São Paulo – Foi eliminado ontem (7) da Copa
São Paulo de
Futebol Júnior o time sensação da edição de 2016. O Pérolas Negras é uma equipe amadora composta apenas por jovens
haitianos que vieram ao país especialmente para jogar a competição sub-20. Apesar das três derrotas, surpreendeu a boa campanha dos estrangeiros, dando trabalho para categorias de base do América Mineiro (2x1), Juventus (2x1) e São Caetano (2x0), de São Paulo. Nos bastidores, correm negociações para manter algumas das revelações em clubes brasileiros. É justamente este o objetivo do Pérolas Negras no Brasil: destacar talentos entre os 23 integrantes do elenco para tentar uma carreira como profissional. Mas por quê aqui? A Academia de Futebol Pérolas Negras, apesar de ficar na capital haitiana, Porto Príncipe, é mantida pela organização social brasileira
Viva Rio. A entidade está presente no Haiti desde 2004, depois de convite da
ONU para ações de integração social da juventude no país — uma delas, o incentivo ao esporte. O projeto foi criado em 2008, mas inaugurado apenas em julho de 2011, por conta dos efeitos do terremoto que atingiu o país em 2010. Alguns dos jovens atletas, inclusive, perderam parentes no desastre. “O futebol de rua é algo muito forte por lá. Há campeonatos com torcida”, diz Rubem Cesar Fernandes, diretor executivo da organização social Viva Rio e porta-voz que acompanha o projeto desde o início. “Mas para participar do desenvolvimento do país, resolvemos que deveríamos investir no esporte. Conseguimos patrocínio do empresário George Soros e partimos para construção da Academia.” Atualmente são cerca de 70 jovens abrigados, escolhidos por “peneira” de seleção para as categorias sub 12 a sub 17. Estes que disputam a Copinha são da primeira geração de atletas formados no Haiti. Os jovens passam por dois treinos diários, das 6h às 10h30 e das 16h às 19h, em troca de estudo no meio tempo. Aos atletas, é oferecida uma estrutura de educação e ensino diferenciados para as condições normais do Haiti, país que marca o pior índice de desenvolvimento humano das Américas (
IDH de 0,483 para 2014, segundo a ONU). "Como no Brasil, a maioria vem de origem mais pobre. Mas no Haiti a situação é muito mais radical, em especial depois do terremoto", afirma Fernandes. "Estar na academia é uma oportunidade de fazer uma carreira no futebol, mas também de ter uma formação educacional excepcional para estes meninos." O despertar de interesse de clubes brasileiros gerou sentimento de sucesso dentro da Viva Rio. Tanto, que a organização está com os trâmites em curso para abrir um time no Brasil, misturando revelações brasileiras e haitianas para disputar a 3ª divisão do Campeonato Carioca profissional. A unidade no Haiti pretende agora garimpar os melhores talentos em escala nacional e mandá-los para “sucursal” brasileira para disputar campeonatos já este ano. Segundo Fernandes, até o meio do ano, uma nova temporada de testes deve ser realizada. Veja na galeria algumas fotos da equipe em partida contra o América Mineiro, na última terça-feira (5).