Pedro Parente: "Temos a oportunidade de usar a crise para dar uma guinada estrutural na nossa economia e no arcabouço de fazer negócios" (Cláudio Gatti/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2016 às 17h50.
São Paulo - O ex-ministro da Casa Civil e do Planejamento e presidente do conselho de administração da BM&FBovespa, Pedro Parente, considerou difícil prever um desfecho político no Brasil ainda que o país esteja nas vésperas da votação do impeachment na Câmara dos Deputados.
"As dificuldades atuais precisam ser superadas com certas medidas até o final 2016 para que ocorra alguma melhoria na economia ao longo de 2017. Para isso, o Brasil dependerá de uma liderança que implemente uma nova narrativa de País capaz de estimular o reequilíbrio fiscal e econômico e a competitividade", afirmou ele, em evento da Amcham Brasil, nesta tarde de sexta-feira, 15.
De acordo com Parente, é consenso de que as pessoas e agentes econômicos reagem a incentivos, mas, para funcionar, o País precisa ser liberado de amarras atuais e ter condições mais horizontais de competição.
Destacou ainda que já ficou provado, nos últimos anos, que "política de balcão" não funciona.
"O Brasil corre o risco de ter uma nova década perdida. Temos a oportunidade de usar a crise para dar uma guinada estrutural na nossa economia e no arcabouço de fazer negócios", avaliou ele, lembrando que o País precisa usufruir das suas vantagens competitivas.
Parente criticou ainda o fato de os custos de transação serem "muito" altos no Brasil enquanto a confiança está "muito baixa".
Acrescentou que as instituições estão sendo testadas quase no seu limite, com muitas funcionando plenamente e outras com vícios que precisam ser exterminados.
As autoridades que governam o País, na visão do ex-ministro, o colocaram em um ciclo vicioso, cuja trajetória da dívida bruta em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) está "insustentável".
Criticou os juros altos, mas admitiu que, ainda que seja necessário aumento saudável da arrecadação, o País não precisa de elevação de impostos.
Alertou também para a necessidade de reformas não só no curto prazo, mas que reequilibrem a trajetória das finanças públicas.
"A saída é credibilidade e consistência, que permitirão fazer reformas no curto prazo. A agenda de integração global depende de decisões de alto nível e negociações. Não depende de recursos", avaliou Parente, acrescentando que para que o Brasil seja mais competitivo não precisa da revisão da política de comércio exterior.
Para Parente, infraestrutura é muito importante, mas não suficiente. "Não basta construir portos, aeroportos, estradas. Precisamos debater como a logística pode facilitar a agregação de valor no longo prazo, agregação de serviços", concluiu.