Senador Ciro Nogueira da CPI da Covid: presidente do PP é cotado para substituir Ramos na Casa Civil (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)
Carla Aranha
Publicado em 21 de julho de 2021 às 14h19.
Última atualização em 21 de julho de 2021 às 16h25.
Desde a semana passada, já era dada praticamente como certa mais uma dança de cadeiras nos ministérios. Em março, vale lembrar, o governo trocou seis ministros, entre eles Ernesto Araújo, de Relações Exteriores, e Fernando Azevedo e Silva, da Defesa.
Desta vez, as conversas sobre uma nova mudança na Esplanada dos Ministérios ganharam mais musculatura com o avanço das articulações políticas para 2022 e a CPI da Covid.
O xadrez eleitoral vem registrando jogadas importantes. Luiz Inácio Lula da Silva, considerado o principal oponente eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, tem intensificado as conversas com figuras proeminentes do Centrão, como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. Não por acaso, o político é cotado para substituir o general Luiz Eduardo Ramos na liderança da Casa Civil. O anúncio pode ser feito já na segunda-feira.
“A intenção parecer ser acomodar o Centrão, cujo ‘preço’ para apoiar o governo vai subindo à medida em que o Palácio do Planalto se enfraquece politicamente”, diz o analista político André César, da Hold Assessoria. “Nesse sentido, a indicação de Ciro pode ser uma tentativa de Bolsonaro de manter o Centrão a seu lado”, analisa César.
O PP hoje é um dos maiores partidos do país. Segundo o analista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, trata-se de “um dos maiores partidos em ascensão do ponto de vista de projeção nacional”. É a legenda também de Arthur Lira, o poderoso presidente da Câmara. Se mantiver o desempenho das últimas eleições municipais, a legenda “caminha para se tornar, junto com o PSD, um dos maiores partidos de centro-direita, inclusive em números de prefeituras”, afirma.
O partido tem uma das maiores bancadas no Congresso. Na Câmara, o PP conta atualmente com 41 deputados, um deles o presidente da Casa, Arthur Lira (AL). Perde para o PSL e o PT, com 53 cada, e empata com o PL. No Senado, tem sete senadores, a quarta maior bancada, atrás de MDB (15), PSD (11) e Podemos (9).
Uma aliança com o PP é, portanto, importante dos pontos de vista legislativo e eleitoral, pensando em 2022. Vidal lembra, entretanto, que o PP não é um partido coeso. Em algumas regiões, como no Centro-Sul, tende a apoiar Bolsonaro, mas, em outras, poderia ir para o lado oposto, de Luiz Inácio Lula da Silva -- mais uma razão para trazer o PP para perto.
Para o cientista político Leandro Gabiati, sócio da consultoria Dominium, a intenção de se aproximar do PP tem um motivo mais imediato: a sobrevivência política. É uma forma de o governo conseguir se aproximar do Senado, onde encontra muita resistência, além de uma CPI que gera fatos negativos para o Planalto praticamente todos os dias.
“O governo vem de forma evidente tendo problemas no Senado. Enquanto observa que, na Câmara, consegue avançar com projetos e tem uma aliança forte com o presidente Arthur Lira, no Senado é diferente”, avalia Gabiati. “O Senado se tornou um entrave muito grande para o Planalto”, diz.
Ministério do Trabalho
A reforma ministerial tem novos capítulos previstos, que pode levar a um fatiamento da máquina pública. A ideia de recriar o Ministério do Trabalho e Emprego também ganhou novo fôlego. Nos bastidores do Palácio do Planalto, a previsão é que até sexta, 23, deverá ser publicada no Diário Oficial a medida provisória que resgata a pasta.
Por enquanto, Onyx Lorenzoni (DEM), atual ministro da Secretaria-Geral do governo, segue como o nome preferido para a liderança do novo ministério.
“A criação de uma nova pasta abre uma série de possibilidades para o preenchimento de cargos de segundo e terceiro escalão, que devem ser disputados pelo Centrão”, diz César. “Com esses movimentos, Bolsonaro abre um flanco que pode provocar um efeito manada, com maior pressão para a distribuição de cargos e até a recriação de mais uma pasta, da Previdência”.
O estado de saúde de Bolsonaro, que precisou ser hospitalizado para tratar uma suboclusão intestinal, repercutiu junto aos brasileiros -- a avaliação negativa do governo diminuiu na segunda semana de julho, quando o presidente esteve internado, segundo uma pesquisa EXAME/IDEIA. Caiu de 57% para 51% a quantidade de pessoas que consideram a gestão federal ruim ou péssima. Ao mesmo tempo, a preferência dos eleitores por Luiz Inácio Lula da Silva continua em alta. O petista venceria o segundo turno com 46% das intenções de voto, diante de 34% do presidente Bolsonaro, de acordo com a pequisa EXAME/IDEIA.