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Planalto tenta desviar atenção de delação com agenda alternativa

A ideia de que a delação completa da Odebrecht pode exonerar de alguma forma o PMDB e voltar o foco para o PT está presente na estratégia

Temer: o governo alega, por exemplo, que a denúncia de que Temer teria negociado uma doação de 10 milhões de reais não tem qualquer crime (Adriano Machado/Reuters)

Temer: o governo alega, por exemplo, que a denúncia de que Temer teria negociado uma doação de 10 milhões de reais não tem qualquer crime (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 20h00.

Brasília - Depois de dias de intensa pressão, o Palácio do Planalto investe em estratégias para desviar a atenção da sequência de denúncias que atingiu boa parte do primeiro escalão do governo, com o anúncio de medidas econômicas, possivelmente esta semana, e uma tentativa de desconstruir a delação premiada do ex-diretor de relações institucionais da Odebrechet Cláudio Melo Filho.

A carta assinada pelo presidente Michel Temer e enviada nesta segunda-feira ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo que a PGR acelere as investigações e as delações dos executivos da Odebrecht, foi gestada durante a manhã em uma reunião.

No encontro, além de Temer, estavam os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Justiça, Alexandre de Moraes, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o secretário do Programa de Parcerias Investimentos, Moreira Franco.

A avaliação do grupo, hoje o mais próximo de Temer, é que o governo precisa insistir na tese de que a delação de Melo Filho mostra um retrato não verdadeiro, faz um recorte para causar o "máximo impacto possível", mas é cheio de incongruências.

"Vamos lembrar que essa época (2014) era a época do 'vice decorativo'. O PMDB não tinha poder de decisão. Onde está o capítulo do Palácio do Planalto?", disse uma fonte palaciana.

O governo alega, por exemplo, que a denúncia de que Temer teria negociado uma doação de 10 milhões de reais não tem qualquer crime, já que a doação foi legal, comprovada por um depósito na conta de campanha do PMDB em 2014.

A ideia de que a delação completa da Odebrecht pode exonerar de alguma forma o PMDB e voltar o foco para o PT, ocupantes anteriores do Planalto, está presente na estratégia, mas o governo admite que não há como pedir quebra de sigilo das delações.

"O sigilo só pode cair depois que todas as delações forem homologadas pelo Supremo Tribunal Federal", diz a fonte.

Aliados de Temer irão reforçar às críticas ao vazamento --o que foi confirmado por uma nota do PMDB, que chama o fato de "vazamento criminoso" de uma proposta de delação não homologada.

A estratégia de pedir a anulação, no entanto, não vingou. Isso porque, ao contrário do caso do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, a delação de Melo Filho já foi assinada, mesmo que ainda não tenha sido homologada.

A do executivo da OAS era ainda apenas uma proposta de delação em negociação.

O governo também tenta reforçar a base aliada, especialmente a relação com o PSDB, que alimenta boatos de que pode desembarcar do governo se a situação não melhorar.

Temer já garantiu aos tucanos que a Secretaria de Governo, que era de Geddel Vieira Lima, irá para o partido, sendo o nome mais forte o do líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

Medidas

No domingo, em reunião no Palácio do Jaburu, acertou que o governo iria acelerar medidas que já estavam sendo discutidas, como a possibilidade de liberar parte do FGTS para pagamento de dívidas, que possam injetar mais recursos na economia sem ser via subsídios ou desonerações.

Temer cancelou uma viagem que faria ao Pará e ao Piauí na quinta-feira para fechar, em uma reunião com a equipe econômica e seus auxiliares mais próximos, o pacote de ações. A intenção é tentar anunciá-lo já na sexta-feira.

A decisão é uma tentativa de criar fatos positivos e buscar uma reação um pouco mais rápida da economia, já que a instabilidade política, as denúncias de corrupção, somadas à estagnação econômica têm alimentado a insatisfação popular com o governo.

Apesar de auxiliares do presidente terem dito que ele sabe ser impopular e não se importar com isso, a última pesquisa Datafolha, em que 63 por cento dos entrevistados disseram ser favoráveis à renúncia do presidente, preocupou o Planalto.

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