Lula: os investigadores suspeitam que Lula é o verdadeiro proprietário do imóvel, o que é negado enfaticamente pelo petista (Fernando Donasci / Reuters/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de outubro de 2016 às 16h37.
São Paulo e Curitiba - Ao rastrear as movimentações financeiras e o patrimônio do empresário Jonas Suassuna, responsável pela compra do sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família e que recebeu reformas da empreiteira OAS, os peritos da Polícia Federal identificaram um fluxo de R$ 5 milhões, em média, por ano, sem uma destinação identificada.
Segundo a PF, estes valores "equivalem a mais de R$ 400 mil mensais, um padrão elevado de despesas não declaradas, sugerindo a possibilidade de ter havido destinações não declaradas ao fisco".
Os dados constam do laudo 2005/2016, assinado pelo perito criminal federal Ricardo Samú Sobrinho.
Foram analisados os dados fiscais e bancários do empresário entre 2004 e 2015, revelando que seu patrimônio cresceu 11,5 vezes no período, saltando de R$ 2,8 milhões em 2004 para R$ 32,9 milhões em 2015.
O sítio Santa Bárbara, em Atibaia, é alvo de uma devassa da PF. Os investigadores suspeitam que Lula é o verdadeiro proprietário do imóvel, o que é negado enfaticamente pelo petista.
Formalmente, segundo os registros em cartório, Suassuna é o dono do sítio. O laudo foi anexado aos autos do inquérito sobre o sítio.
A perícia identificou que a análise da evolução patrimonial de Suassuna teve lastro nas declarações do empresário à Receita Federal.
O perito destacou o fato de que a movimentação financeira de Suassuna foi "maior que os rendimentos declarados em 2008, 2009, 2010, 2011 e 2013".
"Os valores de rendimentos declarados não equivalem com os da movimentação financeira analisada", aponta o perito destacando que as disparidades identificadas foram maiores "em especial nos anos de 2008 com 1,75 vez os rendimentos, 2010 com 1,34 vez e 2013, com 1,66 vez os rendimentos", segue o laudo.
As investigações do patrimônio de Suassuna fazem parte do inquérito da Lava Jato que investiga se o ex-presidente Lula seria o verdadeiro proprietário do sítio em Atibaia, valendo-se de supostos laranjas para ocultar o patrimônio, e se ele teria se beneficiado de obras no imóvel promovidas pela empreiteira OAS, investigada no esquema de corrupção na Petrobras.
A OAS é de um amigo de Lula, o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora atualmente preso em Curitiba.
Jonas Suassuna foi o comprador de um dos imóveis, o sítio Santa Denise, que mais tarde veio a se juntar com outro imóvel, adquirido pelo empresário Fernando Bittar no mesmo período, que constituem o sítio conhecido atualmente como Santa Bárbara e que era frequentado por Lula e seus familiares e amigos.
O Santa Bárbara é a parte menor da área, onde fica a casa com piscina e churrasqueira.
A compra dos dois imóveis que formam o sítio foi feita em 29 de outubro de 2010, no valor total de R$ 1,5 milhão (R$ 500 mil de Suassuna e R$ 1 milhão de Bittar).
Em 2014, a cozinha do sítio passou por uma reforma de R$ 252 mil bancada pela OAS e acompanhada de perto pelo arquiteto da empreiteira Paulo Gordilho. A PF identificou que nem Jonas Suassuna e nem Fernando Bittar declararam gastos com estas reformas no imóvel.
A reportagem entrou em contato com o escritório que defende Jonas Suassuna e deixou recado, mas ainda não obteve retorno.