São Paulo e Curitiba - Apontado como um dos responsáveis por organizar as entregas de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, o carregador de dinheiro Rafael Ângulo Lopes detalhou na última quinta-feira, 7, à força-tarefa da Lava Jato como era operado o repasse de dinheiro pelo doleiro.
Ele disse que utilizava planilhas com a denominação "band", em referência a bandidos, quando as entregas eram feitas para políticos.
A prática, segundo Ângulo, começou a partir de uma conversa com Youssef em que, ao questionar o doleiro sobre determinada entrega feita a um político, ele teria ouvido: "'anota pro Bando' ou 'anota pra este bandido', referindo-se a um político; que em razão disso o declarante abreviou o termo como forma de se recordar dos políticos e passou a utilizar a expressão band", disse em seu depoimento à Polícia Federal. Segundo ele, a denominação mais frequente utilizava por Youssef era a de "bandidos".
Mais novo delator da Lava Jato, Ângulo começou a contar o que sabe às autoridades neste ano e inclusive já encaminhou à Procuradoria-Geral da República diversas planilhas com o "movimento diário de valores" no escritório do doleiro. Além da documentação, ele revelou em detalhes como era o modus operandi do delivery de propina de Youssef.
Políticos
No caso dos "bandidos", segundo a denominação utilizada pelo grupo, Ângulo revelou às autoridades que teve um contato inicialmente com José Janene, mentor do doleiro, e a partir de 2007 passou a "ter um relacionamento mais próximo com outros agentes políticos sempre acompanhado de Alberto Youssef", disse.
Além disso, ele contou que começou a ver políticos irem ao escritório de Youssef a partir de 2008 e, nestes casos, via de regra, os "bandidos" se reuniam inicialmente com o doleiro que, em seguida, pedia para ele separar determinada quantia de dinheiro e colocar em envelopes ou mesmo sacolas de shopping ou de supermercado.
O dinheiro em espécie era então repassado a Youssef "na frente dos políticos" e, posteriormente, repassado para os políticos na sua frente. "Por vezes, alguns políticos já iam ao escritório portando uma maleta de viagem de boro ou pastas", relatou às autoridades.
Viagens
Os "serviços" de Youssef não se limitavam ao seu escritório na capital paulista e também envolviam viagens para entregar dinheiro aos seus "clientes".
Nestes casos, segundo o delator, o doleiro avisava que ele iria viajar e pedia para ele separar uma quantia em dinheiro e que "quando se tratava de políticos, Youssef já dizia ao declarante qual era o político destinatário da quantia antes da viagem", relatou.
A partir daí, Ângulo contou que pegava o dinheiro no cofre da empresa do doleiro e utilizava "sempre meias tipo meiões de futebol" para guardar o dinheiro.
Com as pernas "carregadas", ele então se dirigia ao aeroporto, "normalmente de taxi", com carro próprio ou mesmo levado por algum funcionário do doleiro.
Nas viagens, segundo relatou, além do dinheiro levava apenas bagagem de mão e nunca levava o nome do destinatário ou endereço de quem receberia o dinheiro.
Toda a operação era acompanhada "ponto a ponto" por meio de contato telefônico com o doleiro, a quem ele sempre avisava ao embarcar e desembarcar nos aeroportos. Com esse modus operandi, conta, nunca foi parado no aeroporto.
Ao voltar das viagens, que não duravam mais que um dia, Ângulo lançava a movimentação em suas planilhas de controle, mantidas apenas por ele.
Em seu depoimento, contudo, ele cita apenas as entregas para o ex-deputado André Vargas (sem partido) no ano de 2014.
Em fevereiro daquele ano, menos de um mês antes da deflagração da Lava Jato, ele fez três repasses ao então deputado. Sendo dois lançamentos no dia 19, um no valor de R$ 365 mil e outro de R$ 135 mil, e outro no dia 26 daquele mês, no valor de R$ 140 mil.
