Brasil

Por que João Santana virou alvo da Lava Jato?

Procuradores tem provas de que o marqueteiro recebeu recursos do esquema de corrupção da Petrobras, mas não sabem confirmar o motivo

23ª fase (22/02/2016) — "Acarajé" (Reprodução/Vimeo)

23ª fase (22/02/2016) — "Acarajé" (Reprodução/Vimeo)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 23 de fevereiro de 2016 às 11h38.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 15h55.

São Paulo – João Santana, famoso marqueteiro do PT nas últimas campanhas eleitorais, teve um mandado de prisão temporária expedido para si e sua mulher, Mônica Moura, na 23ª fase da Operação Lava Jato.

Segundo a Polícia Federal, há fortes indícios de que ele tenha recebido no exterior ao menos R$ 7,5 milhões em recursos provenientes do esquema de corrupção da Petrobras.

Desse dinheiro, por volta de R$ 3 milhões teriam sido repassados por offshores (empresas no exterior) da Odebrecht, a mando do presidente Marcelo Odebrecht, preso desde 19 de junho por envolvimento no esquema. Outros R$ 4,5 milhões vieram do engenheiro Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels no Brasil.

Os valores foram recebidos por Santana através da offshore Shellbill Finance SA, no Panamá. A principal suspeita da PF é que repasses como esse no exterior serviriam para quitar dívidas do PT com campanhas sem declaração à Receita Federal.

A PF, no entanto, ainda não pôde confirmar por provas a hipótese. A princípio, é pouco provável que esse dinheiro seja de pagamento por favorecimento em contratos, já que o marqueteiro não teria influência em estatais, mas pode ser proveniente de lobby pela proximidade com autoridades, como parece ter sido o caso do empresário José Carlos Bumlai.

O caso, no entanto, lembra o de Duda Mendonça, a quem Santana substituiu. O antigo marqueteiro foi acusado de receber recursos através do esquema de Marcos Valério no mensalão, também como pagamento de dívidas do partido esquivando de tributações. Por isso, a principal suspeita volta ao esquema de pagamentos de dívidas do partido.

O marqueteiro teria recebido do partido valores que ultrapassam os R$ 150 milhões de reais de forma legal por seu trabalho em campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, Dilma Rousseff em 2010 e 2014, além da corrida pela prefeitura de São Paulo de Fernando Haddad, em 2012.

"Em 2012 e 2013, ele recebeu quase 50 milhões de reais no Brasil, por que ele precisaria esconder valores de uns 10% disso? A gente trabalha com a hipótese de que é pela finalidade ilícita dos recursos que foram repassados no exterior", afirmou o delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pace.

Parte desse valor teria sido investido em um apartamento de R$ 3 milhões em São Paulo, maneira pela qual a PF desconfia se tratar de uma forma de lavagem do dinheiro recebido ilegalmente — o imóvel foi sequestrado pela PF para buscas.

Para os procuradores, os mandados de busca da fase “Acarajé” podem esclarecer algumas das suspeitas, mas a força tarefa da Lava Jato tem ainda de responder três perguntas de forma definitiva: por que João Santana recebeu recursos de envolvidos na Lava Jato? Há mais valores escondidos? Santana tem algum papel no esquema?

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCombustíveisCorrupçãoEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesIndústria do petróleoJoão SantanaMarcelo OdebrechtNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoPartidos políticosPetrobrasPetróleoPolícia FederalPolítica no BrasilPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Brasil

Comissão do Senado aprova projeto que endurece regras contra devedor contumaz

'Tem gente que fuma para descontrair', diz líder da bancada da bala sobre maconha

PF avalia abertura de investigação contra deputado que ameaçou Lula: 'Quero mais é que ele morra'

Comissão de Segurança do Senado aprova porte de arma para defesa pessoal de advogados