Tartaruga: avanço das manchas de óleo tem sido acompanhado desde 2 de setembro pelo Ibama, mas a origem do produto ainda não foi identificada (Julio Deranzani Bicudo/Reuters)
Reuters
Publicado em 7 de outubro de 2019 às 15h02.
Misteriosas manchas de petróleo que têm impactado o litoral do Nordeste desde o início do mês passado já ameaçam 600 filhotes de tartarugas marinhas que nasceram nas praias de Sergipe e Bahia e estão impedidos de ir ao mar, disse à Reuters um representante do Projeto Tamar, organização não-governamental que atua pela preservação da espécie.
O avanço das manchas de óleo tem sido acompanhado desde 2 de setembro pelo Ibama, mas a origem do produto ainda não foi identificada, segundo o órgão ambiental.
"Desde quinta-feira, a quantidade de óleo (verificada) foi tão significativa que, nos ninhos que estão nessa região, a gente está retendo os filhotes. Estamos com 600 filhotes aguardando para serem liberados", afirmou o engenheiro de Pesca do Tamar, Augusto Cesar Coelho.
O ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitará Sergipe nesta segunda-feira e realizará um sobrevoo nas regiões atingidas pela mancha de óleo, segundo a assessoria de imprensa da pasta.
De acordo com mapa divulgado no domingo à noite pelo Ibama, o óleo já se espalha pelas costas de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, onde chegaram mais recentemente.
Uma análise feita pela Marinha e pela Petrobras apontou que a substância encontrada nos litorais trata-se de petróleo cru, ou seja, sem origem em qualquer derivado de óleo, sendo que a petroleira estatal apontou ainda que o óleo encontrado não é produzido pelo Brasil.
O Ibama ainda disse que investigação com apoio dos Bombeiros do Distrito Federal apontou que o petróleo que está poluindo todas as praias é o mesmo, embora a origem não tenha sido identificada até o momento.
O engenheiro do Tamar, patrocinado pela Petrobras, disse que o problema tem sido observado com maior intensidade em praias de Sergipe e Bahia, nas quais o Tamar atua, enquanto áreas acompanhadas pelo projeto no Rio Grande do Norte e em Fernando de Noronha têm registrado riscos menores aos animais marinhos.
"Estamos retendo todos os ninhos de tartarugas no Estado de Sergipe e em três municípios da Bahia, vendo qual a melhor estratégia, porque o filhote não pode interagir com o óleo nem na praia nem no mar, senão ele morre", acrescentou Coelho.
O especialista do Tamar ressaltou ainda que a temporada de desova acaba de começar, o que também gera preocupações, mas dá algum tempo para que se busque soluções antes que um número muito maior de animais possa ser impactado.
Segundo ele, já foram resgatadas duas tartarugas marinhas adultas impactadas pelo óleo, que estão vivas e sob tratamento.
"O problema maior agora se refere aos filhotes, aos ninhos, que ficam completamente indefesos. Agora estamos centrados neles", explicou.
"A temporada está começando agora, então o problema é um pouco menor. Os filhotes começam a nascer em grande quantidade de dezembro a fevereiro. Esse é o pico de nascimento, nesses meses devemos ter em torno de 1 milhão de filhotes."