Protesto contra a Copa do Mundo no Brasil em São Paulo, em janeiro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2014 às 21h34.
Rio de Janeiro - Um dia antes do início da Copa do Mundo, com pelo menos dois protestos contra a competição marcados para esta quinta-feira, 12, no Rio de Janeiro, dez ativistas de presença constante nas manifestações tiveram seus computadores e celulares apreendidos e foram levados nesta quarta-feira, 11, à delegacia para prestar depoimento durante todo o dia.
Entre eles estava a ativista Elisa Quadros, a Sininho, que ficou conhecida após os protestos do ano passado.
A polícia fez a operação logo cedo, por volta das 6h, para o cumprimento de 17 mandados de busca e apreensão nas casas de "pessoas investigadas por participação direta ou indireta em prática de atos violentos durante protestos", informou em nota a corporação.
Sininho estava entre os conduzidos à Delegacia de Repressão a Crimes de Internet (DRCI).
Ao contrário dos demais ativistas, que passaram o dia na Cidade da Polícia, no Jacaré, zona norte do Rio, Sininho foi embora às 13h e teve o depoimento remarcado para quinta-feira, às 10h30.
Ela tinha de participar como testemunha de audiência na Auditoria da Justiça Militar no processo que o major Fábio Pinto Gonçalves e o primeiro tenente Bruno César Andrade Ferreira respondem por constrangimento ilegal.
Em setembro de 2013, os dois PMs foram flagrados em vídeo forjando um flagrante de posse de explosivo contra um manifestante.
Os advogados de Sininho e outros ativistas disseram que sete pessoas foram levados à delegacia para depor (entre eles um menor, de 17 anos). A polícia, em nota, informou que eram dez.
"A intenção do Estado neste momento é estabelecer a prova, que eles não vão conseguir porque não existe, da tal organização ou associação criminosa", disse o defensor de Sininho, Marino D'Icarahy, que hoje representava outros dois ativistas, Eduarda Castro e Thiago Rocha.
Foram apreendidos computadores, tablets, smartphones, pendrives, HDs, roupas, máscaras (como a de Guy Fawkes, popularizada nos protestos e pelo grupo Annonymous), bandanas e até um taco de softbol (parecido com o de beisebol), que uma das ativistas informou usar há 20 anos para praticar o esporte.
A polícia não divulgou detalhes sobre a operação ou teor (e objetivo) dos depoimentos. Informou apenas que as investigações continuam e o inquérito está sob segredo de Justiça.
"A ação é um desdobramento do inquérito da DRCI que, em 4 de setembro do ano passado, prendeu e indiciou três homens por formação de quadrilha e incitação à violência".
Para o advogado de Sininho, a escolha da véspera da Copa para realizar a operação não foi por acaso. "Não existem coincidências. Foi tudo programado, de caso pensado, parte de um processo de intimidação e criminalização do ativismo político".
Preocupação
A Anistia Internacional divulgou nota hoje em que demonstra preocupação com iniciativas da Secretaria de Segurança do Rio que "possam intimidar manifestantes" durante a Copa.
No documento, a ONG também questiona a decisão da FIFA de negar trânsito livre para a Defensoria Pública em locais de competição, como o estádio do Maracanã.
"A Anistia Internacional espera que, durante o período dos jogos, manifestantes não sofram qualquer tipo de intimidação ou represália.
A liberdade de expressão e manifestação pacífica são um direito humano e devem ser garantidos pelo Estado brasileiro durante a Copa", escreveu o diretor executivo da entidade no País, Atila Roque.