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Por que Cristiane Brasil ainda é uma opção para ministério?

A deputada federal foi nomeada em janeiro para o Ministério do Trabalho, mas a Justiça ainda impede que ela assuma o controle da pasta

A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) (Wilson Dias/Agência Brasil)

A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) (Wilson Dias/Agência Brasil)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 6 de fevereiro de 2018 às 17h07.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 13h25.

São Paulo — Os mais de 30 dias de polêmicas em torno da nomeação da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) para assumir o Ministério do Trabalho e a insistência do governo para mantê-la no cargo são mais uma amostra da ofensiva do Palácio do Planalto para manter sua coalizão satisfeita com vistas a ganhar apoio no Congresso — no caso, aprovar a Reforma da Previdência.

Motivos não faltaram para Michel Temer, que ostenta baixíssimos índices de aprovação, abrir mão da indicação.

A deputada do PTB já foi condenada em processos trabalhistas movidos por dois ex-motoristas, foi citada em uma delação premiada da Odebrecht como beneficiária de 200 mil reais em caixa dois e ainda é alvo de inquérito por associação ao tráfico de drogas durante a campanha eleitoral de 2010. Se não fosse o bastante, no fim de semana, foi divulgado um áudio em que a deputada aparece ameaçando servidores públicos para conseguir votos para a sua campanha de 2014.

Segundo o cientista político Antônio Flávio Testa, professor da Universidade de Brasília (UnB), desistir da nomeação de Cristiane Brasil colocaria em risco o equilíbrio do presidencialismo de coalizão, prática fundamental para a sustentação do governo. Por essa estratégia, a governabilidade do Executivo Federal é condicionada à uma coesa política de alianças.

Dependente de 308 votos para aprovar a Reforma da Previdência, Michel Temer sabe que cada apoio é valioso e que, sozinho, o PTB de Cristiane Brasil têm 16 cadeiras na Câmara dos Deputados — onde a proposta deve ser votada neste mês.

“Esse é o fator mais importante para o Planalto manter Cristiane como uma opção no comando da pasta”, diz o cientista político Fernando Schüler, professor do Insper.

Ele lembra que, em ano eleitoral, o custo político para os parlamentares apoiarem medidas impopulares, como a reforma da Previdência, tende a crescer e a estratégia de dar cargos em troca de votos acaba sendo a tática mais certeira para fortalecer a coalizão. “Temer é um expert em termos de Congresso. Ele conhece bem essa estratégia de preservar relações e manter apoio”, afirma Schüler.

“No jogo político, não seria uma boa estratégia para o presidente ceder à pressão, voltar atrás e retirar o apoio à nomeação de Cristiane. Ele não pode se comprometer com os partidos de base”, argumenta Testa, da UnB.

A insistência do PTB e do governo nesta indicação, contudo, pode estar se esgotando. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, após a revelação de que Cristiane é investigada por envolvimento com tráfico de drogas nas eleições de 2010, o Palácio do Planalto estaria aventando a possibilidade de um novo nome do PTB para o posto. Ao mesmo tempo, a própria bancada, de acordo com o jornal, já estaria questionando a permanência de Roberto Jefferson, pai da deputada, na presidência da sigla. Para evitar desgaste, Cristiane ainda nem apareceu na Câmara dos Deputados

Apesar dos esforços em torno da reforma da Previdência, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem demonstrado que só colocará o tema em votação se a vitória for garantida. Por ora, o governo parece ter certeza de apenas 237 votos.

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