Brasil

Perda de grau de investimento pode mesmo derrubar Dilma?

De acordo com a consultoria Tendências, risco de impeachment está em 30%. Para analistas, rebaixamento só agrava cenário


	Dilma durante desfile de 7 de setembro de 2015: mais enfraquecida após rebaixamento
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Dilma durante desfile de 7 de setembro de 2015: mais enfraquecida após rebaixamento (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 14 de setembro de 2015 às 11h40.

São Paulo – Apelo da presidente para que reformas saiam do plano das ideias chega tarde. É o que afirmam analistas ouvidos por EXAME.com um dia depois que a Standard & Poor´s tirou o selo que conferia ao Brasil o título de bom pagador desde 2008.

Durante reunião de emergência para analisar o caso, Dilma Rousseff pediu agilidade na concretização de medidas que revertam o quadro.

A expectativa era de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciasse os primeiros cortes no Orçamento ainda nesta quinta-feira – no entanto, ele afirmou em entrevista que isso deve ser feito até o final do mês.

Apesar dos esforços das últimas horas, especialistas afirmam que a perspectiva não é positiva para a presidente. Dilma Rousseff – que já estava na corda bamba – deve ficar mais encurralada.

“O rol de escolhas políticas do governo para responder à crise fiscal diminuiu”, afirma Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências. 

Para colocar a economia brasileira de volta nos trilhos, o governo precisa atuar basicamente em duas linhas de ação: aumento de receitas e cortes de gastos. Medidas que, na prática, dependem de uma consistente base de apoio e margem para insatisfação popular – fatores que estão em falta na rede de proteção de presidente há um bom tempo. 

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em entrevista coletiva nesta quinta-feira: saídas para crise não são fáceis  (Agência Brasil)

Mais lenha para o impeachment?

A oposição, por outro lado, ganhou munição extra para o plano de abrir um processo de impeachment contra a petista. De acordo com a consultoria Tendências, risco de afastamento da presidente já está em 30%.

“Dilma tem sido cozinhada há um bom tempo. A perda do grau de investimento é um ingrediente a mais nesse caldo. Os atores começam agora a aumentar a fervura”, afirma Rodrigo Augusto Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Contudo, o corte na nota de crédito não é um fato válido para o início de um processo de deposição do chefe do poder Executivo.

Para que o pedido de abertura de impeachment tenha consistência, devem existir evidências de que o governante cometeu algum crime comum (como homicídio ou roubo) ou crime de responsabilidade – que envolve desde improbidade administrativa até atos que coloquem em risco a segurança do país. 

O relatório da S&P não dá margem para nenhuma dessas abordagens, mas, ao responsabilizar Dilma pelo rebaixamento, acentua a espiral de fragilidade que a persegue desde o início do segundo mandato.

“A nota da S&P é uma bomba no sentido em que mostra a incapacidade da presidente de gerir uma crise como essa”, afirma Renato Mendes, sócio-diretor da consultoria Prospectiva.

O ponto agora é em que medida a sociedade irá apostar na hipótese de que tirar Dilma Rousseff do poder terá efeitos positivos para a economia.

“Isso ainda não está claro, por que a crise que o Brasil está passando é estrutural. De algum lado, vai ter que cortar ou ampliar a arrecadação”, diz o cientista político Wagner Romão, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas o professor nota que a solução para esse dilema não tomará corpo sem um governo “capaz de contornar e unir as pressões dos vários lados”, afirma. Algo que até o presente momento a presidente não conseguiu fazer. 

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffGoverno DilmaPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Brasil

Denúncia da PGR contra Bolsonaro apresenta ‘aparente articulação para golpe de Estado’, diz Barroso

Mudança em lei de concessões está próxima de ser fechada com o Congresso, diz Haddad

Governo de São Paulo inicia extinção da EMTU

Dilma Rousseff é internada em Xangai após mal-estar