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PF investigará grupo articulado para barrar apuração da morte de Marielle

O pedido de atuação da PF foi feito no mesmo dia pela procuradora-geral da República com base em depoimentos de duas pessoas que estariam ligadas ao crime

Assassinato de Marielle: ministro solicitou a instauração de inquérito policial para apurar o envolvimento de agentes públicos, milicianos (Ricardo Moraes/Reuters)

Assassinato de Marielle: ministro solicitou a instauração de inquérito policial para apurar o envolvimento de agentes públicos, milicianos (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de novembro de 2018 às 09h16.

Brasília - O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou nesta quinta-feira (1º) que a Polícia Federal (PF) vai investigar a existência de um grupo criminoso articulado para atrapalhar e impedir as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, em março. O ministro solicitou a instauração de inquérito policial para apurar o envolvimento de agentes públicos, milicianos e contraventores que estariam atuando em conjunto.

O pedido de atuação da PF foi feito no mesmo dia pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, com base em depoimentos de duas pessoas que estariam ligadas ao crime. "As denúncias são extremamente graves, precisam ser investigadas", afirmou Jungmann. O ministro, no entanto, não quis dar informações sobre quem seriam essas pessoas e qual o grau de confiabilidade dos testemunhos. Ele disse apenas que os depoimentos foram dados há um mês a procuradores federais.

Reportagem do jornal O Globo desta quinta-feira mostra que um dos depoimentos foi dado pelo ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica. Ele está preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN). Em entrevista concedida por escrito ao jornal, Curicica negou ter participado do duplo assassinato, mas afirmou que a Polícia Civil do Rio não tem interesse em elucidar o caso e que haveria pagamento de dinheiro a agentes públicos.

Ele acusou até o chefe do órgão, o delegado Rivaldo Barbosa, de ter montado uma intrincada rede de proteção aos chefes da contravenção envolvidos em assassinatos. De acordo com O Globo, a informação consta do depoimento de Curicica dado à PGR. Segundo apurou o Broadcast/Estadão, o segundo depoimento também foi tomado pelo Ministério Público em um presídio do Rio Grande do Norte.

Não há previsão de federalização da investigação da morte de Marielle e Anderson. O caso continuará com a Polícia Civil, com a ajuda do Ministério Público Estadual do Rio. Por considerar graves as informações dos depoimentos, Raquel Dodge pediu que a PF garanta segurança aos depoentes e a seus familiares.

Em agosto, Jungmann chegou a oferecer publicamente ajuda da Polícia Federal, mas autoridades do Rio a cargo da investigação recusaram. O ministro esclareceu que o novo inquérito pode, eventualmente, vir a ajudar a elucidar os assassinatos, mas destacou que as duas investigações têm objetivos diferentes.

"O que se está fazendo é criar um outro eixo que investigará aqueles ou aquelas que estejam dentro da máquina pública - portanto, agentes públicos -, ligados ao crime organizado ou a interesses políticos e que estão tentando impedir que seja elucidado esse crime. Então, em certo sentido, não deixa de ser uma investigação da investigação que está sendo feita", disse.

Questionado se os depoimentos foram acompanhados de provas materiais, o ministro afirmou que não poderia dar detalhes porque o caso está sob sigilo. "São depoimentos em vídeo devidamente gravados por procuradores da República com fatos, nomes e valores que têm de ser devidamente investigados. Pode ser que não seja isso, mas também evidentemente pode ser que tenha fundamento."

O chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, afirmou por meio de nota oficial que a investigação do caso Marielle está muito próxima do fim. Disse ainda que "repudia a tentativa de um miliciano altamente perigoso, que responde a 12 homicídios, de colocar em risco uma investigação que está sendo conduzida com dedicação e seriedade". "Ao acusado (Curicica) foram dadas amplas oportunidades pela Polícia Civil para que pudesse colaborar com as investigações de duplo homicídio dentro do estrito cumprimento da lei."

Curicica estava preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio, mas, depois da morte da vereadora, foi transferido para a penitenciária federal. Na ocasião, por meio de seu advogado, ele contou que estava sendo pressionado pela polícia para confessar participação no crime e, como havia se negado a assumir a culpa, teria sido transferido.

"Não causaram surpresa as ilações feitas pelo preso, tendo em vista que, historicamente, chefes de organização criminosa, notadamente milícias, se utilizam desse artifício para desmoralizar e desacreditar instituições idôneas e seus membros", continua a nota oficial. "Nenhum esforço está sendo poupado, cabendo ressaltar que todas as técnicas e os recursos disponíveis têm sido empregados no trabalho de investigação. Dentro desse propósito, o chefe de Polícia Civil garante: o caso está muito próximo de sua elucidação."

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