Graças a sua colaboração, agora esta e outras planilhas estão à disposição dos investigadores que poderão rastrear com mais detalhes o caminho do dinheiro da lavanderia de Youssef aos políticos.
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1. Conheça cada fase da Lava Jato
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1/19 (Paulo Whitaker/Reuters)
São Paulo – Do uso de uma rede de postos de gasolina para lavar dinheiro roubado (daí o nome da operação) à prisão dos presidentes das duas maiores empreiteiras do país, a Operação Lava Jato continua surpreendendo os brasileiros. A ação que apura uma série de fraudes em licitações da Petrobras já dura pouco mais de um ano. Nesse período, foram para a cadeia executivos de grandes empresas, doleiros, ex-diretores da Petrobras, políticos e operadores do esquema. Navegue pelos slides acima e entenda o que aconteceu em cada uma das fases desta mega operação. Atualizado em 28/07/2015.
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2. 16ª fase (28/07/2015) — "Radioatividade"
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2/19 (Arquivo/Agência Brasil)
Foi deflagrada na manhã do dia 28 de julho a 16° fase da Operação Lava Jato. Batizada de "Radioatividade", a nova fase tem como foco os contratos firmados por empresas mencionadas durante a investigação com a Eletronuclear – subsidiária da Eletrobras –, as obras da usina nuclear Angra 3 e pagamentos de propina a funcionários da estatal. Foram cumpridos 23 mandados de buscas e apreensão, dois de prisão temporária e cinco de condução coercitiva em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói (RJ), São Paulo e Barueri (SP). Um
dos presos é Othon Luiz Pinheiro da Silva, diretor-presidente da Eletronuclear.
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3. Operação Politéia (14/07/2015)
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3/19 (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Deflagrada na manhã de 14 de julho, a Operação Politéia é a primeira fase da Operação Lava Jato voltada para a investigação de políticos suspeitos de envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras.
Foram cumpridos 53 mandados de busca de apreensão na casa de seis políticos, entre eles o ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Na casa da Dinda, mansão do ex-presidente, foram apreendidos três veículos de luxo: uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini. O nome da operação faz referência ao livro "A República", de Platão, que descreve uma cidade perfeita, na qual a ética prevalece sobre a corrupção.
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4. 15ª fase (02/07/2015) — "Conexão Mônaco"
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4/19 (José Cruz/ Agência Brasil)
Batizada de Conexão Mônaco, a 15° fase da Operação Lava Jato
foi marcada pela prisão preventiva do ex-diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada. Zelada foi citado como um dos beneficiários do esquema de corrupção por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. O ex-gerente de serviços da estatal, Renato Duque, também mencionou Zelada no esquema de pagamento de propina. Foram cumpridos outros quatro mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e Niterói.
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5. 14ª fase (19/06/2015) — "Erga Omnes"
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5/19 (REUTERS/Rodolfo Burher)
A 14ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada na madrugada do dia 19 de junho com 59 mandados judiciais, incluindo a prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, de Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez e de outros dez executivos das companhias. Batizada de Erga Omnes, expressão em latim que significa “vale para todos”, a 14ª fase investiga crimes de formação de cartel, fraude a licitações, corrupção, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro, entre outros. Segundo a Polícia Federal, as duas construtoras operavam um esquema mais “sofisticado” na hora de pagar propina a funcionários da Petrobras, e faziam os depósitos em contas no exterior.
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6. 13ª fase (21/05/2015)
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6/19 (Getty Images)
Deflagrada no dia 21 de maio, a 13ª fase da Operação Lava Jato teve como alvo as atividades de operadores financeiros que atuavam juntos em contratos firmados por empreiteiras com a Petrobras. Seis mandados judiciais foram cumpridos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na ocasião, foi preso Milton Pascowitch, dono da Jamp Engenheiros Associados. O empresário é um dos acusados de ser operadores de propina nos contratos de construção de 29 sondas para exploração de petróleo em águas profundas, pela Petrobras.
