Brasil

Políticos eram chamados de bandidos por grupo de Youssef

O carregador de dinheiro Rafael Ângulo Lopes detalhou à força-tarefa da Lava Jato como era operado o repasse de dinheiro pelo doleiro


	O doleiro Alberto Youssef é escoltado por policial federal: a denominação mais frequente utilizava por Youssef era a de "bandidos", segundo depoimento
 (Rodolfo Buhrer/Reuters)

O doleiro Alberto Youssef é escoltado por policial federal: a denominação mais frequente utilizava por Youssef era a de "bandidos", segundo depoimento (Rodolfo Buhrer/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2015 às 14h57.

São Paulo e Curitiba - Apontado como um dos responsáveis por organizar as entregas de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, o carregador de dinheiro Rafael Ângulo Lopes detalhou na última quinta-feira, 7, à força-tarefa da Lava Jato como era operado o repasse de dinheiro pelo doleiro.

Ele disse que utilizava planilhas com a denominação "band", em referência a bandidos, quando as entregas eram feitas para políticos.

A prática, segundo Ângulo, começou a partir de uma conversa com Youssef em que, ao questionar o doleiro sobre determinada entrega feita a um político, ele teria ouvido: "'anota pro Bando' ou 'anota pra este bandido', referindo-se a um político; que em razão disso o declarante abreviou o termo como forma de se recordar dos políticos e passou a utilizar a expressão band", disse em seu depoimento à Polícia Federal. Segundo ele, a denominação mais frequente utilizava por Youssef era a de "bandidos".

Mais novo delator da Lava Jato, Ângulo começou a contar o que sabe às autoridades neste ano e inclusive já encaminhou à Procuradoria-Geral da República diversas planilhas com o "movimento diário de valores" no escritório do doleiro. Além da documentação, ele revelou em detalhes como era o modus operandi do delivery de propina de Youssef.

Políticos

No caso dos "bandidos", segundo a denominação utilizada pelo grupo, Ângulo revelou às autoridades que teve um contato inicialmente com José Janene, mentor do doleiro, e a partir de 2007 passou a "ter um relacionamento mais próximo com outros agentes políticos sempre acompanhado de Alberto Youssef", disse.

Além disso, ele contou que começou a ver políticos irem ao escritório de Youssef a partir de 2008 e, nestes casos, via de regra, os "bandidos" se reuniam inicialmente com o doleiro que, em seguida, pedia para ele separar determinada quantia de dinheiro e colocar em envelopes ou mesmo sacolas de shopping ou de supermercado.

O dinheiro em espécie era então repassado a Youssef "na frente dos políticos" e, posteriormente, repassado para os políticos na sua frente. "Por vezes, alguns políticos já iam ao escritório portando uma maleta de viagem de boro ou pastas", relatou às autoridades.

Viagens

Os "serviços" de Youssef não se limitavam ao seu escritório na capital paulista e também envolviam viagens para entregar dinheiro aos seus "clientes".

Nestes casos, segundo o delator, o doleiro avisava que ele iria viajar e pedia para ele separar uma quantia em dinheiro e que "quando se tratava de políticos, Youssef já dizia ao declarante qual era o político destinatário da quantia antes da viagem", relatou.

A partir daí, Ângulo contou que pegava o dinheiro no cofre da empresa do doleiro e utilizava "sempre meias tipo meiões de futebol" para guardar o dinheiro.

Com as pernas "carregadas", ele então se dirigia ao aeroporto, "normalmente de taxi", com carro próprio ou mesmo levado por algum funcionário do doleiro.

Nas viagens, segundo relatou, além do dinheiro levava apenas bagagem de mão e nunca levava o nome do destinatário ou endereço de quem receberia o dinheiro. 

Toda a operação era acompanhada "ponto a ponto" por meio de contato telefônico com o doleiro, a quem ele sempre avisava ao embarcar e desembarcar nos aeroportos. Com esse modus operandi, conta, nunca foi parado no aeroporto.

Ao voltar das viagens, que não duravam mais que um dia, Ângulo lançava a movimentação em suas planilhas de controle, mantidas apenas por ele.

Em seu depoimento, contudo, ele cita apenas as entregas para o ex-deputado André Vargas (sem partido) no ano de 2014.

Em fevereiro daquele ano, menos de um mês antes da deflagração da Lava Jato, ele fez três repasses ao então deputado. Sendo dois lançamentos no dia 19, um no valor de R$ 365 mil e outro de R$ 135 mil, e outro no dia 26 daquele mês, no valor de R$ 140 mil.

Graças a sua colaboração, agora esta e outras planilhas estão à disposição dos investigadores que poderão rastrear com mais detalhes o caminho do dinheiro da lavanderia de Youssef aos políticos.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoDoleirosEscândalosFraudesOperação Lava Jato

Mais de Brasil

STF forma maioria para manter prisão de Robinho

Reforma Tributária: pedido de benefícios é normal, mas PEC vetou novos setores, diz Eurico Santi

Ex-vice presidente da Caixa é demitido por justa causa por assédio sexual