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Policiais civis e militares em rota de colisão no Rio de Janeiro

Governador e secretário de Segurança negam crise, apesar da sequência de embates entre as instituições iniciada na ocupação da favela da Rocinha.

“Não há crise. O secretário Beltrame foi muito feliz ontem (quinta-feira) ao declarar que não há crise”, afirmou Cabral (Agência Brasil)

“Não há crise. O secretário Beltrame foi muito feliz ontem (quinta-feira) ao declarar que não há crise”, afirmou Cabral (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2011 às 18h59.

Rio de Janeiro - Pelo segundo dia seguido, o governo do estado do Rio de Janeiro precisou negar publicamente a existência de uma crise entre as polícias Civil e Militar. Nesta sexta-feira, o governador Sérgio Cabral, durante a cerimônia de inauguração da reforma de um parque na zona norte, tentou acalmar os ânimos entre as polícias estaduais.

“Não são instituições distintas, em que a Polícia Militar e a Polícia Civil, isoladamente, fazem o seu trabalho. Elas trabalham unificadas, sob o comando da Secretaria de Segurança Pública do estado”, disse. Na quinta-feira, o secretário José Mariano Beltrame, que vinha evitando comentar a prisão do coronel Djalma Beltrami, comandante do 7º BPM acusado de receber propina de traficantes de São Gonçalo, divulgou arquivo de áudio com declarações que tentam desmentir que há cizânia entre PMS e policiais civis.

“Não há crise. O secretário Beltrame foi muito feliz ontem (quinta-feira) ao declarar que não há crise”, afirmou o governador. Segundo ele, tudo que é preciso é concluir as investigações sobre Djalma Beltrami. “Esse conflito vai se elucidar com o término de todos os procedimentos. Os inocentes serão inocentados e os culpados serão punidos", disse Cabral. Que emendou mais uma vez: "Não há crise.” Mas a repetição das negativas tem menos a ver com os fatos do que com o desejo de evitar que a fervura aumente.

Beltrami, que foi posto em liberdade e afastado do cargo de comando em seguida, luta para provar que é inocente – contra ele, até o momento, foram apresentados apenas indícios. A prisão do oficial, considerada abusiva pela cúpula da PM e criticada pelo desembargador Paulo Rangel, que concedeu habeas corpus ao oficial, é o capítulo mais recente de um embate que teve início na ocupação da favela da Rocinha, em novembro.

Policiais militares e civis sempre disputaram espaço na cúpula da segurança. E sempre que há um desequilíbrio seja de prestígio, de espaço no governo ou de visibilidade, batalhões, delegacias e gabinetes entram em ebulição. O secretário José Mariano Beltrame deixou a temperatura subir quando permitiu que a Polícia Civil fosse quase totalmente excluída da ocupação da Rocinha, em 13 de novembro.

Duas semanas antes da ocupação, o chefe do Estado Maior da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto, convocou uma reunião para planejar a operação. Representantes da Polícia Civil participaram do encontro, mas só ouviram. A participação dos policiais civis se deu apenas com o uso de dois helicópteros, e os louros da ação ficaram com a PM e os militares do Exército.

Na ocupação da Rocinha, aliás, a Polícia Civil será lembrada mais pelos desvios de seus agentes e pelas trapalhadas. Três policiais civis foram presos escoltando um traficante que fugia da favela. E, na captura do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, agentes da instituição protagonizaram um episódio ainda mal explicado: o carro em que estava o bandido foi interceptado pela PM, mas os advogados, antes de revelar o esconderijo, no porta-malas do Toyota, insistiram para que todos fossem encaminhados a uma delegacia de Polícia Civil. Um soldado da PM furou o pneu do veículo para garantir que todos fossem levados para a sede da Polícia Federal.

Sem colher louros da operação na Rocinha, a chefe de Polícia, delegada Martha Rocha, passou a exigir maior produtividade dos delegados a ela subordinados. Na prisão do coronel Djalma Beltrami, havia algumas questões pessoais envolvidas. Martha Rocha disse a subordinados próximos que estava “animada” com a possibilidade de prender o oficial, pois irritara-se com Beltrami no episódio em que um maníaco assassinou 12 crianças em uma escola pública de Realengo, na zona oeste do Rio. Por conta própria, Beltrami, então comandante do 14º BPM (Bangu), deu entrevistas afirmando que se tratava de um ato terrorista.

O delegado Alan Luxardo, que fez a prisão do coronel Djalma Beltrami, afirma que a prisão foi obtida por meio de evidências contra o oficial, e recebeu parecer favorável do Ministério Público e de um juiz. A decisão favorável ao habeas corpus que libertou Beltrami, no entanto, assinada pelo magistrado Paulo Rangel, afirma que os policiais “brincaram de investigar”, e recomendava, inclusive, a manutenção de Beltrami no comando do 7º BPM. Luxardo avisa: nem todas as provas do inquérito vieram a público, e novas prisões podem ocorrer.

Além da prisão de um oficial da PM, os oficiais da corporação ficaram irritados com a maneira que a Corregedoria da Polícia Militar foi mantida à margem das ações. O corregedor Waldir Soares Filho não teve acesso ao inquérito, e afirma que ficou sabendo das interceptações telefônicas pela imprensa.

Boicote – Em meio à tensão entre as duas instituições, policiais civis e militares atuaram lado a lado, na última quinta-feira, em uma ação contra milicianos na zona norte do Rio. Seria uma oportunidade de os agentes das duas forças demonstrarem que, acima das diferenças, está o combate ao crime. Seria.

Durante a ação – batizada de Operação Lobão –, policiais civis foram impedido de reabastecer as viaturas no Batalhão de Choque da PM, o que causou constrangimento a três delegados. A determinação para que o reabastecimento fosse feito naquele local era do comando da operação e da corregedoria das polícias.

Com a crise instalada, a chefe de polícia e o comandante-geral da PM, Erir Ribeiro Costa Filho, encontraram-se na quinta-feira, na sede da Chefia de Polícia Civil. O encontro não foi divulgado e não houve entrevistas sobre o teor da conversa.

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