Cristina Baena: pesquisadora dedicou 12 anos a estudar as doenças que mais matam. (Gian Galani/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 22 de agosto de 2020 às 08h21.
Logo quando o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no Brasil, ainda em fevereiro, a pesquisadora Cristina Baena viu que precisava organizar uma equipe de profissionais de saúde para entender melhor como esta nova doença afetava os pacientes e quais seriam os tratamentos mais indicados.
Seis meses depois, ela comemora os resultados e agradece aos mais de 260 pacientes e familiares que autorizaram a participação em um estudo realizado pelo Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba no Paraná, e que ajudou a vencer a batalha contra o coronavírus não só ali mas em outros centros médicos ao redor do mundo.
Na equipe multidisciplinar, coordenada por ela, estão mais de 25 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e farmacêuticos, que trabalham na linha de frente no atendimento a pacientes com a covid-19. Entre as descobertas, estão os problemas cardíacos e pulmonares que os infectados com o coronavírus apresentam.
"É muito gratificante ver toda essa engrenagem funcionar e ter como maior beneficiário o paciente. Eu considero o maior feito da minha carreira porque conseguimos articular equipes tão distantes para titular e qualificar os recursos humanos. O que a gente viu na prática há alguns meses está sendo publicado somente agora em estudos científicos internacionais", diz Cristina.
Há 12 anos a pesquisadora se dedica a entender doenças com a maior taxa de mortalidade no Brasil, como as cardiovasculares. Atualmente trabalha na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e coordena o Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação (CEPI) do Hospital Marcelino Champagnat e Hospital Universitário Cajuru.
Essa experiência foi fundamental para entender o impacto da covid-19 no organismo dos pacientes. Apesar de ser uma doença respiratória, alguns procedimentos adotados em patologias similares não tiveram os mesmos resultados.
Nos primeiros atendimentos os pesquisadores perceberam que o vírus, de alguma forma, causava uma disfunção no coração, potencializando arritmia cardíaca e predisposição à formação de microtrombos, como explica o médico intensivista Jarbas da Silva Motta Junior, integrante da equipe de pesquisa.
"A gente estava vendo pacientes muito jovens fazendo infarto e que não tinha uma justificativa muito clara num ambiente normal. Havia muita inflamação do músculo do coração e precisávamos trabalhar para reverter isso", diz o médico.
Os profissionais descobriram ainda que, além de problemas no coração, a covid-19 causa uma lesão no pulmão e, por conta disso, a ventilação mecânica precisa ser mais "gentil" para não agravar ainda mais o quadro. Também perceberam problemas no fígado e neurológicos.
E saber dessas especificidades foi essencial para o tratamento correto dos pacientes e vencer uma batalha contra uma doença que a ciência mundial ainda está tentando entender. Esperar até os artigos científicos, que na maioria das vezes demoram meses para serem publicados, também não era uma opção.
Cada descoberta feita pela equipe foi compartilhada quase que instantaneamente com outros centros médicos ao redor do mundo. Uma grande rede de profissionais de saúde e cientistas foi formada para a troca de informações.
"Quando a doença chegou, não tínhamos acesso a boas pesquisas. Como precisávamos ser rápidos, usamos uma via não tradicional. Divulgamos as experiências por áudio, lives abertas, redes sociais. É um novo formato de se comunicar", diz ela.
Neste hall de compartilhamento de informações estão grandes instituições brasileiras, como a Fiocruz e a Universidade de São Paulo, e também internacionais, como a Universidade de Queensland, na Austrália, e a Universidade Washington, em St Louis nos Estados Unidos.
O próximo passo agora, conta Cristina, é acompanhar os pacientes que já receberam alta e analisar as sequelas que a covid-19 vai deixar no organismo. Neste time também estão psicólogos para avaliar a saúde mental e a prevalência de estresse pós-traumático.