Temer: Presidente teria recebido mais recursos, sendo estes entregues no escritório de advocacia de José Yunes, amigo pessoal e ex-assessor de Temer (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 21h29.
Brasília/São Paulo- A Polícia Federal indiciou o presidente Michel Temer nos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um inquérito que apura um repasse de 10 milhões de reais feito pela empreiteira Odebrecht ao seu partido, o MDB, em 2014, de acordo com relatório policial.
O documento aponta que Temer recebeu 1,4 milhão de reais ao longo de março daquele ano por solicitação do atual ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e que pode ter recebido mais recursos em setembro, que teriam sido entregues no escritório de advocacia de José Yunes, amigo pessoal e ex-assessor de Temer.
No relatório, a PF afirma ainda que o ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima filho, também amigo pessoal e ex-assessor de Temer, teria sido o intermediário do então vice-presidente da República no recebimento dos recursos pedidos por Moreira Franco à Odebrecht.
A investigação aponta, além de Moreira, o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, como beneficiário de recursos passados pela Odebrecht.
"Os valores não reverteram somente ao atual ministro-chefe da Casa Civil, tendo sido endereçados também ao excelentíssimo senhor presidente da República, Michel Temer, na pessoa de João Baptista Lima Filho", afirma o relatório.
Padilha também foi indiciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, assim como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que está preso. Moreira foi indiciado por corrupção passiva.
Em nota, o Palácio do Planalto classificou as conclusões da Polícia Federal no inquérito de "um atentado à lógica e à cronologia dos fatos", e afirma que o que foi pedido à Odebrecht durante um jantar em 2014 foram recursos para campanhas eleitorais que, de acordo com a nota, foram registrados na conta do partido e declarados à Justiça Eleitoral.
"Agora, sem conseguir comprovar irregularidades nas doações, o delegado aponta supostos pagamentos ocorridos em março como prova dos crimes, ou seja, dois meses antes do jantar", afirma a nota.
"A investigação se mostra a mais absoluta perseguição ao presidente, ofendendo aos princípios mais elementares da conexão entre causa e efeito."
As conclusões da PF seguem para a Procuradoria-Geral da República que pode usá-las como base para o oferecimento de uma denúncia, pedir novas investigações ou até pedir o arquivamento do caso ao STF.