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7. 12ª fase (15/04/2015)
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7/19 (Rodolfo Buhrer/Reuters)
A 12ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada no dia 15 de abril com a prisão do ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto. A prisão foi decretada depois que os investigadores encontraram depósitos nas contas da mulher e da cunhada de Vaccari, vistos como indícios de propina no esquema de corrupção na Petrobras. Além de prender o tesoureiro do PT, a Polícia Federal cumpriu também mandado de condução coercitiva de Giselda Rouse de Lima, mulher de Vaccari. Por conveniência, Giselda foi ouvida em sua casa. Os policias disseram que o teor de seu depoimento não acrescentou à investigação. Marice Correa de Lima, cunhada de Vaccari, se entregou à polícia no dia 17 de abril. Seis dias depois, foi solta após surgirem dúvidas se de fato era ela quem aparecia no vídeo de uma agência bancária – considerado, até então, como uma prova de que ela movimentava dinheiro com origem de corrupção para a conta da irmã Giselda.
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8. 11ª fase (10/04/2015) — "A Origem"
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8/19 (Polícia Federal de Curitiba)
A Polícia Federal deflagrou no dia 10 de abril a 11ª fase da Operação Lava Jato. Batizada de “A Origem”, esta etapa levou para a prisão os ex-deputados André Vargas (ex-PT-PR e hoje sem partido), Luiz Argôlo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE), além de quatro pessoas ligadas a eles. O nome da fase da operação faz referência às suspeitas contra os ex-parlamentares, cujo envolvimento com o esquema foi descoberto nas primeiras etapas da investigação, no ano passado. A investigação abrange, além de fatos ocorridos no âmbito da Petrobras, desvios de recursos ocorridos em outros órgãos públicos federais, como fraudes em contratos publicitários do Ministério da Saúde e da Caixa Econômica Federal. A fase tem por objetivo apurar fatos criminosos atribuídos a três grupos de ex-agentes políticos, abrangendo os crimes de organização criminosa, quadrilha ou bando, corrupção ativa, corrupção passiva, fraude a procedimento licitatório, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e tráfico de influência. Cerca de 80 policiais federais cumpriam 32 mandados judiciais: 7 mandados de prisão, 9 mandados de condução coercitiva e 16 mandados de busca e apreensão nos estados do Paraná, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
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9. 10ª fase (16/03/2015) — "Que país é esse"
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9/19 (Polícia Federal – Curitiba)
Em 16 de março de 2015, a Polícia Federal desencadeou a décima fase da Operação Lava Jato, intitulada “Que país é esse”. A frase foi dita pelo ex-diretor da Petrobras Renato Duque em uma conversa com seu advogado em novembro do ano passado, durante o cumprimento do mandado de prisão. Duque é um dos suspeitos de envolvimento no esquema. Após ser informado pelos agentes da PF de que seria transferido do Rio de Janeiro, onde mora, para a Superintendênciada Polícia Federal em Curitiba, o ex-diretor reagiu indignado: "O que é isso? Que país é esse?". O diálogo foi captado por meio de uma escuta telefônica feita pelos policiais. Cerca de 40 policiais federais cumpriram 18 mandados judiciais no Rio de Janeiro e em São Paulo: dois de prisão preventiva, quatro de prisão temporária e 12 mandados de busca e apreensão. Os presos são investigados pela prática de crimes como associação criminosa, uso de documento falso, corrupção passiva e corrupção ativa, além de fraude em processo licitatório e lavagem de dinheiro. Nesta fase da operação, a PF apreendeu mais de 100 obras de arte na casa de Renato Duque.
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10. 9ª fase (05/02/2015) — "My Way"
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10/19 (Divulgação/Nogari Leilões)
Em fevereiro, tem início a 9ª fase da Operação Lava Jato, que foi batizada pela Polícia Federal de "My Way". A alusão à famosa canção de Frank Sinatra deve-se à maneira como o ex-diretor de serviços da Petrbras Renato Duque era chamado pelo ex-gerente Pedro Barusco. O objetivo da fase era produzir provas sobre pagamentos de propinas para agentes públicos relacionados à diretoria de serviço da Petrobras e à BR Distribuidora, subsidiária da empresa. Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva, três de prisão temporária, 18 de condução coercitiva e 40 de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina. Dentre os alvos da ação está tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que foi levado para prestar esclarecimentos à polícia. O volume de dinheiro em espécie apreendido na nona fase da Lava Jato supera os R$ 3 milhões.
