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Parentes de vítimas reclamam de sumiço de pertences

Pertences de envolvidos no acidente com o ônibus que caiu na avenida Brasil, no Rio de Janeiro, na terça-feira não são encontrados por quem vai buscá-los no DP

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 23h03.

Rio de Janeiro - Não bastasse ter perdido a única irmã no acidente do ônibus da linha 328, que matou outras seis pessoas, na última terça-feira, na zona norte do Rio, a vendedora Adriana Chagas da Silva, de 29 anos, se deparou nesta quinta-feira com outra surpresa desagradável: ao buscar na 21ª DP (Bonsucesso) a bolsa de Luciana Chagas da Silva, de 23, não encontrou o celular nem o dinheiro dela. "Não sei quem fez isso. Só sei que é uma falta de respeito com o cidadão, ainda mais numa situação como essa. Só encontrei a maquiagem e dois cartões de banco da minha irmã. Ela estava sem a identidade porque havia perdido e ia pegar uma segunda via nos próximos dias", contou Adriana, que também perdeu a mãe em dezembro, de causas naturais. "Morávamos nós três e meu filho de 2 anos na mesma casa. Agora somos só eu e ele. Preciso ser forte porque tenho um filho pequeno para criar, mas está difícil".

Segundo a vendedora, a Paranapuan, empresa proprietária do ônibus envolvido no episódio, ainda não fez qualquer contato. O sepultamento de Luciana foi custeado pelo supermercado onde ela era operadora de caixa, na Ilha do Governador. "Quem pagou o enterro da minha irmã foi a empresa onde ela trabalhava, e não a que causou o acidente. Depois que essa confusão baixar, vou processar a Paranapuan. Não podemos ser tratados dessa forma".

Ex-mulher de André Luiz da Silva Oliveira, de 33 anos, motorista do coletivo envolvido no acidente, a cabeleireira Francilene Santos, de 40, também enfrentou o mesmo problema ao procurar os pertences dele, que permanece internado com fratura no fêmur. "Vi nas imagens que, no momento em que André estava no chão, usava um relógio que eu mesma o presenteei. Fui visitá-lo na terça-feira e hoje (quinta) no hospital, mas o relógio sumiu. Ele também estava com celular, dinheiro e documentos, mas na delegacia não tinha nada".

De acordo com a cabeleireira, a Paranapuan fez contato apenas para informar o hospital onde André estava. "Preciso tirar cópias dos documentos dele na empresa, mas só dizem que o responsável não está. Se eles tratam assim o próprio funcionário, imagina as vítimas do acidente". A reportagem não conseguiu contato nesta quinta com a empresa.

Processo

A empresa só poderá ser processada na esfera cível pelas vítimas, interessadas em indenizações, já que criminalmente a Polícia Civil concluiu que a Paranapuan não teve qualquer culpa pelo acidente. Isso apesar de o ônibus que despencou do viaduto de dez metros de altura em plena Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade, estar com a vistoria anual obrigatória do Departamento de Trânsito (Detran-RJ) vencida desde 2011. "O acidente não ocorreu em função de um problema mecânico que pudesse ter sido detectado na vistoria. A causa foi a conduta violenta do universitário (Rodrigo dos Santos Freire, de 25 anos, estudante de engenharia da UFRJ) e do motorista", explicou o delegado José Pedro Costa da Silva, de 21ª DP.


Assim como o estudante da UFRJ, o condutor também tem passagem pela polícia por lesão corporal. Em 2011, Francilene acusou Oliveira na 37ª DP (Ilha do Governador) de ter lhe dado um tapa no rosto após ela flagrá-lo conversando com uma namorada pela internet. "A gente se conheceu pela internet. Se deixar, ele passa a vida inteira no computador. Eu já sabia dessas namoradas virtuais, mas na minha frente eu não admito. Quando fui tirar satisfação, me deu um tapa na cara", disse a cabeleireira, que se separou do motorista em janeiro após quatro anos de casamento. Os dois têm uma filha de 2 anos.

Em março deste ano, Francilene fez outro registro na 37ª DP acusando Oliveira de chutar a porta de casa e quebrar uma vidraça. "André foi visitar nossa filha, e quando perguntei sobre o pagamento da pensão da menina, ele se revoltou. Depois de quebrar a porta, me mandou mensagens ameaçadoras pelo celular enquanto eu prestava depoimento na delegacia".

Outros três sobreviventes da tragédia foram ouvidos nesta quinta pela polícia em hospitais. O universitário e o condutor foram indiciados por homicídio doloso por terem assumido o risco de matar, já que discutiram e trocaram agressões físicas com o ônibus em movimento. A polícia vai pedir à Justiça a prisão preventiva de Freire e Oliveira nos próximos dias.

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