Repórter
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 19h27.
Última atualização em 20 de agosto de 2025 às 20h54.
A Polícia Federal informou nesta quarta-feira, 20, que concluiu o relatório de investigação sobre ações de interferência em uma ação judicial que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil e indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso do processo e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Segundo a corporação, o relatório foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante a investigação, a Polícia Federal, ao restaurar dados de backup, descobriu uma intensa atividade de Jair Bolsonaro na criação e disseminação de mensagens para as redes sociais, violando a medida cautelar que havia sido imposta anteriormente.
O relatório foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e acusa Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, de agirem de maneira coordenada para interferir nas investigações.
Ambos são acusados de cometer coação no curso do processo e de tentar abalar o Estado Democrático de Direito, buscando restringir o funcionamento dos poderes constitucionais.
O inquérito aponta que Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, tem utilizado sua atuação internacional para deslegitimar as instituições brasileiras e proteger seu pai no processo que está em andamento no STF.
Após a divulgação do relatório da PF, Eduardo Bolsonaro se manifestou em um texto nas redes sociais e ressaltou que suas ações nos EUA não visavam "interferir em qualquer processo". Ele também chamou de vergonhosa a investigação da PF sobre "conversas privadas". Veja a seguir:
Nota de Esclarecimento – Eduardo Bolsonaro
Tomei conhecimento, pela imprensa, do relatório divulgado pela Polícia Federal e considero importante esclarecer alguns pontos:
1. Minha atuação nos Estados Unidos jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no…
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) August 20, 2025
A PF também tomou medidas contra o pastor Silas Malafaia, incluindo a realização de busca e apreensão, além da retenção de seu passaporte. No relatório, também foi citado o jornalista Paulo Figueiredo.
No relatório, a Polícia Federal informou que foram recuperados do celular de Jair Bolsonaro áudios e conversas com Malafaia e Eduardo Bolsonaro, que haviam sido apagados. Esses registros, segundo os investigadores, reforçam as tentativas de articulação para intimidar autoridades brasileiras e interferir nos inquéritos que investigam a trama golpista.
“Conclui-se que Eduardo Nantes Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro, com a participação de Paulo Figueiredo e Silas Lima Malafaia, encontram-se associados ao mesmo contexto, praticando condutas com objetivo de interferir no curso da Ação Penal nº 2668 – STF, processo no qual o segundo nominado consta formalmente como réu”, diz o relatório da PF.
A investigação, que faz parte do inquérito sobre a tentativa de golpe, aponta que os atos não foram isolados, mas parte de uma estratégia intencional de obstrução judicial, com o apoio de aliados bolsonaristas. Entre os elementos reunidos estão declarações públicas, articulações internacionais e ações coordenadas nas redes sociais.
A ação penal de número 2668, que trata especificamente da tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, já tornou Jair Bolsonaro réu por cinco crimes. O indiciamento de Eduardo Bolsonaro amplia a responsabilidade dentro do núcleo político e familiar do ex-presidente. O julgamento está marcado para começar no dia 2 de setembro.
A Polícia Federal também encontrou no computador do ex-presidente um documento de texto no qual Jair Bolsonaro teria preparado uma minuta sobre a possibilidade de solicitar asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei.
De acordo com a PF, no conteúdo, Bolsonaro alegou perseguição política no Brasil:
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-I e 359-M do Código Penal brasileiro."
O arquivo de texto teve sua última modificação em 12 de fevereiro de 2024. O conteúdo desse arquivo revela que Bolsonaro "praticou atos para obter asilo político na Argentina".
"Embora o documento seja um único arquivo editável, sem data e assinatura, o seu teor indica que o réu, desde o início da operação Tempus Veritatis [que investiga a tentativa de golpe de Estado], estava planejando ações para fugir do país e evitar a aplicação da lei penal", destacou a Polícia Federal.
A data da última modificação do documento coincide com o momento em que o ex-presidente esteve na embaixada da Hungria no Brasil, onde permaneceu por duas noites. Essa visita aconteceu quatro dias após a apreensão de seu passaporte pela Polícia Federal, durante uma operação.
"A Polícia Federal concluiu as investigações que apuraram ações de coação no curso da Ação Penal n° 2668, em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório final foi encaminhado ao STF, nesta sexta-feira (15/8), com o indiciamento de um deputado federal, atualmente no exterior, e de um ex-presidente da República, pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito por meio da restrição ao exercício dos poderes constitucionais."