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Pesquisa da Fiocruz aponta risco de volta da febre amarela urbana

Neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275 mortes. mas estas pessoas foram picadas por mosquitos ao entrarem em áreas de matas

Febre amarela: 275 pessoas já morreram (Wilson Dias/Agência Brasil)

Febre amarela: 275 pessoas já morreram (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de julho de 2017 às 16h05.

Última atualização em 7 de julho de 2017 às 16h07.

Rio - Doença silvestre desde a década de 1940, a febre amarela pode voltar a se tornar uma enfermidade de cidade. Pesquisa dos Institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, em Paris, mostrou que mosquitos urbanos, como Aedes aegypti e Aedes albopictus, têm elevada capacidade para a transmissão do vírus da febre amarela.

A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira, 7, na revista Scientific Reports.

Um dos autores do estudo, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, explicou que a intenção do trabalho era avaliar o risco de a febre amarela voltar a se tornar uma doença das cidades.

Neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275 mortes. Mas todas as pessoas foram picadas por mosquitos silvestres ao entrarem em áreas de matas.

Para avaliar o risco de reurbanização, foram testados mosquitos urbanos (Aedes aegypti e Aedes albopictus) do Rio de Janeiro, onde não havia registros da doença havia 70 anos, de Manaus e Goiânia.

E diferentes linhagens do vírus - a que circulava anteriormente no Brasil, a que está circulando agora e a que foi isolada na África.

Isso porque a diversidade das populações de mosquitos e as transformações dos vírus, ao longo das décadas, poderiam ter afetado a capacidade de os insetos transmitirem a doença.

"O vírus vai evoluindo no tempo, produzindo mutações, criando adaptações. Por isso precisávamos fazer a comparação. E, de fato, a chance de transmissão dos vírus é muito grande pelos insetos do Rio de Janeiro e de Manaus. A transmissão ocorre nos mosquitos de Goiânia em menor grau", afirmou Lourenço.

Foram avaliados mosquitos silvestres das espécies Haemagogus leucocelaenus e Sabethes albiprivus. O trabalho analisou ainda insetos Aedes aegypti e Aedes albopictus coletados nas três capitais brasileiras e em Brazzaville, no Congo, onde a febre amarela silvestre é endêmica.

Os insetos foram divididos por gênero, e fêmeas foram alimentadas com amostras de sangue contendo vírus da febre amarela de diferentes linhagens.

A presença de partículas de vírus na saliva dos insetos após 14 dias foi o indicador do potencial de transmissão da doença. Todos os mosquitos tinham capacidade de transmitir a febre amarela, com exceção do Aedes albopictus de Manaus, que não transmitiu o vírus africano.

"A capacidade de o Aedes aegypti do Rio de Janeiro transmitir a febre amarela chega a 60% com a linhagem que circula agora e a 40% com a linhagem do passado ou do oeste africano. É maior do que o mesmo mosquito de Goiânia, onde emergem casos de macacos infectados, e do que o de Manaus, que é área de febre amarela endêmica."

Para o pesquisador, diante da real possibilidade de reintrodução da febre amarela urbana, é preciso que as autoridades de saúde intensifiquem o combate ao mosquito e imunizem a população.

"A transmissão urbana já pode estar acontecendo, e a gente não sabe. Na década de 1930, descobriram que havia a febre amarela silvestre porque houve caso no Espírito Santo e não acharam nenhuma lava ou adulto de Aedes aegypti", explicou.

"Agora, só vamos provar a febre amarela urbana se não houver macaco doente nem mosquito silvestre naquela região."

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