Logo da Petrobras: a estatal é acusada de contribuir para a prisão de petroleiros, que foram torturados e, depois, impedidos de exercer a profissão durante o regime militar. (Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2015 às 08h45.
São Paulo - O próximo alvo do grupo que pediu ao Ministério Público Federal (MPF) a investigação sobre as relações da Volkswagen com a ditadura militar é a Petrobras.
A estatal é acusada de contribuir para a prisão de petroleiros, que foram torturados e, depois, impedidos de exercer a profissão durante o regime militar. Além disso teria ajudado a cassar centenas de funcionários e fichado milhares de trabalhadores do setor.
O Estado procurou a empresa, mas a petroleira não se manifestou. "Durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV) encontramos muitos documentos que mostram a ligação da empresa com essas prisões", afirmou Sebastião Lopes de Oliveira Neto, que coordenou o grupo de trabalho sobre a repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical, da CNV.
Ele cita o caso do ex-deputado federal Mário Lima (PSB-BA), que foi cassado em 1964 e, depois, preso. Lima foi um dos fundadores do sindicato dos petroleiros da Bahia.
Neto diz que a CNV constatou no caso da Petrobras que "131.277 fichas de controle político-social foram elaboradas". De fato, o relatório da CNV afirma que, após o golpe, foram desencadeados "numerosos processos de auditoria, sindicância e inquéritos administrativos". "Alguns desses procedimentos de controle alcançaram trabalhadores contratados por subsidiárias e prestadoras de serviço da Petrobras."
O documento lembra que muitos dos cargos da empresa foram ocupados por oficiais do Exército.
DOI
Além da Volkswagen e da Petrobras, outras empresas foram apontadas pela CNV como envolvidas no financiamento de órgãos da repressão do regime militar.
Se a montadora alemã fornecia os Fuscas usados pela Seção de Investigação do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2.º Exército, a Ford doou o Corcel usado pelo capitão Ênio Pimentel da Silveira, o Doutor Ney, chefe da seção e responsável por operações que resultaram na morte de pelos menos 40 militantes de grupos de esquerda.
Já a General Motors entregou os Opalas usados em operações do DOI de 1971 a 1974. Também são citadas em relatório da CNV e na investigação do caso a Toyota, a Scania a Mercedes-Benz, a Chrysler, todas do ABC, e a Caterpillar, do Vale do Paraíba, além de outras empresas.
A Toyota informou que "não possui qualquer registro ou evidências relacionadas a essas questões". A Mercedes-Benz disse que a empresa realizou várias análises e "não descobriu nenhuma evidência" relacionada aos episódios.
A Caterpillar afirmou não ter sido procurada pela CNV e que está "à disposição para ajudar no que for possível". A Chrysler disse que o grupo atual não tem qualquer relação com a empresa que atuou no Brasil nos anos 70. Ford, GM e Scania não responderam ao Estado.
Ultragaz
Outro caso considerado emblemático por Oliveira Neto é o da Ultragaz. Ela é apontada como uma das principais financiadoras das operações do DOI do 2.º Exército, o maior do País, durante o comando exercido pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. "É outro caso que estudamos e reunimos muitas provas", afirmou. O Estado procurou a Ultragaz e foi informado que a empresa não se manifestaria sobre as denúncias de apoio à repressão. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.