Geddel: o ex-ministro está preso em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de dezembro de 2017 às 09h07.
Brasília - A Polícia Federal abriu mais uma frente de investigação sobre lavagem de dinheiro contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). Desta vez, os investigadores veem indícios de lavagem de dinheiro do peemedebista por meio de "falso aluguel de maquinário agrícola" para as fazendas do ex-ministro. Os pagamentos sob suspeita somam pelo menos R$ 6,3 milhões.
A informação consta em relatório entregue no dia 29 de novembro pelo agente da PF Arnold Fontes Mascarenhas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relator do inquérito do "bunker" de R$ 51 milhões. Em dezembro, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Geddel no caso do "bunker". O ex-ministro está preso em Brasília.
A suspeita dos investigadores é de que o esquema envolvendo o ex-ministro se utilizava da empresa JR Terraplanagens, de propriedade de Valério Sampaio Sousa. Sousa, que se apresenta como administrador de propriedades agrícolas do ex-ministro, é apontado como "o funcionário informal" de Geddel responsável por elaborar os supostos falsos aluguéis de maquinário agrícola.
No documento, a PF cita que Geddel é dono de 12 fazendas no interior da Bahia, que totalizam área de cerca de 9 mil hectares, com valor de R$ 67 milhões. "Apesar dessa alta quantidade, o aluguel de um número elevado de máquinas agrícolas, trabalhando muitas delas por mais de 12 horas diárias, ao longo de mais de três anos, torna tal prestação de serviço suspeita à pratica de delitos", diz o relatório.
Ainda segundo a PF, a JR Terraplanagens, "aparentemente, não possui uma estrutura condizente com um estabelecimento comercial capaz de alugar cerca de 15 máquinas agrícolas, por um período de 36 meses, tampouco adequada ao volume de dinheiro que supostamente receberia frente a grande quantidade de serviço prestado". Para os investigadores, anotações e planilhas apreendidas "geram informações relevantes à presente investigação dada a presença de indícios de possível lavagem de dinheiro por parte do investigado Geddel Quadros Vieira Lima".
A PF elaborou o documento sobre a suposta lavagem envolvendo fazendas de Geddel a partir de documentos apreendidos no apartamento da mãe do peemedebista, Marluce Vieira Lima, na Operação Tesouro Perdido. Desdobramento da Operação Cui Bono?, que apura desvios na Caixa, a Tesouro Perdido encontrou o "bunker" dos R$ 51 milhões.
Entre os documentos há papéis relativos às propriedades do ex-ministro, à compra e venda de gado, inventário e planilhas com informações sobre tratores, além de uma agenda. "Na agenda apreendida, dentre as informações contidas destacamos o controle detalhado da quantidade de horas e do valor-hora de cada máquina, em tese alugadas na JR Terraplanagens Ltda. para as propriedades agrícolas da família", relata a PF.
"A principal planilha contém duas tabelas, ao lado esquerdo tem-se os pagamentos realizados pela família Vieira Lima à JR (R$ 6,3 milhões), ao passo que na tabela do lado direito temos o total devido à referida empresa pelo suposto aluguel das maquinas agrícolas (R$ 7,1 milhões)", diz o relatório.
A PF chegou a fazer vigilância no local de funcionamento da empresa JR Terraplanagens, e concluiu que na sede da empresa "há tão somente a residência do sr. Valério, não havendo qualquer placa indicando o funcionamento de um estabelecimento comercial". "Segundo moradores locais, Valério trabalhava com máquinas pesadas, mas em um negócio pequeno, possuindo no máximo dois ou três maquinários agrícolas, quantidade essa muito inferior a apontada no controle de gastos de Geddel", afirma a PF.
A reportagem entrou em contato com a defesa de Geddel, mas não obteve resposta. Em 24 de novembro, Valério Sousa compareceu à Polícia Federal em Vitória da Conquista (BA) para prestar esclarecimentos. Ele disse, segundo a PF, que recebeu por serviços prestados, mas deixou de fornecer nota fiscal porque o custo de emissão do recibo era muito alto. Nesta terça-feira, 26, Sousa não foi localizado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.