Brasil

Pela 1ª vez na história, presidente coloca militar na Defesa

Com a nomeação do general Joaquim Silva e Luna para o ministério, Temer quebrou uma tradição desde a criação da pasta, em 1999

Raul Jungmann e  Joaquim Silva e Luna (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Raul Jungmann e Joaquim Silva e Luna (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de fevereiro de 2018 às 10h19.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2018 às 10h22.

Brasília - O governo anunciou nesta segunda-feira, 26, o general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna como novo ministro da Defesa. Ele substituirá Raul Jungmann, deslocado para o recém-criado Ministério Extraordinário da Segurança Pública.

Com a nomeação de Silva e Luna, o presidente Michel Temer quebrou uma tradição desde a criação da pasta, em 1999, colocando pela primeira vez um militar no comando da Defesa. A escolha de Jungmann e de Silva e Luna foi antecipada pela Coluna do Estadão.

Apesar de o porta-voz do Palácio do Planalto, Alexandre Parola, ter anunciado que o general do Exército assume o cargo interinamente, o jornal O Estado de S. Paulo apurou que a intenção do presidente é mantê-lo no posto até o fim do seu mandato.

A escolha de Silva e Luna foi defendida pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen. Ele já era uma espécie de "braço direito" de Jungmann, como secretário-geral do Ministério da Defesa.

"O nome disso é continuidade. Decidiu-se pela continuidade e por quem tem proximidade com o ministro da Segurança Pública para alinhar os esforços, facilitando todas as ligações e contatos para as ações de segurança que vão continuar acontecendo daqui para a frente. Só isso", disse o ministro do GSI.

Etchegoyen admitiu que a escolha de um militar para o comanda da Defesa pode ser alvo de críticas, mas, segundo ele, houve um "consenso" das demais Forças em relação à escolha de Silva e Luna. "O problema que tem hoje é que todo mundo é candidato a alguma coisa e, neste cenário, valeu mais a continuidade", afirmou o ministro do GSI.

Além do bom trânsito nas Forças Armadas, contou a favor de Silva e Luna a experiência na pasta e o fato de ser um general da reserva. A maioria dos oficiais-generais consultados pela reportagem afirmou considerar a decisão como "uma necessidade transitória e temporária".

Na segunda, durante evento em Porto Alegre, Etchegoyen declarou que a escolha de Silva e Luna não causa "desconforto" na Marinha e à Aeronáutica. "Eu acho que a gente deve subir um pouquinho este debate para um nível mais adequado, porque tudo tem uma razão para colocar a responsabilidade ou a culpa nas Forças Armadas. Qual é o problema das Forças Armadas? É ter prestígio? Seria esse o problema? Honestamente, não vejo isso porque os militares são disciplinados", disse.

Na Marinha e na Aeronáutica, no entanto, há ressalvas à situação. A avaliação de alguns oficiais é de que o ideal seria tanto o cargo de ministro da Defesa quanto o de secretário-geral serem ocupados exclusivamente por civis.

Estes mesmos oficiais lembraram que a escolha traz de volta a discussão que existia no antigo Estado-Maior das Forças Armadas, órgão que precedeu o Ministério da Defesa, em que integrantes do Exército tiveram protagonismo em relação a representantes das outras forças.

Segurança Pública

O governo anunciou nesta segunda-feira que criará o Ministério da Segurança Pública por meio de medida provisória. Tanto o texto da MP como a escolha de Silva e Luna para a Defesa foram fechados em reunião na noite de domingo, no Palácio do Jaburu, entre Temer e quatro ministros. Na semana passada, o presidente chegou a estudar criar a pasta via decreto, o que, segundo fontes do Planalto, evitaria a necessidade de apoio do Congresso.

O presidente convocou para quinta-feira, às 11h, no Planalto, uma reunião com governadores para falar sobre combate à violência já com Jungmann como titular da recém-criada pasta.

Foram convidados todos os governadores do País. Além de Jungmann, vão participar do encontro os ministros Torquato Jardim (Justiça), Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Etchegoyen, Silva e Luna, líderes no Congresso e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).

Para viabilizar o funcionamento do novo ministério, o governo vai criar pelo menos nove cargos de assessoria, além de fazer o remanejamento de servidores da Justiça para a pasta. O Ministério da Segurança Pública abrigará Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e Secretaria de Segurança Pública (inclui a Força Nacional).

Perfil

O general-engenheiro Joaquim Silva e Luna, de 69 anos, é considerado de perfil técnico. Está no ministério há quatro anos, levado pelo então ministro petista Celso Amorim, e exercia a função de secretário-geral na gestão de Raul Jungmann.

Por sua experiência no cargo, uma espécie de número dois da pasta, Silva e Luna tem bom trânsito tanto entre civis que atuam na área como entre integrantes das Forças Armadas. Disse a pessoas próximas não se incomodar com possíveis críticas por ser o primeiro militar a ocupar o posto e, nas conversas que manteve, refutou a tese de militarização da pasta.

Já criticou o emprego excessivo das Forças em ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), mas, em avaliações internas, diz considerar que em algumas ocasiões, como no Rio, a intervenção dos militares é "inevitável".

Filho de agricultores da pequena Barreiros, em Pernambuco, formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1969, ainda durante o regime militar no País, e foi declarado aspirante-a-oficial de Engenharia dezembro de 1972.

Silva e Luna já foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2013, por irregularidades em um convênio assinado entre o Exército e entidades sem fins lucrativos para os Jogos Mundiais Militares em 2011. O general afirmou que o recurso da defesa foi aceito pelo tribunal, e o processo, arquivado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ExércitoGoverno TemerMichel TemerMinistério da DefesaRio de Janeiro

Mais de Brasil

STF tem maioria para rejeitar revisão da vida toda do INSS

Acidente grave com BRT deixa mais de 60 feridos no Rio de janeiro

X cumpre ordem de Moraes e indica ao STF novo representante legal no Brasil

Quando é o próximo debate para prefeito de SP? Veja data, horário e como assistir ao vivo