Policiais em instalão da UPP: comissária de política do Haiti disse que comum com o Brasil é o fato de grupos violentos dominarem áreas historicamente abandonadas pelo Poder Público (Tomaz Silva/ Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2014 às 19h13.
Oficiais da Força Nacional do Haiti estão no Rio de Janeiro para conhecer o programa das unidades de polícia pacificadora (UPPs). A visita, que termina na próxima-quarta feira (5), faz parte de um termo de cooperação entre a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) e a Polícia Nacional do Haiti, que tem foco no intercâmbio de profissionais e na troca de experiência entre os países em áreas como estratégia de intervenção, pacificação e polícia de proximidade.
Hoje (29), os visitantes estiveram no Batalhão de Ações com Cães, onde assistiram a palestras e demonstrações táticas no Comando do Batalhão de Choque.
De acordo com um dos articuladores da visita, o coordenador da organização não governamental (ONG) Viva Rio no Haiti, Ubiratã Angelo, o principal objetivo do intercâmbio é mostrar todo o processo de implantação das UPPs e como é trabalhada a relação de proximidade entre os agentes de segurança e a população local.
“O processo de pacificação engloba a decisão de governo, qual área será pacificada – aí entra a inteligência policial, depois entram as tropas de intervenção, por isso os visitantes conversam com essas três unidades inicialmente”, explicou Angelo.
Segundo ele, segunda-feira (27), os haitianos foram ao gabinete do comandante geral e, ontem (28), ao Batalhão de Operações Especiais e à favela Tavares Bastos.
Nos próximos três dias, os oficiais vão passar por um processo de imersão na favela do Santa Marta, primeira comunidade a receber uma UPP. “Nesses três dias, eles poderão conversar com a comunidade e sentir como funciona a polícia de proximidades, disse o coordenador da Viva Rio no Haiti.
Angelo, que já foi comandante-geral da PMRJ, passa 20 dias no Haiti de dois em dois meses. “Um de nossos primeiros trabalhos no Haiti, em 2006, foi mediar conflitos coletivos entre líderes de gangues. Isso permitiu um acordo de paz”, afirmou. “Hoje, temos um projeto com a Polícia do Haiti chamado Estratégia de Proximidade, que é unir polícia e liderança comunitária para analisar e discutir os problemas locais e buscar soluções”, informou.
A comissária de Polícia do Haiti, Marie Louise Gauthier, explicou que, em seu país, os grupos armados violentos não sobrevivem do tráfico de drogas, como no Brasil, mas, sobretudo, de roubos, sequestros e outras ilegalidades.
Ela disse que, em comum com o Brasil, é o fato de tais grupos dominarem áreas historicamente abandonadas pelo Poder Público. Para Marie Louise, as semelhanças culturais e geográficas entre os dois países podem facilitar a adoção nas comunidades mais carentes do Haiti de estratégias já usadas no Brasil.
Estão previstos ainda um encontro com a chefe da Polícia Civil, Marta Rocha, visitas à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e a equipamentos da Rede de Proteção e um sobrevoo de patrulhamento, entre outras atividades. O convênio prevê também a ida de policiais brasileiros ao Haiti para conhecer a realidade da ilha e auxiliar na implantação de estratégias de segurança em zonas violentas.