Uso de repelentes e eliminação dos focos são algumas das medidas para combater a dengue (Divulgação: Zigres/Getty Images)
Repórter
Publicado em 12 de fevereiro de 2024 às 17h16.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2024 às 10h42.
“No ano passado o Brasil foi o país com o maior número de casos notificados da dengue e bateu recorde no número de óbitos em relação ao ano anterior; muito provavelmente teremos um novo recorde neste ano”, afirma Júlio Croda, médico infectologista da Fundação Oswaldo Cruz e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Em 2023, o médico afirma que o país registrou 2,900 milhões pessoas notificadas, 1,600 milhão de casos confirmados e mil óbitos. Só no começo deste ano, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já conta com mais de 500 mil casos, mais de 300 óbitos sendo investigados e 75 óbitos confirmados pela dengue.
“Entre o fim de janeiro e começo de fevereiro somamos aproximadamente 120 mil casos de dengue, o que já supera o pico que ocorreu em 2023, entre abril e maio”, diz Croda que reforça que em dois meses já superamos um número que era esperado na sazonalidade. “Com este cenário as chances de bater um recorde de casos e de mortes este ano é grande; podemos chegar a mais de 3 milhões de casos suspeitos e a mais de 2 milhões de casos confirmados em 2024.”
Entre as regiões de alerta, o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde mostra que neste ano merecem destaque o Distrito Federal e os estados de Minas Gerais, Acre, Paraná, Goiás e Espírito Santo. Em 2023, destacaram-se o Espírito Santo, Rondônia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.
Estamos passando pelo cenário climático ideal para a proliferação do mosquito, afirma Luana Araújo, infectologista e epidemiologista.
“Os casos de dengue aumentam nesse período de alta temperatura e muita chuva, é neste cenário que o ciclo de reprodução do vetor fica mais curto, porque ele se reproduz mais rápido em ambientes quentes e úmidos.”
Além do aumento da temperatura, as arboviroses é uma das principais doenças associadas às mudanças climáticas, principalmente em 2023 e 2024 em que tivemos os efeitos do El Niño, que vai durar até abril de 2024. “Isso aumentou as temperaturas no Brasil e favoreceu fenômenos extremos de chuva. Regiões que não tinham transmissão da dengue por causa do clima mais frio, agora sofrem também com as altas temperaturas e com o aumento dos casos de dengue como, por exemplo, RS, o norte de Argentina, Uruguai e sul da Itália, que estão apresentando agora surtos importantes de dengue por causa dessas alterações climáticas”, diz Croda.
A dengue pode apresentar quadro subclínico, ou seja, a pessoa tem a doença e não sente nada, até quadros gravíssimos que precisam de abordagem imediata; mas o quadro da dengue clássico é dado por febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor muscular generalizada, vômitos, diarreia, afirma Araújo. “Em casos de resolução espontânea os sintomas acabam em 7 dias”.
O primeiro passo, quando tiver um dos sintomas, é buscar o diagnóstico médico, afirma a médica, que reforça que há muitos sintomas que podem ser confundidos com outras doenças como malária na região Norte, Covid, influenza e leptospirose. “É interessante que todos tenham acesso para o diagnóstico inicial para depois ser acompanhado com o tratamento ambulatorial correto até o fim da doença.
Outro alerta importante é se atentar aos sintomas mais graves que podem ser dor abdominal intensa, vômitos recorrentes, diminuição de volume urinário, sangramento pelas fezes ou vômitos. “Nestes casos é obrigatório a ida ao médico, porque será necessário alguma intervenção, como hidratação endovenosa”, afirma Araújo.
Pessoas de todas as idades têm risco de adquirir a doença, mas a mortalidade é maior em pessoas acima de 60 anos, crianças, adolescentes, grávidas e pessoas com comorbidades.
“Considerando as recomendações da vacina contra a dengue, a OMS recomenda o início da vacinação para a faixa etária entre 6 e 16 anos, porque os mecanismos imunológicos não são suficientes para controlar a doença. Isso é uma recomendação global e no Brasil vamos começar a vacinar a faixa etária entre 10 e 14 anos, mas vale ressaltar que para pessoas acima de 60 anos essa vacina ainda não está aprovada”, diz Croda.
Tratamento da dengue não tem um antiviral específico, ele é majoritariamente de suporte, controla dor e demais sintomas do paciente, afirma Araújo. “Majoritariamente é uma questão de reposição hídrica, porque o paciente perde muito líquido”, diz a médica, que reforça que devemos ter cuidado com pseudo-tratamentos que estão sendo divulgados na internet hoje como ivermectina e outras drogas que não foram aprovadas no combate à dengue.
Uso de mosquiteiros e telas podem ser usados também, principalmente para a população que não pode receber o uso de repelentes, como bebês abaixo de 3 meses. “Os repelentes que temos no Brasil são eficazes contra o mosquito da dengue, e quanto mais concentrados estão no corpo mais tempo eles duram, por isso sugerimos aplicar mais de uma vez ao dia, de acordo com as indicações do produto e do limite de idade”, afirma Araújo.
Além da vacina contra a dengue para cidadãos entre 10 e 14 anos e do uso do repelente, outra medida importante no Brasil é a eliminação dos focos, afirma Croda, que reforça que terrenos baldios e casas abandonadas podem se tornar mega reservatórios, o que requer intervenção do poder público para eliminar esses focos da doença.
“O mais importante é que a população se mobilize para eliminar os focos de água parada dentro de casa ou na região onde mora, e essa ação tem que ser feita toda semana, porque o ciclo de vida do mosquito dura de 7 a 10 dias", diz o infectologista.
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