Também foram apreendidas 35 obras de arte, 518 relógios de luxo, cinco veículos de alto valor de mercado, grande quantidade de documentos e notas fiscais e munições.
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11. 8ª fase (14/01/2015)
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11/19 (Daniel Derevecki/Reuters)
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12. 7ª fase (14/11/2014)
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12/19 (DIVULGAÇÃO/Camargo Correia)
Os depoimentos e provas colhidas em decorrência das colaborações, bem como a análise de materiais apreendidos, documentos, dados bancários e interceptações telefônicas, permitiram o avanço das apurações em direção às grandes empresas acusadas de corromper os agentes públicos. Em 14 de novembro de 2014, a PF em conjunto com a Receita Federal cumpre 49 mandados de busca, 6 de prisão preventiva, 21 de prisão temporária e 9 de condução coercitiva, em diversas cidades do país, especialmente em grandes empresas de construção como Engevix, Mendes Júnior, OAS, Camargo Correa, Galvão Engenharia, UTC Engenharia, IESA, Queiroz Galvão e Odebrecht. Executivos de algumas dessas empreiteiras foram presos, e alguns estão detidos até hoje.
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13. 6ª fase (22/08/2014)
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13/19 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Na sexta fase da Operação Lava Jato, a PF cumpriu 15 mandados de busca e um de condução coercitiva. Em trabalho integrado com a força-tarefa do Ministério Público Federal, os auditores fiscais da Receita Federal forneceram um dossiê contendo provas de que Paulo Roberto Costa e familiares estavam envolvidos na lavagem de milhões de reais oriundos da Petrobras.
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14. 5ª fase (01/07/2014)
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14/19 (Freeimages.com)
Em 1º de julho, a PF cumpriu sete mandados de busca, um de prisão temporária e um de condução coercitiva. O preso foi um auxiliar do doleiro Alberto Youssef que seria responsável por movimentar uma conta na Suíça, segundo a PF.
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15. 4ª fase (11/06/2014)
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15/19 (Divulgação/Polícia Federal/ABr)
Na quarta fase, a PF cumpriu um mandado de busca e um mandado de prisão preventiva – a do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que respondia em liberdade. A Justiça temia que ele tentasse fugir do país por ter mais de US$ 23 milhões em bancos na Suíça.
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16. 3ª fase (11/04/2014)
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16/19 (Divulgação/Polícia Federal)
Na terceira fase da
Lava Jato, deflagrada em 11 de abril de 2014, a PF cumpriu 16 mandados de busca, três de prisão temporária e seis de condução coercitiva (para que a pessoa seja ouvida em depoimento, mas não presa). O foco era aprofundar as investigações sobre os doleiros. Nesse mesmo dia, a Petrobras voluntariamente colaborou e entregou os documentos procurados, evitando buscas e apreensões.
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17. 2ª fase (20/03/2014)
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17/19 (Valter Campanato/ABr)
Em 20 de março, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso e foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro. Em seguida, os procuradores da República viriam a acusar o ex-diretor e seus familiares pelo crime de obstrução à investigação de organização criminosa.
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18. 1ª fase (17/03/2014)
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18/19 (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Em 17 de março de 2014, a PF deflagra a primeira fase ostensiva da Operação Lava Jato. Foram cumpridos 130 mandados judiciais em sete estados. Dezessete pessoas foram presas, entre elas, Alberto Youssef, doleiro suspeito de comandar o esquema de lavagem de dinheiro.
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19. Agoa veja o que têm a dizer os políticos que serão investigados no STF
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19/19 (Pedro França/Agência Senado)