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Pfizer vende 54 milhões de doses na A. Latina e cobra decisão do Brasil

Governo Bolsonaro resiste diante do preço, da oferta de poucas doses da vacina contra covid-19, e da necessidade de armazenar a menos 70ºC

Vacina contra covid-19 da Pfizer. (Dado Ruvic/Reuters)

Vacina contra covid-19 da Pfizer. (Dado Ruvic/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 13h45.

O Ministério da Saúde tem só "alguns dias" para decidir sobre a compra da vacina da covid da americana Pfizer. O prazo é dado pela Pfizer, que relata 95% de eficácia do produto em testes. O governo resiste diante do preço, da oferta de poucas doses, e da necessidade de armazenar a menos 70ºC. Grande parte dos especialistas diz que poderia ser a alternativa, ao menos em grandes cidades, com bons refrigeradores. Após acordo com Estados Unidos e União Europeia, a Pfizer já negociou 54,3 milhões de doses com Peru, México e Chile.

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A Pfizer, que atua em parceria com a alemã BioNTech, diz que o prazo da proposta ao governo está protegido por acordo de confidencialidade. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que é de sete dias e termina semana que vem. A Pfizer diz, em nota, aguardar "posicionamento oficial do ministério em resposta à proposta" da companhia, "que expira em alguns dias". A empresa já fechou venda para mais de 30 nações.

Os países da América Latina com quem a Pfizer já fechou negócio preveem iniciar a vacinação este mês ou no início de 2021, conforme o aval dos órgãos regulatórios locais. O Reino Unido vacina a partir da próxima semana - cada pessoa deve tomar duas doses.

O número de doses disponíveis para o Brasil também está sob sigilo. A empresa diz que seria "capaz de imunizar milhões de brasileiros já no 1º semestre" de 2021. Para este ano, ela produzirá 50 milhões de doses; em 2021, será 1,3 bilhão. As doses são reservadas a "países que fecharam acordos antecipados".

No Brasil, a Pfizer iniciou o processo de registro semana passada. São previstos até 60 dias para análise, mas o prazo pode diminuir por causa de novas regras da Anvisa, que aceita pedidos para uso emergencial.

 

 

 

O governo Jair Bolsonaro aposta na vacina da Universidade de Oxford. A Fiocruz trabalha para incorporar a tecnologia e produzir as próprias doses desse imunizante. Mas os pesquisadores responsáveis pelo estudo de Oxford já reconheceram erros nos testes iniciais e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro.

Além disso, a pasta espera receber doses para 10% da população brasileira por meio da Covax Facility, consórcio internacional liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, disse na quinta-feira que há interesse em comprar diferentes vacinas, mas vinculou qualquer aquisição ao registro na Anvisa.

Além disso, Pazuello manifestou publicamente que propostas de outras fabricantes de vacinas não agradaram. No Congresso esta semana, chamou de "pífios" os números de doses oferecidas por alguns laboratórios, sem citar nomes. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, ele disse a auxiliares, em tom irônico, que algumas propostas não serviriam para "vacinar Brasília", com 3 milhões de habitantes.

O ministério também tem sinalizado que as temperaturas de armazenamento de vacinas da Pfizer e da Moderna, -70°C e -20°C, respectivamente, são barreiras. Medeiros disse que o ministério tem investido para modernizar os cerca de 40 mil postos de vacinação do SUS.

A Pfizer diz ter plano para transporte e armazenamento das doses ao SUS - uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada, que usa gelo seco. A vacina duraria 15 dias.

 

O governo Jair Bolsonaro aposta na vacina da Universidade de Oxford. A Fiocruz trabalha para incorporar a tecnologia e produzir as próprias doses desse imunizante. Mas os pesquisadores responsáveis pelo estudo de Oxford já reconheceram erros nos testes iniciais e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro.

Além disso, a pasta espera receber doses para 10% da população brasileira por meio da Covax Facility, consórcio internacional liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, disse na quinta-feira que há interesse em comprar diferentes vacinas, mas vinculou qualquer aquisição ao registro na Anvisa.

Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a postura reticente se agravou após Bolsonaro bloquear a compra da Coronavac, desenvolvida em parceria entre São Paulo e grupo chinês Sinovac. O ministro Eduardo Pazuello já disse a auxiliares que, para evitar novo "fato político', só volta a tratar disso após registro da Anvisa.

Além disso, Pazuello manifestou publicamente que propostas de outras fabricantes de vacinas não agradaram. No Congresso esta semana, chamou de "pífios" os números de doses oferecidas por alguns laboratórios, sem citar nomes. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, ele disse a auxiliares, em tom irônico, que algumas propostas não serviriam para "vacinar Brasília", com 3 milhões de habitantes.

O ministério também tem sinalizado que as temperaturas de armazenamento de vacinas da Pfizer e da Moderna, -70°C e -20°C, respectivamente, são barreiras. Medeiros disse que o ministério tem investido para modernizar os cerca de 40 mil postos de vacinação do SUS.

A Pfizer diz ter plano para transporte e armazenamento das doses ao SUS - uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada, que usa gelo seco. A vacina duraria 15 dias.

Não estamos em posição de negar vacina, diz biomédica

A biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), defende ampliar as opções. "Não estamos em uma posição de negar vacina. Se for viável acordo com a Pfizer, pensando já na parte logística, poderia ser usada para vacinar um grupo específico, como profissionais da saúde ou idosos."

Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, sugere que as campanhas sejam realizadas inicialmente em grandes cidades. Faculdades de Física de universidades em São Paulo, Rio, Pernambuco e Rio Grande do Sul têm instalações com temperaturas abaixo de -70ºC, diz ele.

Paulo Lotufo, professor de Medicina da USP, vê a opção com ressalvas, diante da logística e do custo. "Sobre a Pfizer: ou vende tudo agora ou ninguém vai comprar, porque é uma vacina que precisa de baixa temperatura. A vacina da Moderna tem se mostrado tão eficaz quanto e vai dispensar essa cadeia de frio", afirma.

Adaptação

Um freezer com temperatura regulável de -50ºC a -86ºC e capacidade de 368 litros custa, em média, R$ 31 mil. O Conselho Nacional de Climatização e Refrigeração, que reúne empresas da área, diz que o setor pode adequar a estrutura e oferecer soluções para qualquer temperatura, até -70°C, "com planejamento e investimento".

A adaptação seria em refrigeradores maiores e mais potentes. O custo disso fica em torno de 10% a 50% do valor do equipamento.

Os super-refrigeradores consomem cerca de 30% mais energia. A Bahia já faz cotações de freezers. "Estamos montando registro de preço para até 100 unidades de ultracongeladores", disse o secretário estadual da Saúde, Fábio Villas-Boas

Como estamos?

Das 51 em fases de testes, apenas 13 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. Confira quais são abaixo:

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

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