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Populismo e criminalidade afetam liberdade de imprensa

O presidente do comitê anfitrião da reunião, Julio Mesquita Neto, disse que o cenário da imprensa no continente "não é nem um pouco animador"


	Arthur Sulzberger Jr. participa da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em São Paulo
 (Maurício Grego / EXAME.com)

Arthur Sulzberger Jr. participa da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em São Paulo (Maurício Grego / EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de outubro de 2012 às 20h03.

São Paulo - O populismo e o crime organizado constituem uma ameaça para a liberdade de imprensa nas Américas, advertiu nesta segunda-feira em São Paulo a 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que pediu aos governos que protejam os jornalistas e os meios de comunicação.

Na abertura oficial da assembleia, após três dias de reuniões prévias, o presidente da SIP, Milton Coleman, do jornal "The Washington Post", disse que no encontro do ano passado, em Lima,"o panorama que se via era encorajador", mas diversos fatos ocorridos nos últimos meses mostraram que as ameaças não só persistem mas até mesmo aumentam.

Segundo Coleman, em alguns lugares do continente "a liberdade de imprensa é desafiada por governos e pela criminalidade", e citou Equador, Argentina, Venezuela e México como países onde esse direito está em risco.

Além disso, pediu aos meios de comunicação que denunciem os que "querem oprimir" os jornalistas e que os governos protejam a classe. "Os governos de direita, de esquerda e de centro devem proteger os jornalistas, inclusive os que discordam" de sua política, afirmou.

O presidente do comitê anfitrião da reunião, Julio Mesquita Neto, membro do conselho administrativo do jornal "O Estado de São Paulo", compartilhou a mesma opinião e disse que o cenário da imprensa no continente "não é nem um pouco animador".

Julio Mesquita Neto lembrou os relatórios apresentados no domingo pela Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP e argumentou que o assassinato de jornalistas e atentados contra jornais cometidos por traficantes em alguns países são "alarmantes". Além disso, lamentou que as correntes populistas na América Latina tenham feito da "imprensa livre" seu inimigo.


"A volta ao passado com governos populistas, fascistas e autoritários é infelizmente uma realidade hoje, em pleno século 21", atacou.

Mesquita Neto se referia concretamente à Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Argentina, cujos governos, afirmou, "diariamente atacam a imprensa independente".

"Seguimos reféns da incoerência entre regras e valores democráticos e a manipulação desses valores por governos que se dizem democráticos", disse em discurso o editor-geral do jornal argentino "Clarín", Ricardo Kirschbaum.

O valor do "livre fluxo de informação" como elemento "fundamental para a democracia" foi sublinhado pelo editor do jornal "The New York Times", Arthur Sulzberger Jr., que se referiu aos desafios em exercer o jornalismo.

Sulzberger Jr. abordou os riscos da profissão em um mundo onde as guerras já não têm mais uma frente de batalha definida e disse que seu jornal perdeu mais jornalistas nos últimos dez ou quinze anos do que nas duas guerras mundiais, da Coreia e Vietnã juntas.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez um pronunciamento em defesa da liberdade de imprensa no continente e disse na abertura da reunião que esse direito é um "ativo" que as sociedades devem defender a cada dia porque não é algo "irreversível" em alguns países da região.


"O populismo com tendência autoritária representa a maior ameaça à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão", opinou.

Alckmin criticou os governos que sob a grandiloquência de programas como "democratização dos meios de comunicação ou controle social da imprensa" buscam controlar a imprensa livre. Além disso, afirmou que o Estado não deve se considerar um juiz da imprensa.

Uma radiografia dos perigos da atividade foi apresentada pela SIP com a pesquisa "Liberdade de Imprensa nas Américas", segundo a qual 67% dos jornalistas das Américas consideram que esse direito está ameaçado no continente.

Segundo o estudo, feito com 101 jornalistas e editores de 12 países, os países onde a liberdade de imprensa está mais ameaçada são a Venezuela (82%), seguida pela Argentina (62%), Cuba e Equador (60%), Bolívia (41%) e México (39%).

A Assembleia da SIP será encerrada amanhã com a eleição da nova junta diretora do organismo e um debate sobre a batalha que os meios de comunicação realizam contra a violência. 

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