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PIB do Brasil deve perder força no 2º trimestre com impacto da indústria e juros altos

Indústria e comércio sofrem com crédito caro, enquanto serviços e mercado de trabalho sustentam a atividade

Agência o Globo
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Publicado em 1 de setembro de 2025 às 07h31.

A desaceleração econômica, projetada desde o fim do ano passado, deve ter se concretizado no segundo trimestre, se forem confirmadas as expectativas de economistas de que o crescimento será menor do que no início do ano. O IBGE divulga os dados oficiais do PIB na próxima terça-feira.

No primeiro trimestre, a supersafra fez o setor agropecuário subir bem, puxando o PIB para cima, que se somou ao forte consumo das famílias e aos investimentos, que vieram com resultado acima do esperado. A alta foi de 1,4% frente ao último trimestre de 2024. Agora, os serviços devem ter sustentado a atividade, impedindo uma queda no indicador.

"Será um número mais fraco, mas ainda com sinais mistos, porque alguns fundamentos apontam para expansão, principalmente com o mercado de trabalho, que continua como fator de sustentação para setores sensíveis à renda, sem falar em gastos fiscais ainda em patamares elevados, como previdência e BPC. Mas outros indicam esfriamento na esteira da política monetária apertada, tendo em vista a necessidade de controle da inflação", resume Rodolfo Margato, economista da XP, que prevê alta de 0,3% no segundo trimestre.

Serviços seguem em alta, mas indústria recua

Pelo lado da atividade impulsionada pela renda estão os serviços prestados às famílias, uma vez que havia mais dinheiro disponível para gastar com serviços. Nesse setor, o economista Luís Otávio Leal, da G5 Partners, acrescenta que há ainda o impulso dos serviços de informação e comunicação, com a digitalização das empresas, e a corrida pela inteligência artificial gerando efeitos positivos. Para ele, o PIB deve apresentar estabilidade no segundo trimestre.

"É uma dinâmica completamente diferente da indústria, por exemplo, que depende de crédito, depende de financiamento, e aí é onde bate mais forte essa questão dos juros em 15% (ao ano, a Taxa básica de juros, Selic). E essa desaceleração da indústria, ela conversa muito bem com o que a gente viu no mercado de crédito ao longo do segundo trimestre, que foi uma perda de vigor ou aumento da inadimplência", explica ele.

A indústria deve ser uma das principais responsáveis por puxar a atividade para baixo. Embora a indústria extrativa ainda possa crescer, a de transformação deve ter queda forte, uma vez que é um segmento mais sensível à política monetária restritiva. Outros setores sensíveis às condições de crédito apertadas também devem puxar a atividade para baixo, como o comércio e os investimentos.

Já o consumo das famílias pode ainda apresentar certo crescimento, impulsionado pela renda, mas também limitado pelo crédito. Embora o agro não tenha apresentado resultados ruins, a base de comparação alta do primeiro trimestre deve ter levado o setor a uma leve queda, sem safras recordes para sustentá-lo.

Próximos trimestres: estímulos e riscos

No terceiro trimestre, é esperada uma certa retomada da atividade, ainda que moderada, com o pagamentos de precatórios impulsionando o consumo das famílias e uma agricultura que deve voltar a crescer com culturas como o milho, que deve ter safra recorde.

Além disso, Leal menciona o pagamento do ressarcimento dos descontos indevidos do INSS e a recuperação da concessão de crédito consignado privado a partir de julho, quando essa modalidade começou a ser operada dando como garantia o FGTS.

"A gente está com (crescimento) de 0,7% para o terceiro trimestre, por causa desse dinheiro sendo colocado na economia, tanto pelo precatório quanto pelo ressarcimento do INSS, além dessa questão do crédito consignado, que acho que vai pegar tração agora a partir do terceiro trimestre."

Já no quarto trimestre, as perspectivas são menos otimistas. Sem esse efeito de precatórios e com uma base de comparação mais elevada, além dos efeitos acumulados e defasados da política monetária apertada, vemos um PIB total ao redor de zero ou até ligeiramente negativo.

"Vemos um PIB total ao redor de zero ou até ligeiramente negativo", projetou Margato.

Para o ano, as expectativas variam entre 2% e 2,3%, com desaceleração em relação aos últimos anos, mas ainda um crescimento robusto, sustentado pela forte atividade no primeiro trimestre. No entanto, há viés de baixa, diante de incertezas internas e externas.

Impactos do tarifaço dos EUA

Embora os economistas ainda considerem que é cedo para definir quais serão os efeitos das tarifas impostas ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é possível que esse fator externo possa contribuir para uma desaceleração maior da economia ao longo do ano.

Com possíveis impactos em setores industriais e na exportação do país, as tensões com a guerra comercial geram incerteza no mercado, o que por si só já pode prejudicar a atividade, como explica Juliana Trece, economista do Ibre/FGV.

Para ela, a expectativa é de que a economia cresça 0,5% no segundo trimestre e 2% no ano.

"Quando a gente adiciona incerteza, mesmo que, efetivamente, o dado possa não ser tão ruim, os investidores começam a ficar um pouco silenciosos porque não sabem o que vai acontecer. Normalmente eles esperam ter mais informações, e isso é ruim porque as decisões de investimento antecedem o resultado que a gente vai ver na atividade econômica lá na frente."

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