Agentes da Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2015 às 18h14.
Rio de Janeiro - A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira o lobista João Augusto Rezende Henriques, acusado de ser operador do PMDB e movimentar milhões de dólares em propina na área internacional da Petrobras, e o executivo da Engevix José Antunes Sobrinho, em nova etapa da Operação Lava Jato.
Henriques foi denunciado em agosto deste ano com outras cinco pessoas pelo recebimento de propina para favorecer a contratação, em 2009, de empresa para afretamento de navio-sonda pela Petrobras, informou a PF em comunicado.
A Justiça Federal no Paraná determinou a prisão temporária de Henriques, que se entregou na Superintendência da PF no Rio de Janeiro.
De acordo com as investigações, Henriques recebeu parte dos 31 milhões de dólares que foram repassados pela empresa chinesa TMT e por Hamylton Padilha, para o ex-diretor internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada, para o ex-gerente da área internacional da estatal Eduardo Musa e para o PMDB.
Zelada, que já é réu na Lava Jato por suposto recebimento de propina na contratação de empresa para afretamento de navio-sonda, foi preso em fase anterior da Lava Jato denominada "Conexão Mônaco" por esconder recursos em contas no exterior em montante superior a 11,5 milhões de euros.
"Apura-se que pessoas tenham intermediado pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e políticos no exterior, em decorrência de contratos celebrados na Diretoria Internacional da Petrobras.
Foi verificado que uma das empresas sediadas no Brasil recebeu cerca de 20 milhões de reais, entre 2007 e 2013, de empreiteiras já investigadas na operação sob a acusação de pagamento de propinas para obtenção de favorecimento em contratos com a estatal", disse a Polícia Federal em nota.
A Justiça já condenou outro operador que atuava na área internacional da Petrobras. Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, recebeu sentença de 16 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
ENGEVIX
Em outra frente da 19ª fase da Lava Jato deflagrada nesta segunda, policiais federais prenderam o sócio-diretor da empreiteira Engevix José Antunes Sobrinho sob acusação de pagamento de propina relacionada à Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras.
"Pagamentos de vantagens indevidas foram efetuados, em razão de contratos com a Eletronuclear, pelo menos até 8 de janeiro de 2015. O pedido de prisão preventiva foi fundamentado no risco de produção de documentos falsos que poderiam prejudicar a investigação e a instrução penal", disse a PF em nota.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Sobrinho teria efetuado pagamentos indevidos a uma empresa de propriedade do ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, que já está entre os réus da Lava Jato.
A empreiteira confirmou por telefone que Sobrinho ainda ocupa o cargo de sócio-diretor e disse que, no momento, não comentaria a operação policial.
Segundo o procurador do MPF Carlos Fernando dos Santos Lima, a ligação entre a corrupção na Petrobras e na Eletronuclear decorre de uma mesma "organização criminosa".
"Quando falamos que hoje estamos investigando um esquema de compra de apoio político partidário para o governo federal através de corrupção, estou dizendo que os casos do mensalão, petrolão, Eletronuclear, são todos conexos porque dentro deles está a mesma organização criminosa", disse o procurador em entrevista coletiva em Curitiba.
"E no ápice dessa organização estão pessoas ligadas aos partidos políticos e, não tenho dúvida nenhuma, à Casa Civil do governo Lula. Não há neste momento provas concretas, mas trabalhamos com a hipótese que tudo tenha se originado dentro da Casa Civil, como foi o caso do mensalão", acrescentou.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que ocupou o cargo no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou réu da Lava Jato na semana passada acusado de receber propina do esquema de corrupção. Dirceu já foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão.
A 19ª fase da Lava Jato recebeu o nome "Nessun Dorma", que significa "ninguém dorme". Segundo o delegado da PF Igor Romário de Paula, a escolha do nome foi para fazer um alerta de que a Lava Jato continua em atividade e não perdeu sua força.