Barack Obama na Casa Branca: presidente não deve anunciar apoio ao Brasil no Conselho de Segurança (Win McNamee/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2011 às 16h35.
São Paulo - Apesar do déficit brasileiro de US$ 7,7 bilhões nas trocas comerciais com os Estados Unidos no ano passado, não é realista que o País aproveite a visita do presidente norte-americano Barack Obama para buscar contrapartidas. A avaliação é do professor de Relações Internacionais Antônio Jorge Ramalho, da Universidade de Brasília (UnB).
"Não seria realista" exigir contrapartidas, afirmou Ramalho, por e-mail, ao ser questionado sobre o déficit brasileiro na relação comercial com os EUA, segundo dados do governo nacional. "O Brasil pode aproveitar a ocasião para denunciar subsídios em setores específicos e pedir compensações", explicou o professor. "Mas as razões pelas quais os EUA tiveram superávits são estruturais: relacionam-se mais com a apreciação do real (e depreciação do dólar) e com a maior competitividade da economia americana, do que com políticas públicas específicas".
Segundo Ramalho, o "foco imediato" da visita de dois dias de Obama ao Brasil é econômico, mas há também importantes interesses de longo prazo, "especialmente com relação à estabilidade regional e o papel do Brasil como um líder emergente que compartilha valores e interesses com os EUA no plano global".
"O presidente Obama quer realçar a maior atenção que pretende dar à região, à medida que os EUA se desengajem dos conflitos em que estão envolvidos no Oriente Médio e na Ásia", acredita Ramalho. Além disso, o especialista cita interesses de longo prazo de Washington, com relação à estabilidade regional, por exemplo, e também a busca de mais cooperação no "campo tecnológico e policial".
ONU
Há a expectativa no Brasil sobre a possibilidade de Obama declarar apoio à campanha brasileira por uma vaga permanente no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), uma antiga demanda do País. "Dificilmente o presidente Obama faria semelhante afirmação agora", diz Ramalho. "Não há nada a ganhar do ponto de vista dos EUA e há algo a perder, especialmente pelo que isso significaria para outros países da região". Ramalho diz que não há "no horizonte previsível condições para se realizar uma reforma" do CS. "Quando o assunto se colocar, os EUA negociarão seu apoio, que tenderá a vir de qualquer maneira", diz.
A embaixada norte-americana em Brasília informou hoje que o discurso de Obama previsto para domingo no Theatro Municipal do Rio não será mais um evento público e ficará restrito a convidados. Para Ramalho, o foco do discurso será "melhorar a imagem dos EUA na região e comunicar à sociedade brasileira que temos mais em comum do que geralmente se reconhece".