiam fogo à floresta.
Bolsonaro inicialmente sugeriu que não havia nada de anormal nos incêndios. Depois, que organizações não-governamentais estavam colocando fogo na floresta para prejudicar a imagem do governo. Ele não apresentou evidência alguma que suportasse essa retórica e, criticado, afastou-se dela.
Bolsonaro disse que o país não tem recursos para combater o incêndio em uma região tão vasta quanto a Amazônia, e alertou outros países para que não interferissem, dizendo que o dinheiro estrangeiro teria o objetivo de minar a soberania nacional.
O governo decidiu, então, mobilizar os militares para combater o fogo, e vários estados da Amazônia subsequentemente pediram ajuda. Ainda não está claro como as Forças Armadas serão utilizadas e se o seu papel será eficaz.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que os incêndios são uma emergência internacional e um "ecocídio", criticando o governo brasileiro por não agir para proteger a floresta.
O gabinete de Macron afirmou, em comunicado, que se oporia e um eventual acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, porque Bolsonaro mentiu sobre suas preocupações ambientais no encontro do G20, em junho.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel, disseram que estão preocupados com a destruição da Amazônia, mas que bloquear o acordo comercial não era a resposta correta.
Neste domingo, Macron afirmou que líderes de Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá estão finalizando um possível acordo no encontro anual sobre "ajuda técnica e financeira" para os países afetados pelos incêndios, incluindo o Brasil.
O presidente dos EUA, Donald Trump, ofereceu assistência a Bolsonaro durante uma ligação, mas autoridades brasileiras dizem que não estão trabalhando com os norte-americanos para combater o fogo.
Brasileiros realizaram protestos em mais de uma dezena de cidades contra a inação do governo sobre os incêndios, fechando importantes vias de Brasília e São Paulo. Manifestantes também se reuniram em frente às embaixadas do Brasil em Paris e Londres.
Nas redes sociais, a hashtag #PrayForAmazonas e outras chegaram aos Trending Topics do Twitter. Partidários de Bolsonaro responderam com a hashtag #AmazoniaSemONGs.
Cientistas temem que a continua destruição da Amazônia possa chegar a um ponto de não retorno, quando a região chegaria a um ciclo de rebaixamento de floresta para savana.
O cientista brasileiro Carlos Nobre acredita que de 15% a 17% de toda a Amazônia já foi destruída. Primeiro, pesquisadores pensavam que esse ponto de não retorno seria 40%. Mas isso mudou com o aquecimento global, o aumento de temperaturas da Amazônia e os incêndios. Hoje, acredita-se que esse ponto seja entre 20% e 25%.
Se esse ponto for atingido, essa regressão de status da floresta durará de 30 a 50 anos, um período em que 200 bilhões de toneladas de dióxido de carbono serão jogados na atmosfera, segundo Nobre, tornando difícil para o mundo manter o aumento de temperatura entre 1,5 e 2 graus Celsius, a meta para evitar efeitos mais devastadores do aquecimento global.